Construção: analistas vêm cenário desafiador em 2023 por pressão nos custos e baixo poder de compra

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Foto: Yury Kim / Pexels

São Paulo, 17 de março de 2023 – A XP Investimentos e o Bank of America (BofA) analisaram os resultados do 4T22 de companhias do setor de construção e observaram que construtoras de médio/alto padrão reportaram resultados mistos no 4T22. Cyrela entregou resultados sólidos, mesmo com um cenário desafiador, ao passo que a Eztec teve seus resultados impactados pelo atraso de um grande projeto, o Parque da Cidade.

O BofA continua vendo cenário difícil para construtoras de médio/alto padrão e mantém a classificação desempenho inferior em CYRE e EZTC. “A chave a ser observada é o desempenho da margem bruta em meio a preços mais difíceis em face da deterioração da acesso do consumidor e geração de caixa antes de vendas mais fracas e forte atividade de construção”, diz análise do BofA.

Os analistas ainda vem um cenário difícil à frente porque tais empresas acumulam estoque que é estruturalmente difícil de vender em construção e devem enfrentar o pico de entregas no próximo ano em um período de desafiador cenário de acesso do consumidor. Isso pode levar a uma maior inadimplência e, eventualmente, descontos nas apólices, pressionando ainda mais as margens

A XP também observou resultados negativos no segmento de renda média-alta, com algumas construtoras relatando compressão da margem bruta, prejudicadas pelos custos de construção sob pressão e dados operacionais moderados em termos de vendas líquidas e lançamentos.

Segundo os analistas da XP, a Cyrela reportou resultados ligeiramente positivos no 4T22, com uma receita bruta resiliente de R$ 1,37 bilhão (4,1% em base anual) , que pode ser explicada por sólidas vendas líquidas de lançamentos e estoque e pelo reconhecimento de receita (POC) aumentando, motivada pela evolução na construção de lançamentos, na visão da XP.

“Além disso, observamos uma diminuição na margem bruta para 31,4% (-200bps ao ano), ligeiramente abaixo de nossas estimativas de 32,4%, impactada por comparação mais difícil com o 3T22, contribuição negativa de novos lançamentos com margens menores em comparação com 2021 e custos sob pressão”, opinam os analistas da XP.

“Na nossa visão, o desempenho mais forte das joint ventures e o ganho não-recorrente com a venda da participação da Cury (CURY3) impulsionaram o lucro líquido para R$ 208 milhões, quase em linha com nossas estimativas.”

Como resultado, a Cyrela apresentou um fluxo de caixa negativo de R$ 54 milhões versus R$ 100 milhões no 4T21 (ex-dividendos), levando sua alavancagem a 7,8%, que os analistas ainda consideram saudável e mantém sua visão positiva sobre a cia. A recomendação é de compra e o preço-alvo de R$ 33 /ação.

A Eztec, por sua vez, apresentou resultados fracos que já eram esperados no 4T22 ao passo que aumentou a receita líquida 76%, se comparada com o mesmo período do ano passado. Isto porque houve venda de terrenos, vendas recordes de estoque concluído com um POC maior, impulsionando o reconhecimento de receita. “Por outro lado, a margem bruta, que diminuiu para 24,8% – em linha com nossas estimativas – foi impactada por provisões dadas os atrasos de entrega [Parque da Cidade], custos sob pressão e novos projetos com margens mais baixas lançados desde 2019.”

Além disso, o aumento de lançamentos no 4T22 resultou em maiores despesas de venda (33% a mais que no período do de 2021). “Consequentemente, o lucro líquido atingiu R$ 32 milhões, um recuo de 57%, também prejudicado pelo menor resultado financeiro frente ao 3T22”, dizem os analistas, que mantém recomendação de compra com base em um valuation atrativo, negociando a 0,6x P/BV. “No entanto, continuamos a ver um cenário desafiador para o segmento de renda média, com base em taxas de juros imobiliárias mais altas, piora da acessibilidade e menor confiança.”