CSN prevê perspectiva positiva para siderurgia e mineração com China e EUA

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São Paulo – A CSN espera ter um avanço do ebtida e de seu fluxo de caixa e, consequentemente, redução de seu endividamento, com resultados mais fortes na mineração, margens acima de 50%, e sinergias após as aquisições realizadas em cimentos, comentou Marcelo Cunha Ribeiro, CFO e diretor de relações com investidores da CSN, na teleconferência de resultados realizada nesta quinta-feira.

“Vamos buscar o nível de R$ 15 bilhões em caixa líquido ainda no primeiro trimestre, com manutenção da disciplina financeira e perspectiva de bons resultados, preços mais fortes e sinergias”, comentou Marcelo Ribeiro, diretor executivo de finanças da CSN.

O CEO da CSN, Benjamin Steinbruch, reforçou o compromisso com a alavancagem, para que retorne ao nível de 1 a 2 vezes, de 2,2 vezes atuais após as aquisições feitas pelas companhia, e espera poder retomar planos de abrir capital, fechar parceria ou oportunidade de financiamento para acelerar a operação de cimentos.

“2022 poderia ter sido melhor, tivemos dificuldades operacionais já superadas e esperamos ter bons resultados com sinergia e verticalização do cimento e que a gente tenha, junto com a mineração, preços melhores que os previstos. Temos uma perspectiva excelente de resultado no segundo trimestre com a concretização de todos esses esforços. Mesmos com as incertezas políticas e perspectiva de mercado estável, estamos otimistas com a operação, melhores margens e produção completa. Acertamos aquisições e se errarmos pouco, teremos melhores resultados”, disse o CEO, no final da reunião.

A companhia manteve o guidance de investir R$ 4,4 bilhões em 2023, com maiores aportes em mineração e redução em outros segmentos.

Ribeiro disse que a companhia irá buscar um crescimento sustentável, com baixo endividamento, e futuramente poderá voltar a analisar uma expansão orgânica nos Estados Unidos.

Já em relação aos custos, a empresa espera estabilidade no primeiro trimestre (citou US$ 3900 reportado no 4T22) e possível redução desses custos no segundo trimestre, além de esperar melhorias após aquisições de placas, comentou o diretor executivo Luis Fernando Martinez, responsável pelas áreas comerciais e de logística dos segmentos de siderurgia, cimentos e vendas especiais.

Os analistas questionaram a perspectiva de aumento de preços a longo prazo e outros aspectos para tentar entender como a companhia espera enfrentar a pressão sobre os custos persistente que a companhia vem enfrentando.

Para Martinez, o cenário é positivo. Ele citou a projeção do Instituto Aço Brasil (IABr) de crescer 1,5% a 2% este ano, ante queda registrada em 2022. “Então, se a perspectiva é positiva se confirmar, vamos conseguir aumentar os preços.”

“Na China, a projeção é de alta de 5% por reabertura e conclusão de obras vendidas e não finalizadas. Hoje, o aço chinês foi de US$ 530 para US$ 680. Nos EUA, com pleno emprego e plano de infraestrutura do Biden, o preço foi de US$ 691 para US$ 1200 hoje. Só notícias boas! A Turquia também vai precisar de vergalhão para se reconstruir”, detalhou o diretor. “É possível aumentar os preços de 7,5% a 10%, em longos, os prêmios estão negativos. Se a demanda crescer em automotivo, construção civil, linha branca, a partir de abril, conseguimos aumentar os preços em 10%”, detalhou.

Martinez disse que os embarques de aço para os EUA já estão no limite permitido.

No fim de 2022, a companhia teve aumento da dívida líquida devido a consolidação da aquisição da companhia de energia elétrica CEEE-G. Em 31/12/2022, a dívida líquida consolidada atingiu R$ 30.471 milhões, com o indicador de alavancagem medido pela relação Dívida Líquida/EBITDA alcançando 2,2x. Esse aumento da alavancagem é consequência de uma série de desembolsos realizados no período, principalmente os relacionados à aquisição da CEEE-G, como o desembolso de R$ 2,0 bilhões para pagamento da outorga, além da distribuição de dividendos.

A companhia apresentou melhora em diversos indicadores operacionais que resultaram em ebitda ajustado de R$ 1,8 bilhão, citando melhor desempenho de vendas do ano, se beneficiando da retomada da atividade comercial na China e dos melhores preços do minério de ferro. A margem foi de 50,4%.

Em cimentos, a companhia espera ter melhores resultados a partir de sinergias logísticas e custos com as empresas compradas. A CSN também quer aumentar a participação no varejo do Sudeste com a carteira herdada da LarfageHolcim, além de granel e mercado de concreteiras. “Conseguimos recuperar preço em 18% em 2022, apesar da queda do mercado. Vamos buscar aumentar nosso market share, em construção comercial e residencial. Já os custos, vamos conseguir acompanhar a queda do petróleo”, explicou Martinez.

A diretoria da CSN destacou que o quarto trimestre foi marcado pela incorporação integral do resultado da Cimentos Brasil, com aumentos consideráveis de receita e volumes vendidos. Por outro lado, verificou-se também aumentos nos custos de produção e na aquisição de matérias-primas que derrubaram pontualmente as margens da operação.

A receita líquida cresceu 52%, para 1,2 bilhão no 4T21 ante intervalo anterior e R$ 423 milhões no 4T21. A margem ebitda do segmento caiu para 22,4%, de 33,1% no 3T22 e 32,5% no 4T21. O ebtida ajustado avançou para R$ 265 milhões.

A CSN apresentou crescimento de 15% no EBITDA ajustado no 4T22, com aumento de 3,2 p.p. na margem ebitda, atribuído ao forte desempenho alcançado no segmento de mineração “ao combinar melhor desempenho operacional com aumento no preço realizado, mais do que compensou a sazonalidade do período”.

No ano de 2022, entretanto, as pressões nos preços de matérias primas para a produção do aço e a redução média do preço do minério, foram os principais fatores que impactaram o resultado, de R$ 13,8 bilhões, ante R$ 22 bilhões em 2021.

PROJEÇÕES

A CSN reiterou as projeções informadas em dezembro de 2022, com volume de vendas de aço de 4.480Kton em 2022 e de 4.670Kton em 2023; CAPEX de expansão na Mineração de aproximadamente R$ 13,8 bilhões no período de 2023-2027, relativos à fase 1 do projeto de adição de capacidade cash cost da mineração para um patamar entre US$19/ton e US$21/ton em 2023; volume de produção e compras de minérios de terceiros entre 39-41 Mton em 2023; EBITDA no segmento de energia de R$ 23 milhões em 2022; CAPEX Consolidado de R$ 4,4 bilhões em 2023 e no intervalo de R$ 5,5 R$ 6,5 bilhões no período de 2024-2027.

Ações caem após resultado de trimestre mais desafiador para a siderurgia

As ações da CSN e sua controlada CSN Mineração operavam em queda nesta quarta-feira após a apresentação de resultados da companhia. Às 15h44 (horário de Brasília), os papéis CSNA3 e CMIN3 recuavam 6,78% e 3,54% a R$ 16,77 e R$ 4,89.

A Genial Investimentos comentou, em relatório, que o quarto trimestre foi mais desafiador para a siderurgia por quesitos macroeconômicos em diversas geografias, afetando a queda do preço realizado, que somadas as vendas sazonalmente mais fracas no 4T, impediram a divisão de contribuir para um ebitda crescente.

Já a mineração, viram o macro ajudando com o reflexo da reabertura da China no preços realizados, através do mecanismo de precificação provisionada, que mesmo diante de um trimestre onde a curva de referência 62% Fe encolheu na média, apresentou aceleração no último 1/3 do trimestre, bem como também sofreu uma dinâmica positiva do lado de volume, com a venda dos estoques formados no trimestre anterior para recomposição nos portos da China antes das interrupções para o ano novo chinês, que ocorreu em 23 de janeiro.

Para a Genial, a alavancagem ainda é o calcanhar de Aquiles da holding. “A alocação de capital divulgada pelo management, entre pagar altos dividendos, manter R$10-15 bilhões em caixa para usufruir as oportunidades do mercado com aquisições e para garantir a implementação de seu CAPEX, e desalavancar a Companhia para o patamar de 1,0-2,0x Dívida Líq./EBITDA, nos parecem planos contraditórios, principalmente para serem executados no mesmo horizonte de tempo”, comentou.

Além disso, o curto prazo está sendo fortemente afetado pelo cenário macro de maneira negativa na Siderurgia, o que leva a Holding a uma geração de caixa menor. Durante o 4T22, a CSN queimou -R$146m de caixa (FCFE) vs. +R$110m Est. Genial, e consequentemente, afetou o endividamento, através do aumento da Dívida Líq./EBITDA para 2,21x vs. 1,69x, indo na contramão do target estabelecido de ficar abaixo de 2,0x.