Disputa acirrada entre Biden e Trump e como o mundo vê as eleições dos EUA

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Com as eleições presidenciais dos Estados Unidos se aproximando e a disputa entre Joe Biden e o ex-presidente Donald Trump ainda incerta, o economista da Kinea Investimentos, André Diniz, comenta sobre as perspectivas de uma possível vitória do republicano, hoje liderando por ligeira margem as pesquisas.

Diniz explica que, apesar da diferença entre os democratas e os republicanos na política fiscal, o orçamento não deve alterar tanto uma vez que, em caso de vitória para Trump.
“Em termos de gastos, o Trump não deve seguir uma política expansionista para além dos gastos em defesa. “O que vimos sobre Biden foi uma expansão para fora desses gastos, o que não deve continuar”, afirma Diniz, ponderando que os republicanos são favoráveis ao corte de impostos. “No limite, o orçamento não deve mudar muito: Biden seria mais gastos e o Trump menos impostos, com o equilíbrio se mantendo”.

Ao comentar sobre o impacto nos mercados em meio ao burburinho político prévio às eleições, o economista explica que ainda é cedo para precificar essas mudanças, uma vez que as prévias deste ano já são quase um ‘jogo de cartas’ marcadas, devido ao favoritismo amplo de Trump pelos Republicanos e a reeleição de Biden pelos Democratas.

“A discussão econômica hoje é se o Federal Reserve começa a cortar juros e quando começa. Até que a gente tenha essa questão mais clara, a eleição fica em segundo plano”, explica Diniz. “Hoje não há incertezas sobre quem seria o candidato republicano e isso também tira o impacto das eleições no mercado atualmente”.

Meio ambiente, imigração e saúde são pontos de divergência

Há diferenças marcantes entre como os dois candidatos veem alguns aspectos da política norte-americana. O quesito meio ambiente mostra algumas delas. “Trump, como presidente, retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris e promoveu políticas hostis ao clima, enquanto Biden tem apoiado a inovação climática e promulgou políticas de integridade científica “, diz Alexander Barron, cientista ambiental do Smith College em Northampton, Massachusetts, que trabalhou sob Biden e o ex-presidente, Barack Obama.

O assunto imigração também divide opiniões. Durante seu mandato, Trump implementou vetos de viagem que afetaram cidadãos de países muçulmanos, causando controvérsias e problemas para estudantes e cientistas estrangeiros. Por outro lado, Biden reverteu rapidamente esses vetos após assumir o cargo e implementou reformas para facilitar a imigração de profissionais, incluindo cientistas.
Os candidatos também diferem em suas abordagens para investir na saúde pública. Enquanto Trump tentou cortar o orçamento dos Institutos Nacionais de Saúde sem sucesso, Biden lançou o Projeto de Pesquisa Avançada de US$ 2,5 bilhões para a Saúde, visando pesquisas biomédicas de alto risco e alto retorno.

Além disso, desde a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos em 2022 que encerrou os direitos de aborto em todo o país, essa questão se tornou crucial para os eleitores. Trump defende uma proibição nacional de abortos após 16 semanas, enquanto Biden promete garantir novamente os direitos ao aborto. Ambos os candidatos precisariam de ação do Congresso para cumprir suas promessas, tornando incerto o resultado.

Pesquisas eleitorais mostram cenário acirrado

Ainda faltam muitos meses para as eleições, mas com os dois candidatos atualmente em vigor decididos, a campanha pode começar para valer. No dia 16 de setembro, haverá o primeiro debate presidencial, e no dia 6 de janeiro serão certificados os resultados.

Até lá, pesquisas de opinião trazem resultados que mostram uma corrida acirrada. A mais recente, divulgada na última quinta-feira pela Reuters/Ipsos, mostra Biden à frente de Trump com uma diferença de um ponto: 39% e 38%, com margem de erro de 1,8%. Outra, publicada em 13 de março pelo jornal USA Today em parceria com a Suffolk University, trouxe Trump à frente com 40%, seguido por Biden, com 38%, e margem de erro de 3,1 pontos percentuais. Em ambos os casos, eles estão tecnicamente empatados.

Outra pesquisa, da Universidade Quinnipiac, descobriu que cerca de metade dos republicanos e eleitores com tendência republicana que apoiavam Haley votariam em Trump, enquanto 37% votariam em Biden.

Como o mundo vê as eleições norte-americanas

Uma possível vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos seria uma ameaça à economia europeia, segundo Christine Lagarde, presidente do BCE, em entrevista à CNN no final de janeiro.

“Se olharmos para o que foram aqueles anos em que Trump era presidente dos Estados Unidos… poderia haver ameaças e poderia haver questões para as quais os europeus deveriam estar preparados”, disse. “Devemos nos preparar para potenciais tarifas, para potenciais decisões duras que seriam inesperadas. Sejamos fortes em casa”.

Caso Biden vença, há a possibilidade de que os europeus se juntem a ele em áreas de logística e minerais críticos, para contrabalançar a força crescente da economia chinesa – e poderia até reforçar uma reindustrialização em setores mais sensíveis.

A China está preocupada com as eleições, independente do seu resultado. Biden mantém uma convivência amistosa quando está frente a frente com seu homólogo Xi Jinping – e por trás insiste em abordagens protecionistas contra tecnologias chinesas, além do apoio a Taiwan. Já Trump sobretaxou produtos da China em seu governo, e há o temor que isso se repita.

“Embora a taxação tenha pesado sobre o sentimento dos investidores na altura, pouco fizeram para restringir a economia da China – o país continuou a registar fortes fluxos de investimento estrangeiro direto e desde então ganhou quota de mercado de exportação global”, afirmam Julian Evans-Pritchard e Zichun Huang, analistas da Capital Economics.

No Japão, o governo mostra interesse nas eleições “independentemente de quem vença”. O secretário-chefe do gabinete do governo, Yoshimasa Hayashi, disse no começo deste ano: “Há um entendimento comum sobre a importância da aliança Japão-Estados Unidos, independentemente das linhas partidárias”. Mas, uma pesquisa feita pela agência Reuters com empresas do país mostra que quase metade delas veem como um risco a perspectiva de vitória de Trump. As empresas dizem que estão mais preocupadas com políticas protecionistas. As políticas “América Primeiro” de Trump caracterizaram seu mandato de 2017 a 2021.

Texto de Darlan de Azevedo, Larissa Bernardes, Erika Kamikava e Vanessa Zampronho

Edição: Vanessa Zampronho / Agência CMA