Fed deve reduzir em US$ 15 bilhões seu programa de compra de ativos

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O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell / Foto: Fed

São Paulo – O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) deve anunciar uma redução de US$ 15 bilhões nas compras de ativos mensais em sua reunião de política monetária de quarta-feira, indicando uma postura mais restrita como forma de combater o aumento inflacionário, afirmam analistas consultados pela Agência CMA.

Dessa forma, o programa passará a comprar US$ 70 bilhões em títulos do Tesouro norte-americano e US$ 35 bilhões em ativos hipotecários, totalizando US$ 105 bilhões, dos atuais US$ 120 bilhões. A taxa básica de juros, no entanto, deve ser mantida entre zero e 0,25% ao ano.

“O comunicado de setembro observou que ‘uma moderação no ritmo de compras de ativos pode ser acionada em breve’, com [o presidente do Fed, Jerome] Powell confirmando que as autoridades estavam de olho em um anúncio sobre isso em novembro”, afirma o economista sênior para Estados Unidos da Capital Economics, Andrew Hunter.

De acordo com ele, mesmo com o relatório de empregos de setembro indicando uma criação de apenas 194 mil – algo que muitos analistas consideraram decepcionante – o comitê deve seguir com seu plano de iniciar formalmente o chamado tapering.

“Powell afirmou anteriormente que precisava apenas de um relatório ‘decente'”, afirma o vice-presidente do Scotiabank, Derek Holt. “A maioria dos membros acredita mais em um progresso acumulativo em direção à meta de emprego, indicando que não seria necessário algo muito grandioso para convencê-lo a continuar com a redução”, explica.

Segundo o estrategista chefe global da Nordea, Andreas Steno Larsen, o plano do Fed deve ser o de diminuir gradualmente as compras por reduções de US$ 15 bilhões por mês. “Isso encerraria o programa pelo meio de 2022, um pouco antes do que a maioria havia antecipado”, disse ele.

Os analistas concordam também que uma preocupação maior com a pressão inflacionária deve ser expressa pelo banco. “Embora as comunicações do Fed tenham enfatizado que não há uma ligação automática entre o fim das compras de ativos e o eventual momento do aumento das taxas de juros, alguns funcionários começaram a falar abertamente sobre a possibilidade de aumento das taxas no final do próximo ano”, explica Hunter, da Capital Economics.

As projeções do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) mostraram que alguns dos membros já esperam um aperto monetário mais cedo do que antes, entre o fim de 2022 e o meio de 2023. “No entanto, os últimos dados vêm mostrando uma inflação mais sustentada do que temporária, o que vem preocupando diversos diretores”, afirma Larsen, da Nordea.

O aumento nos preços dos imóveis associado ao rápido crescimento nos salários vem mostrando que a questão não se encontra apenas nos gargalos de entrega e cadeias de insumo como Powell vem repetindo, explica ele.

“Randal Quarles e Christopher Waller alertaram recentemente sobre os riscos de um excesso de inflação mais prolongado em relação à meta de 2%, sugerindo que isso poderia forçar o Fed a apresentar planos para começar aumento das taxas de juros”, diz Hunter, da Capital Economics.

“Nesse ambiente, a afirmação da declaração anterior do Fomc de que o recente aumento da inflação ’em grande parte [reflete] fatores transitórios’ parece cada vez mais insustentável”, concluiu ele, indicando que o Fed deve ajustar sua linguagem na declaração da próxima reunião.