Em dia de forte aversão ao risco, bolsa fecha em queda; Dólar em leve alta

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São Paulo – A Bolsa fechou em forte queda de 2,51%, na marca dos 111 mil pontos, em dia de aversão ao risco global em meio ao conflito no leste europeu com as condições impostas pelo governo russo para cessar a guerra e possibilidade de banir o petróleo e gás natural da Rússia por parte os Estados Unidos e aliados, o que elevou o preço da commodity. 
Somado a isso, as ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) tombaram com o temor do mercado de uma intervenção do governo nos combustíveis da estatal, após falas do presidente Jair Bolsonaro defendendo a revisão da política de paridade internacional para conter a alta. Os papéis fecharam em queda de 7,65% e 7,09%, respectivamente. 
A grande maioria das ações do Ibovespa despencou. A Vale (VALE3), com peso de mais de 15% no índice, manteve-se resiliente e fechou em alta de 3,04%. Outros papéis como Marfrig (MRFG3) e da Suzano (SUZB3) avançaram 1,62% e 1,30%. 
Entre as maiores baixas estão os papéis ligados ao turismo devido à alta do petróleo e crise internacional. As ações das companhias aéreas como Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) despencaram 18,00% e 17,36% e os papéis da CVC (CVCB3) perderam 10,48% 
O principal índice da B3 caiu 2,51%, aos 111.593,46 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril perdia 3,14%, aos 111.965 pontos. O giro financeiro foi de R$ 36,9 bilhões. Em Nova York, as bolsas registraram queda. 
José Costa Gonçalves, analista da Codepe Corretora, comentou que as imposições russas para terminar a guerra impactou negativamente no mercado. “Os investidores acompanham a queda nas bolsas no exterior, após o governo de Putin [Vladimir Putin, presidente da Rússia] colocar à mesa algumas exigências como para que a Ucrânia acabe com a ação miliar, reconheça a Crimea como território russo e as repúblicas separatistas de Donestsk e Lugansk como estados independentes”. 
Gonçalves também afirmou as ações da Petrobras (PETR3 PETR4) têm forte queda devido às discussões sobre os preços dos combustíveis. “Não acredito em uma intervenção, mas poderão discutir sobre os dividendos que a Petrobras paga à União”. Os papéis da estatal baixavam 5,79% e 4,79%. O presidente Jair Bolsonaro tem reunião com o Ministério da Economia e Minas e Energia nesta tarde. 
Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, comentou que a notícia de que Estados Unidos e aliados não querem mais importar o petróleo da Rússia mostra forte aversão ao risco. “Cortar o segundo maior produtor de petróleo do mercado, com certeza, não ia conseguir suprir essa produção [da commodity], e puxou o preço lá para cima”. Ele lembrou que os Estados Unidos contam com a Opep com o aumento da produção de barris e “os americanos começaram a costurar alguma coisa [afrouxar sanções] com a Venezuela e excluir a Rússia”. 
Velloni afirmou que diante de desse cenário de conflito, o Brasil por ser forte em commodities “virou hedge”. A Bolsa tem fôlego para  116 mil e 1117 mil, “acima disso é realização de lucros”. 
O dólar comercial fechou em R$ 5,0790, com alta de 0,01%. A moeda norte-americana foi pressionada, durante toda a sessão, pela forte aversão global ao risco devido ao confronto geopolítico e suas implicações econômicas, e pelo forte fluxo estrangeiro, que continua sendo favorável à moeda brasileira. 
Segundo a equipe da Ouro Preto Investimentos, “este movimento de realocação vai se intensificando, com os ativos de risco continuando a vir para o Brasil, que é um dos países mais beneficiado pela alta das commodities”. 
“O petróleo subindo poderia benéfico para o país, mas a possibilidade de uma intervenção nos preços é muito mal vista pelo mercado”, analisa a Ouro Preto. 
De acordo com o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, “não apenas o Brasil, mas grandes produtores de commodities, como Austrália e África do Sul, estão se beneficiando”. O fluxo estrangeiro, ressalta Vieira, está puxando o dólar para baixo. 
Para a economista e estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli, “alguns países estão considerando banir a importação de petróleo da Rússia, o que fez o preço subir novamente”. 
Quartaroli vê, entretanto, um movimento diferente no Brasil: “O comportamento da nossa moeda tem sido beneficiado pelo preço das commodities”, observa. 
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta com risco inflacionário no radar. O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,090% de 12,975% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 12,810%, de 12,600%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,255%, de 12,000% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,080% de 11,7100%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar com vencimento para janeiro operava de lado, cotado a R$ 5,0770 para venda. 
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam em queda brusca, com o Nasdaq recuando 3,62%, à medida que aumentam os temores de que a guerra entre Rússia e Ucrânia decorra em sanções sobre o petróleo russo e acarreta num aumento ainda maior da inflação. 
Vários relatórios de dados econômicos estão programados para serem divulgados ao longo da próxima semana, incluindo o Indice de Preços ao Consumidor para fevereiro, com vencimento quinta-feira. O indicador-chave deve mostrar que a inflação subiu 7,8% em relação ao ano anterior. 
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento: 
Dow Jones: -2,37%, 32.817,38 pontos 
Nasdaq Composto: -3,62%, 12.831,0 pontos 
S&P 500: -2,95%, 4.201,09 pontos