Bolsa tem alta moderada com definição do Orçamento e temores de recessão global e pandemia

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Foto: Burak K / Pexels

São Paulo – A Bolsa fechou em leve alta após operar com bastante volatilidade em meio ao crescente temor de aversão a risco no exterior, que refletiu no mercado local. O pregão foi marcado pela definição do Orçamento federal e da maioria dos ministérios pelo governo eleito de Luís Inácio Lula da Silva, indicadores que mostraram uma economia ainda aquecida nos Estados Unidos e avanço da covid na China, reacendendo temores de um maior aperto monetário pelo banco central e de restrições no gigante asiático.

A bolsa brasileira operava em alta moderada durante a manhã e passou a cair após o anúncio do saldo da gestão de Jair Bolsonaro pelo governo de transição, dos ministérios e os últimos nomes da Fazenda pelo futuro ministro Fernando Haddad.

Os investidores também analisavam o Orçamento Geral da União de 2023, aprovado nesta quinta-feira pelo Congresso Nacional, com o aumento do teto de gastos públicos em R$ 168 bilhões autorizado pela PEC da Transição, promulgada ontem à noite, Bolsa Família de R$ 600 e salário mínimo de R$ 1.320 – R$ 108 a mais do que o valor atualmente em vigor.

O principal índice da B3 fechou em alta de 0,11%, aos 107.551,52 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro avançou 0,08%, aos 109.490 pontos. O giro financeiro foi de R$ 15,5 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em forte queda.

Entre os papéis de maior peso na Bolsa, Vale recuou 0,56%, Petrobras subiu 1,15% em PETR3 e 1,78% em PETR4, e o setor financeiro fechou majoritariamente em alta.

As maiores altas do índice foram de Marfrig (+6,74%), JBS (+3,21%), Americanas (2,72%), Sabesp (+2,41%) e Taesa (+2,36%).

As maiores quedas foram de IRB Brasil (-5,94%), Locaweb (-4,14%), Iguatemi (–3,80%), Positivo (-2,28%) e Braskem (-1,99%).

Hoje, o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou quatro novos nomes para a equipe econômica a partir de 2023: Marcos Barbosa Pinto (Reformas Econômicas), Rogério Ceron (Tesouro Nacional), Guilherme Mello (Política Econômica) e Robinson Barreirinhas (Receita Federal).

O futuro presidente da república anunciou os seguintes nomes para secretarias e ministérios: o vice-presidente e coordenador da equipe de transição Geraldo Alckmin foi confirmado no cargo de Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Alexandre Padilha (Secretaria das Relações Institucionais), Márcio Macedo (Secretaria-Geral), Jorge Messias (Advocacia-Geral da União), Vinicius Carvalho (Controladoria-Geral da União), Nisia Trindade (Ministério da Saúde), Camilo Santana (Ministério da Educação), Esther Dweck (Ministério da Gestão), Márcio França (Ministério dos Portos e Aeroportos), Luciana Santos (Ministério da Ciência e Tecnologia), Cida Gonçalves (Ministério da Mulher), Wellington Dias (Ministério do Desenvolvimento Social), Margareth Menezes (Ministério da Cultura), Luiz Marinho (Ministério do Trabalho), Anielle Franco (Ministério da Igualdade Racial) e Silvio Almeida (Ministro dos Direitos Humanos).

O relatório final da Transição aponta que durante o governo Bolsonaro, “exacerbou-se um processo de enrijecimento dos gastos reais primários”, com o “desfinanciamento das políticas públicas de saúde, previdência e assistência social, dentre outras”, mas que, no entanto, “para atender suas necessidades de sustentação política, em quatro anos o atual governo furou o teto de gastos por cinco vezes, gerando gastos no valor de cerca de R$ 800 bilhões.”

Segundo o levantamento, o governo Bolsonaro deixa para a população “o reingresso do Brasil no mapa da fome: hoje são 33,1 milhões de brasileiros que passam fome e 125,2 milhões de pessoas, mais da metade da população do país, vive comalgum grau de insegurança alimentar.”

Os cortes no orçamento da saúde para 2023 são da casa de R$ 10,47 bilhões, o que inviabiliza programas e ações estratégicas do o Sistema Único de Saúde (SUS), diz o relatório.

Na educação, a Transição aponta corte deliberado de recursos, ausência de contratos de impressão de livros didáticos e aumento da evasão escolar. O governo Bolsonaro congelou durante quatro anos em R$ 0,36 centavos por aluno a parte da União para a merenda escolar, segundo a Transição.

No âmbito das políticas ambientais e climáticas, o relatório ressalta o “notório o rebaixamento organizacional e a falta de compromissos com os acordos internacionais”, com a maior destruição ambiental nos dois últimos anos, a maior em 15anos. Em quatro anos, o governo Bolsonaro destruiu 45 mil km com desmatamento só na Amazônia.

Mais cedo, foram divulgados o resultados do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos e do Reino Unido nesta manhã e o número de novos pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos.

O Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos cresceu 3,2% no terceiro trimestre de 2022 em relação ao trimestre imediatamente anterior em termos anualizados, de acordo com a terceira leitura divulgada pelo Departamento do Comércio do país. O dado ficou acima das previsões dos analistas, que esperavam alta de 2,9%. O indicador mostra que o crescimento econômico acelerou em relação ao segundo trimestre, quando o PIB norte-americano caiu 0,6% em base anualizada.

A aceleração do crescimento do PIB no terceiro trimestre refletiu principalmente os aumentos nas exportações e os gastos do consumidor, que foram parcialmente compensados por uma diminuição no investimento em habitação.

O número de novos pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos aumentou em 2 mil solicitações na semana encerrada em 17 de dezembro, totalizando 216 mil, após ter alcançado 214 mil na semana anterior, segundo estatísticas do Departamento do Trabalho ajustadas por fatores sazonais. Os analistas previam 222 mil pedidos.

O Indice de Atividade Nacional do Fed de Chicago (CFNAI, na sigla em inglês) de novembro, previsto para às 10h30 de Brasília, não será divulgado porque, segundo a entidade responsável pela publicação do indicador, muitas das séries de dados utilizadas para apurar o índice não estavam disponíveis. A publicação deve ser retomada em 26 de janeiro.

Na avaliação de Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil, o Ibovespa passou a maior parte do tempo andando de lado apesar da volatilidade implícita elevada e acabou acelerando a queda com o anúncio dos novos ministros do governo Lula, sendo puxado principalmente pelo desempenho da Vale e da B3 e por um mercado internacional operando no terreno negativo após PIB forte nos EUA e novos pedidos de seguro-desemprego abaixo do esperado pelo mercado, mostrando uma economia ainda bem aquecida, o que dificulta que os juros possam cair no país.

Em relação aos nomes de ministros anunciados, ele considera que o ponto em comum sobre ambos, em especial Esther [Dweck, Ministério da Gestão], é de que o Estado deve ser mais presente, o que deve refletir em “aumento do gasto público, de mais impostos e inflação.”

Sobre os papéis, Alves acredita que a queda de Petz, Positivo, Via Varejo e Natura deve refletir “um Natal um pouco mais magro”, assim como o setor de turismo, o que reflete em CVC, segunda pior queda do índice, e em Azul, também afetada pela greve dos aeronautas.

Na ponta positiva, a alta de empresas de consumo imediato como Marfrig e JBS, que se beneficiam das festas de fim de ano e têm agora o seu melhor momento de vendas, assim como a Sabesp que sobe quase 3% pelo fato da Arsep vir a realizar uma consulta pública para revisar tarifas em 6,37%, o que aumentaria a receita da empresa.

“O pregão de hoje reforça que o rali de fim de ano está cada vez mais distante e o que o momento atual pede sim rebalanceamento nas carteiras e cautela até para não se ficar tão exposto aos riscos que estão fora do radar seja do mercado internacional com inflação, juros, covid e menor atividade econômica na China, seja do mercado local, em especial vindo da política, em que uma canetada pode mudar tudo e aumentar a insegurança econômica e jurídica”, conclui o sócio da Ação Brasil.

O economista-chefe da Ativa Investimentos destaca que o texto da PEC “fura-teto” promulgado no Congresso ontem traz uma alteração no trecho de utilização do PIS/PASEP e, com isso, o gasto autorizado para o executivo em 2023 é de R$ 170 bilhões e que, mesmo com o prazo definido de um ano, não será necessária uma nova licença no teto visto que a PEC exige que uma lei complementar traga um novo arcabouço fiscal derrubando o teto.

“Como disse ontem mesmo o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a expansão do teto tinha vistas à neutralidade do fiscal, denotando que a nova âncora, conforme temos apontando, já contará com a expansão de R$170 bi, o que tornará o gasto perene. No final das contas, ao remover o Bolsa Família do teto, R$145 bi, e permitir a expansão de outros R$ 23 bi para investimentos, o PT terá a possibilidade de gastar quase que a totalidade de recursos como bem entender no ano que vem e a nova âncora, muito provavelmente, no mínimo, chancelará o dispêndio ad aeternum”, opinou Sanchez.

“Vale pontuar que, também conforme apontado desde a decisão de ilegalidade do STF sobre o orçamento secreto, os parlamentares perpetuaram na constituição um mecanismo de distribuição de recursos em emendas individuais, que são impositivas”, acrescentou.

O dólar comercial fechou em queda de 0,36%, cotado a R$ 5,1850. A moeda norte-americana sucumbiu após o mercado ver de maneira positiva os nomes anunciados para a equipe ministerial de Lula (PT), especialmente na área econômica.

A economista Esther Dweck foi a escolhida para a pasta da Gestão e o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, para a Indústria. O anúncio do responsável pelo Planejamento ficou para a próxima semana.

Para o analista da Ouro Preto Investimentos Bruno Komura, “o dólar vai ficar assim até o anúncio da Secretaria da Fazenda. Hoje o câmbio tende a ficar com menos volatilidade”.

Komura entende que os nomes escolhidos foram “ok”, e observa que o Planejamento, que é o anúncio mais aguardado, ficou para a próxima semana.

De acordo com o boletim da Ajax Asset, “lá fora, mercados seguem estáveis em dia de fraca agenda dos Estados Unidos. Por aqui, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição foi promulgada e Congresso tenta aprovar o orçamento ainda hoje”.

As taxas curtas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda. Isso foi reflexo do anúncio de grande parte da equipe ministerial de Lula (PT).

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,656 de 13,656% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,675%, de 13,750%, o DI para janeiro de 2025 ia a 13,065%, de 13,250% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,960% de 13,100% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em queda, cotado a R$ 5,1860 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em queda, com a Nasdaq caindo mais de 2%, à medida que os investidores continuam preocupados que um maior aperto monetário dos bancos centrais em todo o mundo empurre a economia para uma recessão.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -1,05%, 33.027,49 pontos
Nasdaq 100: -2,18%, 10.476,0 pontos
S&P 500: -1,44%, 3.822,39 pontos

Com Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Agência CMA.