BR Distribuidora está elevando embandeiramento e critica MP do governo

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São Paulo – A BR Distribuidora disse que o embandeiramento de postos com a sua marca está ganhando tração e que não espera que as mudanças previstas na medida provisória publicada hoje pelo presidente Jair Bolsonaro, que permite a venda direta de etanol das usinas para os postos de combustíveis, sem passar pelas distribuidoras, e a forma como os combustíveis são tributados nos estados, não afetem seu crescimento, pois entende que os consumidores defendem essa opção.

“Vamos manter nossa estratégia pois acreditamos no nosso diferencial competitivo”, disse o presidente da companhia, Wilson Ferreira Junior que, ao final da videoconferência com analistas leu uma nota de uma entidade do setor manifestando surpresa com a publicação da MP pelo governo federal em antecipação a um processo que estava em discussão com os agentes do mercado na agência reguladora.

O número de postos da distribuidora cresceu 312 unidades em relação ao segundo trimestre de 2020, com aumento de participação de mercado em 1,6 ponto percentual, de 26,9% em abril para 29,0% em junho.

A companhia manteve sua perspectiva de crescimento e fez críticas à proposta da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que serão implementadas pela MP publicada hoje, para alterar o marco regulatório da atividade de revenda varejista de combustíveis, e agora que prevê a utilização de bombas não exclusivas pelo revendedor de combustível (bombas brancas) e a opção de não exibir a marca do distribuidor de combustível líquido, entre outras mudanças.

“Estamos ganhando tração no embandeiramento de postos, e essa vinculação não se deu por veiculação legal, mas em termos de valor da marca para o consumidor final, por isso, achamos fundamental manter a linha de contrato que temos hoje, sem interferência da lei. Do ponto de vista logístico, a operação exige muito mais escala, não há benefício logístico fazer a venda direta do combustível para o posto, não faz sentido”, disse André Natal, diretor de finanças, compras e relações com investidores da companhia.

A empresa disse já ter implementado boa parte do plano anunciado no follow-on, que prevê gerar R$ 640 milhões em ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) adicional em 2022 por meio de redução de custos recorrentes, otimização de custos de transporte e venda de ativos (postos, imóveis, ativos logísticos, entre outros).

A companhia já obteve redução adicional de R$ 90 milhões em custos de transporte de combustíveis prevista para 2022, de R$ 200 milhões com novo plano de saúde. Em ativos, a empresa apresentou a projeção de geração de R$ 130 milhões até o fim do ano, sendo R$ 22 milhões já em caixa de negociações de três dos 25 ativos logísticos, e da Esgas, que foi incluída em programa de privatização pelo governo do Espírito Santo, que deve ocorrer em 2022.

A BR também tem um pacote de desmobilização de 250 ativos, com parceiro já selecionado e em fase final de diligências para posterior aporte dos imóveis em fundo. Também anunciou a expectativa de vender mais oito postos no terceiro trimestre e vendeu seis postos por R$ 29 milhões.

O follow-on dobrou a liquidez da companhia, para liquidez diária de R$390 milhões ante R$ 199 milhões antes da operação. Em 2 de agosto, a companhia totalizava 1,165 bilhão de ações e 70.584 acionistas.

TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

Os executivos também esperam aumento do consumo de combustíveis devido à transição energética no país devido à crise hídrica, com maior consumo de energia gerada por fontes térmicas que consomem óleo combustível, e avanço do consumo com o aquecimento da atividade econômica nos próximos trimestres.

“Dado o contexto da crise hídrica, o consumo de óleo combustível por conta do despacho das térmicas deve se manter nos patamares registrados nos últimos dois meses”, disse Natal.

Já em relação à transição energética por conta do aquecimento global, que busca fontes renováveis, a empresa disse que analisa opções para se posicionar neste mercado.

“A companhia tem se posicionado no mercado de energia livre para suprir a mudança de contexto do consumo de óleo combustível e esperamos poder compartilhar nossas iniciativas em breve”, disse Wilson Ferreira Junior, presidente da BR Distribuidora.

REAÇÃO DO MERCADO

As ações da BR Distribuidora estão na ponta negativa do Ibovespa após a divulgação dos resultados do segundo trimestre e com ruídos da medida provisória anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro que afeta o setor de distribuição de combustíveis. Perto do fim do pregão, às 16h26 (horário de Brasília), o papel da companhia (BRDT3) recuava 3,28%, a R$ 27,64.

O Credit Suisse disse que esperava algum ruído para o papel da BR com o anúncio da medida provisória do governo federal que permite a venda direta de etanol aos postos.

“A noticia é potencialmente negativa se for votada como lei. A venda direta de etanol aumenta o risco de evasão de impostos. A possibilidade de uma bomba dedicada para combustíveis sem marcas cria uma incerteza legal e pode causar disrupções”, comentou o analista Régis Cardoso, do Credit Suisse.

No entanto, os analistas do banco suíco mantiveram uma visão otimista para BR, considerando a privatização das refinarias, o avanço da vacinação e o aumento de participação de mercado dos postos com bandeiras da distribuidora como impulsionadores importantes para a companhia. “Continuamos otimistas com o papel e nosso preço-alvo esta em R$ 39 por ação”, disseram os analistas do
CS.

Os números apresentados ontem pela companhia ficaram em linha com as projeções do CS, com ebtida por metro cúbico impulsionado por ganhos fiscais, enquanto o lucro líquido ficou abaixo da projeção de R$ 480 milhões e os volumes de julho em relação a abril mostraram avanço de 24%.

O Bank of America (BofA) também manteve a recomendação de compra citando expectativa de crescimento no médio a longo prazo por conta de um cenário econômico mais favorável e recuperação da economia de um 2020 muito fraco, iniciativas importantes de negócios e corte de custos pela companhia, um foco no fortalecimento estratégia comercial e de varejo e oportunidades em gás
natural.