Em dia de baixa liquidez, Bolsa ignora exterior positivo e fecha em queda com incertezas sobre arcabouço fiscal

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São Paulo- A Bolsa fechou no vermelho em dia de baixa liquidez, ignorando o respiro no exterior, com os investidores na expectativa do novo arcabouço fiscal e com as atenções voltadas para as decisões de política monetária aqui e nos Estados Unidos, na quarta-feira (22).

O mercado aposta na manutenção da Selic em 13,75% ao ano (aa) e uma sinalização de corte para a reunião de maio e nos Estados Unidos em uma elevação de 0,25 ponto porcentual (pp).

As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) caíram forte na sessão de hoje 2,35% e 2,46%, apesar de o petróleo ter revertido a perda. As petroleiras também recuaram. A Vale (VALE3) subiu em um movimento de ajuste.

O principal índice da B3 caiu 1,03%, aos 100.922,89 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril baixou 0,88%, aos 101.690 pontos. O giro financeiro foi de R$ 18,9 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta.

Luccas Fiorelli, sócio da HCI Invest, disse que o Ibovespa “aprofundou perdas e apresenta grande volatilidade nos ativos com a indefinição de divulgação do arcabouço fiscal e aliado a cautela do internacional; esta semana ainda tem definição de juros aqui e nos Estados Unidos”.

Marcelo Boragini, sócio e especialista de renda variável da Davos Investimentos, disse que apesar do alívio vendo do exterior com a compra do Credit Suisse pelo UBS, a Bolsa opera em baixa “pelas incertezas em relação ao novo arcabouço fiscal que ainda não foi divulgado e com o mercado no aguardo da Super Quarta [decisão de juros do Fed e do Copom]; aqui a aposta é de manutenção dos juros nos atuais 13,75% ao ano e nos Estados Unidos uma elevação em 0,25 pp, mas uma corrente do mercado acredita na manutenção da taxa por lá”.

Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, disse que o Ibovespa recua com os investidores na expectativa da divulgação do novo marco fiscal e decisão do Copom na quarta (22).

“Existe uma certa apreensão ao tão aguardado arcabouço fiscal, que enfrenta resistência da ala política do governo, e à reunião do Copom, que não deverá mudar a taxa básica [Selic], mas o BC pode vir a sinalizar queda de juros no próximo encontro de maio ou na seguinte [reunião] e pode gerar estresse político e provocar novas correções”.

O analista da Empiricus Research também disse que na sessão de hoje “existe um descolamento considerável do desempenho do Ibovespa e de outros índices e pesos pesados, como Vale e bancos estão impedindo que o dia não seja pior, apesar da queda de Petrobras”.

Spiess também afirmou que o mercado digere a compra do Credit Suisse pelo UBS, mas “ainda há muito a ser debatido e o mercado aguarda a decisão do Fed [banco central norte-americano]; a autoridade monetária deve elevar 0,25 ponto porcentual [no encontro de quarta-feira] e não deve endurecer como nas outras reuniões”.

Segundo um analista de uma corretora de médio porte, a queda da Bolsa está associada a demora do governo na apresentação do arcabouço fiscal, “a expectativa era para o fim de semana”.

O dólar comercial fechou em queda de 0,53%, cotado a R$ 5,2420. Embora a atmosfera nesta segunda tenha apresentado discreta melhora, os próximos dias devem ser marcados por cautela, com as reuniões de Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e Comitê de Política Monetária (Copom) – que começam amanhã -, além da espera por mais novidades sobre o novo arcabouço fiscal.

Segundo o analista da Ouro Preto Investimentos Bruno Komura, “o movimento está em linha com o que vemos lá fora, com o mercado um pouco mais calmo”.

Komura acredita que alguma decisão sobre o arcabouço fiscal deve ficar mais para o final da semana, e que os investidores locais estão à espera disso.

Para o sócio da Ethimos Investimentos Lucas Brigato, “saímos de uma sexta bem complicada para uma segunda que acordou mais tranquila, ao menos para o Credit Suisse. O mercado deu uma aliviada”.

Brigato entende que a postura do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem sido pró-mercado, o que é tido como algo positivo.

De acordo com o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, “a semana com decisões de juros do Copom e Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) começa com a ação coordenada de bancos centrais para evitar a contaminação sistêmica”.

Vieira faz críticas à ajuda aos bancos, mas pondera: “A inevitabilidade do socorro a tais instituições por parte das autoridades monetárias cria um conforto em parte do sistema e pretende evitar que o conjunto econômico se torne inviável”, comparando a situação com a crise de 2008.

O economista ainda fala sobre a queda de braço entre a alas política e econômica do Governo, o que faz com que nenhum anúncio tenha sido feito e gera dúvidas no mercado.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam mistas, no aguardo de novas informações acerca do novo arcabouço fiscal e crise se agravando no exterior.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,985% de 12,965% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 12,085%, 12,060%, o DI para janeiro de 2026 ia a 12,200%, de 12,185%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,445% de 12,455% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em alta, à medida que os investidores ficaram esperançosos de que os riscos de uma crise no setor bancário poderiam estar diminuindo. Os ganhos firmaram após a notícia da aquisição do Credit Suisse pelo UBS projetada pelo governo suíço.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +1,20%, 32.244,58 pontos
Nasdaq 100: +0,39%, 11.675,5 pontos
S&P 500: +0,89%, 3.951,57 pontos

 

Com Paulo Holland,  Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA