Bolsa tem dia volátil em meio à alta de inflação e fluxo externo; dólar recua

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Foto: Svilen Milev / freeimages.com

São Paulo – O Ibovespa passou todo o pregão sem uma direção certa, oscilando na estabilidade com os investidores preocupados com a inflação, conforme a estimativa do Boletim Focus divulgado hoje para o Indice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e o resultado do Indice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI) em janeiro acima das expectativas do mercado, o que eleva a possibilidade do Banco Central (BC) aumentar mais a taxa de juros (Selic). O mercado aguarda para amanhã a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). 
Outro fator de atenção é com a PEC dos Combustíveis, chamada Kamikaze, comprometendo o cenário fiscal do País.  No campo positivo, o fluxo de estrangeiros em commodities também favoreceram o índice. Os papéis da Vale (VALE3) e Usiminas (USIMI5) subiram respectivamente 2,44% e 3,24%. 
O principal índice da B3 caiu 0,22%, aos 111.996,40 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro perdeu 0,09%, aos 112.245 pontos. O giro financeiro foi de R$ 25,5 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistas 
Como destaque positivo estão as ações da BBSeguridade (BBSE3), que avançaram 5,73%, após lucro líquido de R$ 1,23 bilhão acima das estimativas do mercado. E no campo negativo, os papéis das operadoras de saúde Hapvida (HAPV3) e o Grupo Notredame Intermédica (GNDI3) perdiam 4,66% e 4,67%, nessa ordem após anunciarem os detalhes sobre a sinergia das empresas. 
Natalia Monaco, estrategista da Veedha Investimentos, comentou que essa volatilidade na Bolsa se deve à preocupação com inflação e a PEC dos Combustíveis. “O boletim Focos mostrando projeção na elevação de inflação para este ano-IPCA de 5,38% para 5,44%- trouxe um pouco de apreensão para o mercado e o IGP-DI-subiu 2,01 em janeiro- terminou de chancelar a preocupação dos investidores porque veio acima das expectativas do mercado e traz receio de o Banco Central (BC) ter de elevar ainda mais os juros”. 
Natalia explicou que o investidor estrangeiro não olha para esses fatores e focam nas empresas ligadas às commodities. Com esse capital ingressando na B3, a Bolsa tem um movimento de operar no zero a zero e tentar até subir um pouco. “Seguimos com a mesma notícia da última semana, o fluxo de capital estrangeiro entrando em empresas de commodities e sustentando a nossa Bolsa nos 112 mil pontos”. O saldo estrangeiro na última quinta-feira (3) foi de R$ 1,264 bilhão. 
Victor Miranda, sócio da One Investimentos, disse que relação aos dados econômicos, a inflação é um ponto de atenção e explicou que IGP-DI teve leve surpresa. “O dado em janeiro veio aquecido – subiu 2,01% -e pode estar divergindo do consenso do topo de inflação. O IPCA também preocupa, mas a pesquisa Focus já tem mostrado dado ruim há alguns meses”. 
E ressaltou para a divulgação da ata amanhã. “É importante ficar atento com a preocupação do Banco Central (BC) em relação à falta da atividade econômica e por isso está dando sinalização de reduzir o ritmo de aumento”. 
Miranda afirmou que existe uma preocupação com a economia real e pode estar afetando o varejo, indústria e construção e o fluxo de compra está muito focado em commodities. “Outros setores estão um pouco apagados, não vemos nada muito positivo e a logística acaba sofrendo com o petróleo neste patamar desde 2014”. 
Miranda comentou que as exportadoras-Vale e Usiminas- são as que sobem na sessão de hoje e tem ganhado cada vez mais destaque com a China estimulando a economia e aquecendo a indústria, consequentemente a demanda por commodities cresce. “A sessão de hoje deve permanecer volátil porque o setor de commodities está subindo hoje e a Bolsa não acompanha muito e não acredito que deva melhorar”. 
Sobre a PEC dos Combustíveis afirmou que é um ponto bem importante para monitora impacto fiscal grande, mas ainda não estamos vendo muito ruído em cima disso. 
Vicente Matheus Zuffo, fundador e CIO da Chess Capital, acredita que a queda da Bolsa está relacionada a dados de mercados mais negativos. “A produção de veículos leves da Anfavea [Associação Nacional de Veículos Automotores – teve queda de 29,2% em janeiro na comparação com o mesmo período de 2020- e o indicador de antecedentes referentes a janeiro-caiu 5,3 pontos em janeiro, para 76,5 pontos. Os dados não foram muito bons e podem ter influenciado, mas está um pouco difícil de identificar bem esse movimento de hoje no Ibovespa”. 
 O dólar comercial fechou em R$ 5,2520, com queda de 1,35%. A moeda foi novamente impactada pelo intenso fluxo estrangeiro na bolsa, assim como pelo aumento das commodities no cenário global, fortalecendo o real. 
Para o chefe da mesa de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem, “o otimismo está alto. A expectativa por um novo aumento dos juros, em março, torna o país mais atrativo. A situação macro, porém, continua a mesma”. 
Nagem ressalta que este dinheiro é muito volátil, mas a curto prazo a situação não deve mudar: “Vejo o real forte até a próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), acredito que o dólar chegue em R$ 5,20”, opina. 
“Caso o aumento dos juros americanos não seja agressivo, e o petróleo desacelere mais, isso pode até ajudar o Brasil, pois nossos juros irão continuar atrativos”, avalia Nagem. 
Segundo a equipe da Ouro Preto Investimentos, “por mais que o mercado tenha se assustado com a diminuição do fluxo, o estrangeiro ainda vê a bolsa como barata. Existe um movimento comprador que ainda deve durar algum tempo, não deve mudar nas próximas semanas”. 
“O câmbio parece que se descola dos juros e da própria bolsa, já que não existe nenhuma perspectiva de melhora tanto política quanto fiscal”, analisa a Ouro Preto. 
De acordo com o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “a semana começa em clima negativo para os ativos de risco, após o payroll forte e a guinada dos bancos centrais europeus dispararem nova rodada de alta nos juros, com o título de 10 anos dos EUA rompendo os 1,90%”. 
Borsoi também destaca a divulgação do CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês), na próxima quinta: “os investidores começam a questionar se 5 altas do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) é o cenário mais provável para 2022”, ressalta. 
Neste cenário, que ainda apresenta altas das commodities – com exceção do petróleo -, Borsoi ainda vê o real com fôlego: “O dólar tem espaço para recuo, em dia de enfraquecimento global da moeda americana”, opina. 
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda neste início de semana, com mercado aguardando notícias sobre a política monetária do Banco Central. 
O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 11,950% de 11,980% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 11,370%, de 11,470%, o DI para janeiro de 2025 ia a 10,970%, de 11,085% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,115% de 11,240%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar com vencimento para janeiro operava em queda, cotado a R$ 5,2520 para venda. 
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam mistos, com o Nasdaq caindo 0,58%, à medida que os investidores avaliam os balanços trimestrais ruins das empresas de tecnologia, enquanto aguardam a divulgação dos dados de inflação na próxima quinta-feira. 
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices futuros de ações dos Estados Unidos após o fechamento: 
           Dow Jones: +0,00%, 35.091,13 pontos
           Nasdaq 100: -0,58%, 14.016 pontos
           S&P 500: -0,37%, 4.483,87 pontos