Em véspera de feriado, Bolsa fecha em alta após discurso de Jair Bolsonaro; dólar recua

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São Paulo – Em véspera de feriado aqui, a Bolsa fechou em alta em dia de pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro, após 40 horas de silêncio. Os investidores esperavam uma sinalização mais enfática de Bolsonaro a seus apoiadores para a interrupção dos bloqueios nas estradas do País, e não aconteceu. No entanto, a transição de governo deve se dar com tranquilidade.

A valorização das commodities metálicas também ajudaram o movimento positivo do Ibovespa devido à alta do minério de ferro e à notícia de que a China poderia deixar a política de tolerância de covid zero.

Amanhã, é dia de decisão de política monetária nos Estados Unidos. O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) deve elevar os juros para 0,75 ponto percentual (pp), conforme o consenso do mercado, mas os agentes financeiros esperam pelo comunicado.

As ações da Vale (VALE3) subiram 3,03%. Usiminas (USIM5) avançou 3,87% e CSN (CSNA3) ganhou de 4,64%. CSN Mineração (CMIN3) aumentou 6,67%.

O principal índice da B3 subiu 0,76%, aos 116.928,66 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro avançou 0,80%, aos 118.360 pontos. O giro financeiro foi de R$ 35,4 bilhões. Em NY, as bolsas fecharam em queda.

Nicolas Farto, especialista em renda variável da Renova Invest, disse que a Bolsa subiu bem após o anúncio de que Bolsonaro faria um discurso e a expectativa era para um pronunciamento mais apaziguador para os apoiadores deixarem de fazer os protestos.

“O discurso foi curto e não foi enfático para pedir aos apoiadores que os bloqueios parassem, por isso o mercado voltou um pouco. A mensagem que ficou é que ele deve fazer a transição de governo, conforme confirmou Ciro Nogueira [ministro da Casa Civil], sem quebra de instituição.”

Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed, disse que a Bolsa sobe com o investidor estrangeiro animado com a vitória do Lula e com “o destaque positivo das commodities metálicas refletindo a notícia de que a China estaria projetando plano de covid zero reduzindo os lockdowns”.

Um head de renda variável de uma corretora que não quis se identificar disse que a sessão é volátil, mas a Bolsa sobe puxada pela Vale e siderúrgicas “com a valorização do minério de ferro e o anúncio feito pela Vale de um acordo pra fazer uma construção nos Emirados Árabes, visando uma produção mais sustentável também ajudou”. A mineradora também é beneficiada com a notícia de que a China poderia amenizar as medidas de restrições em relação à covid.

Mas, o head de renda variável ressaltou que o momento é de cautela tanto aqui como os Estados Unidos em meio ao “cenário de eleições e como o Fed vai falar sobre os próximos movimentos da política monetária”. É consenso de que a autoridade monetária eleve a taxa de juros em 0,75 ponto percentual (pp) para uma banda entre 3,75%-4,0%.

O analista ainda acrescentou que o mercado espera pelo pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro sobre o resultado das eleições em meio aos bloqueios em estradas do País. “O silêncio de Bolsonaro preocupa e o ideal seria um discurso reconhecendo a derrota para evitar problemas futuros pois vemos os caminhoneiros fechando as rodovias; a falta de informação leva e especulações”.

O dólar comercial fechou em queda de 1,0%, cotado a R$ 5,1120. A moeda refletiu durante toda a sessão o alívio da atmosfera política doméstica, o que tende a atrair mais investidores estrangeiros.

Segundo o sócio da Top Gain Leonardo Santana, “estamos descolados lá de fora, com o alívio após as eleições. O dólar tem espaço para chegar em R$ 5,00”.

Santana avalia o próximo presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como muito bem articulado, o que pode aumentar o investimento externo, mas faz uma ressalva: “A única dúvida é a questão fiscal”, aponta.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “estamos vendo o resultado de uma descompressão política aqui. O (presidente, Jair) Bolsonaro está isolado, e isso precifica um cenário mais tranquilo”.

“Aumenta a percepção que a gente pode voltar a ser atrativo para o investidor, com a chegada de fundos estrangeiros. Isso tem a ver com a sinalização de que haverá mais comprometimento com a questão ambiental”, contextualiza Borsoi.

O economista vê o dólar perdendo força no mundo todo, e que isso reflete as expectativas que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) seja menos hawkish (duro, propenso ao aumento dos juros) a partir da reunião de dezembro.

De acordo com o boletim da Ajax Asset, “lá fora, juros dos Treasury Bonds (título do Tesouro dos Estados Unidos) recuam, bem como o dólar. Há a expectativa de que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) irá dar algum sinal de desaceleração da alta dos juros. Ao mesmo tempo, possibilidade de flexibilização da política de Covid-19 na China também impactam positivamente nas bolsas”.

A Ajax entende que os investidores estão à espera da definição da equipe econômica do próximo governo: “As expectativas são por nomes de fora do PT e que inspirem confiança junto ao mercado”, diz.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda neste início de tarde, acompanhando os Treasuries dos Estados Unidos, que estão em queda, com expectativa de desaceleração na alta de juros pelo Fed (o banco central norte-americano).

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,672% de 13,672% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,920%, de 12,915%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,695%, de 11,705% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,480% de 11,490%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em queda, à medida que o mercado de trabalho do país continua aquecido e os investidores já avaliam um novo aumento na taxa básica de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) na reunião que se encerra amanhã.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,24%, 32.653,20 pontos
Nasdaq 100: -0,89%, 10.890,8 pontos
S&P 500: -0,41%, 3.856,10 pontos

Com Paulo Holland, Dylan Della Pasqua e Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA.