Em dia volátil, Bolsa sobe e dólar cai com dados positivos

346

São Paulo – Em dia de forte volatilidade entre perdas e ganhos, perto do fechamento a Bolsa firmou em terreno positivo e encerrou a sessão em alta de 0,40%, aos 121.193,75 pontos, puxada pela melhora das ações do setor bancário. Os investidores repercutiram os balanços corporativos, a maioria acima das expectativas do mercado. Mas os problemas internos com a política e os riscos fiscais ficaram no radar do investidor.

Cássio Bambirra, sócio da One Investimetos, comentou que as empresas vêm reportando balanços  acima das expectativas do mercado com melhora consistente da margem ebitda, mas reforçou que “essa conjuntura política tem atrapalhado a retomada do Ibovespa em relação ao teto de gastos e política”. E acrescentou que “os ganhos anuais estão sendo devolvidos”.

Bambirra afirmou que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos precatórios preocupa o mercado. “Os estrangeiros compram muitos precatórios e se houver flexibilização dos pagamentos pode trazer insegurança jurídica e fuga de forte de capital”, concluiu.

Hoje, em entrevista à rádio Jovem Pan, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a PEC foi feita para que se cumpra o acordo fiscal. “A PEC dos precatórios foi feita para cumprir o acordo fiscal, para cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal dando previsibilidade, ao contrário do que foi feito por ministros anteriores. Fizemos o que tinha que ser feito para controlar as despesas”, afirmou.

Para Aldo Filho, analista de investimentos da Aware Investments, o dia é de aversão ao risco “com os balanços corporativos positivos ofuscados e a Bolsa está descolada do exterior devido a ruídos políticos por aqui, novos cálculos da Receita Federal sugerindo que a reforma tributária pode gerar perdas na arrecadação, incertezas sobre sustentabilidade das contas públicas frente a uma perspectiva de política fiscal expansionista em ano pré-eleitoral”.

Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos, comentou que a Bolsa apresenta instabilidade em uma sessão movimentada por balanços corporativos. “O Indice de Atividade Econômica chegou a animar os investidores, mas a identificação de ataques de Jair Bolsonaro às urnas eletrônicas e ao STF [Supremo Tribunal Federal] na live de ontem continua mantendo o ambiente político tenso”.

O analista da Terra Investimentos destacou a queda das ações do Magazine Luiza (MGLU 3)- de mais de 3%-, apesar de apontar crescimento de 62% da receita líquida para R$ 9,01 bilhões, superando as estimativas. “Foi a primeira queda  em três dias”.

Para o analista  Leonardo Santana, da Top Gain, o mau humor na Bolsa é por conta do “risco fiscal, barulho político e briga de poderes”. Santana não acredita que esse mudará ao longo do dia. “O investidor estrangeiro tem muita desconfiança com esse ambiente conturbado”.

Mais cedo, o  resultado do Indice de Atividade Econômica (IBC-Br)  do Banco Central ajudou o movimento positivo da Bolsa. O IBC-Br subiu 1,14% em junho na comparação com maio, atingindo 140, 58 pontos, o maior nível desde 2019. O indicador é uma prévia mensal do Produto Interno Bruto (PIB). O resultado saiu acima da mediana das estimativas calculada pelo Termômetro CMA, de + 0,50%.

Por aqui, foi adiada a votação da reforma tributária que promove alterações no Imposto de Renda (IR) para a próxima terça-feira(17) e acabou repercutindo mal no mercado.  O relator da proposta, Celso Sabino (PSDB-PA), voltou a fazer novos ajustes no texto.

Os investidores seguem com as atenções em relação à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios.

No final da tarde de ontem, após o fechamento do mercado, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, determinou a abertura de um inquérito atendendo um pedido do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para apurar se o presidente Jair Bolsonaro cometeu crime no vazamento de uma investigação sigilosa da Polícia Federal sobre ataques no sistema da Corte.

O dólar comercial fechou queda de 0,19%, negociado a R$ 5,2460 para venda. As preocupações sobre os rumos da política fiscal ainda estão no radar, mas por ora o discurso do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o bom resultado do Indice de Atividade Econômica (IBC-Br) do Banco Central mantiveram a moeda norte-americana em baixa.

De acordo com o analista da Toro Investimentos, Túlio Nunes, “no médio prazo, enquanto a situação política não melhorar, assim como a aprovação das reformas e o governo mostrar que o teto será respeitado, o cenário permanecerá sem mudanças”.

Nunes considera que este movimento está muito mais ligado a uma desvalorização global do dólar do que propriamente uma valorização do real, e pondera: “Mesmo com todas as ações do Banco Central, os investidores estão preocupados com o risco-país”. “A economia está sendo tratada como prioridade?”, questiona.

Segundo fonte ouvida pela CMA, o “mercado está muito preocupado com o fiscal. Apesar do Banco Central reafirmar o compromisso em cumprir as metas, a situação é preocupante. O enfraquecimento do ministro Paulo Guedes também é nítido”.

Campos Neto afirmou que é importante o Brasil passar credibilidade fiscal, e que sem o controle fiscal, o BC sozinho não conseguiria segurar a inflação.

O mandatário da autoridade monetária brasileira afirmou ainda que a venda das reservas cambiais não garantem uma mudança na direção do câmbio. Campos Neto fez discurso durante um evento promovido pela Folha Vitória.

O índice de confiança do consumidor dos Estados Unidos, medido pela Universidade de Michigan e pela Thomson Reuters, caiu para 70,2 pontos em agosto, depois dos 81,2 pontos de julho, de acordo com dados preliminares. Analistas esperavam 81,3 pontos.

Segundo o trader da Quantitas, Lucas Monteiro, “o mercado ainda está em busca de um ponto de acomodação, onde oferta e demanda se equilibram. Enquanto as boas notícias não vierem, essa tendência não irá mudar”.

“Continuam a pesar os riscos fiscais, a aprovação da reforma tributária, votações continuam sendo postergadas, entre outras coisas”, analisa Monteiro.

O IBC-Br do Banco Central subiu 1,14% em junho ante maio, enquanto a  previsão de analistas ouvidos pelo Termômetro CMA era alta de 0,5%. Segundo o estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno, “o IBC-Br ajuda a dar um suporte para o real e mitigar um pouco o efeito das preocupações com as contas do governo”.

Ele acrescentou que o mercado também espera a divulgação do índice de confiança do consumidor dos Estados Unidos previsto para as 11h. “Isso pode dar mais força ao dólar ao longo do dia”, disse Rostagno.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em forte alta, perto das máximas da sessão, depois de o Banco Central (BC) ter divulgado os números do IBC-Br de junho, dando continuidade a um movimento de abertura na curva a termo que tem se acentuado no decorrer das últimas semanas em meio a um cenário de persistentes incertezas fiscais e políticas que vem atrapalhando o desempenho dos ativos locais.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 apresentava taxa de 6,625%, de 6,580% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 8,34%, de 8,29; o DI para janeiro de 2025 ia a 9,40%, de 9,29% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 9,82%, de 9,68%, na mesma comparação.

Mais uma rodada de fortes resultados trimestrais das empresas ajudou os principais índices do mercado de ações norte-americano a encerrarem o dia em alta, com Dow Jones e o S&P 500 renovando recorde no fechamento, mesmo com a disseminação da variante Delta do coronavírus ameaçando diminuir um pouco a velocidade da recuperação econômica.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,04%, 35.515,38 pontos

Nasdaq Composto: +0,04%, 14.822,90 pontos

S&P 500: +0,16%, 4.468,00 pontos