Bolsa sobe e dólar cai puxado por Fed, Guedes e exterior

610

São Paulo – O Ibovespa fechou com ligeira alta de 0,18%, aos 128.406,51 pontos, em um dia de valorização forte na sessão da manhã com a divulgação do discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano), Jerome Powell, e volatilidade na segunda metade do pregão com investidores repercutindo os comentários do ministro  da Economia, Paulo Guedes sobre reduzir a taxa de importação levando à queda das siderúrgicas.

Outro fator de impacto foi o  câmbio pressionando as exportadoras para baixo e o consumo impulsionando o Ibovespa.

Para Vicente Matheus Zuffo, fundador e CIO da Chess Capital, a volatilidade na Bolsa deve-se à fala do ministro Paulo Guedes. “Acredito que a redução de 10% na alíquota de importação mexeu com as siderúrgicas e provocou volatilidade na Bolsa”. Ele considera que “essa redução vai aumentar a competição das siderúrgicas nacionais”.

O analista Luiz Henrique Wickert, da plataforma sim;paul, explica que a perda de fôlego da Bolsa “é que o dólar está caindo muito forte e muitas empresas exportadoras, que têm forte peso no índice, como a Vale, caem e não ajudam impulsionar o Ibovespa”

Pela manhã, os investidores repercutiram a publicação do discurso do presidente do banco central norte-americano, Jerome Powell e a proposta preliminar da segunda fase da reforma tributária.

Powell afirmou que recuperação da economia dos Estados Unidos ainda não avançou o suficiente para retirar os estímulos e que a inflação deverá seguir em alta nos próximos meses até atingir a moderação.

Para os analistas da Terra Investimentos, “a sinalização da sequência da política monetária acomodatícia gera maior interesse do investidor por ativos de risco,  em especial a bolsa de valores”.

Para o estrategista Filipe Villegas, da Genial Investimentos, após dos dados da inflação dos Estados Unidos saírem acima das expectativas do mercado na véspera [subiu 0,9% em junho ante maio, analistas previam +0,5%], e “ter assustado o mercado, é oportuna a fala do presidente Jerome Powell hoje”. afirma.

Villegas ressalta que “o investidor deve seguir um ritmo de maior cautela” em meio a um cenário de inflação alta, que o mercado não vê há muito tempo. Além disso,  o resultado da inflação de ontem e uma acomodação dos dados de crescimento econômico e ao mesmo tempo juros baixos, comenta.

Ontem, o relator da proposta da reforma tributária que altera a  cobrança do Imposto de Renda, Celso Sabino (PSDB-PA), apresentou o texto para lideres partidários e refletiu positivamente no mercado. No pregão de hoje, o parecer seguiu no radar dos investidores. “A nova versão é mais positiva para a atividade econômica, embora aumente o risco fiscal”, afirma a economista Tatiana Nogueira, da XP Investimentos.

O dólar comercial encerrou a sessão em queda de 1,87%, cotado a R$ 5,0840 para venda. A moeda norte-americana foi fortemente influenciada pelos dados de inflação nos Estados Unidos. As ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) no brasil ajudam para a queda com uma entrada da divisa no país.

“O dólar comercial abriu a sessão de hoje em queda, acompanhando o desempenho visto no exterior, e permaneceu nesse terreno até o final. Além da fragilidade da moeda lá fora, também ajudou na queda por aqui a forte entrada de recursos estrangeiros, reflexo de uma série de IPO’s para a próxima semana. Na parte da tarde renovou mínimas sequencias após o pronunciamento do presidente do Fed que disse que ainda não é o momento para a redução dos estímulos nos Estados Unidos”, explicou Guilherme Esquelbek, da Correparti Corretora de Câmbio.

“Os dados de inflação mostram para muitos analistas que a inflação é transitória, porém o mercado sente o medo de que de não ser transitória, e ser mais perene. Isso tem trazido volatilidade aos mercados. Resultados corporativos também agitam a agenda”, explicou Jansen Costa, sócio da Fatorial Investimentos.

O Indice de Preços ao Produtor dos Estados Unidos (PPI, na sigla em inglês) subiu 1,0% em junho na comparação com o mês anterior, após a alta de 0,8% em maio, já descontados os fatores sazonais, informou o Departamento do Trabalho. Analistas previam alta de 0,6% em junho. Powell afirmou que a economia dos Estados Unidos ainda está longe de alcançar progressos substanciais que permitiriam a redução de estímulos, segundo texto preparado para audiência ante o Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados do país.

“Embora alcançar o padrão de ‘progresso adicional substancial’ ainda esteja um pouco distante, os participantes esperam que o progresso continue. Continuaremos essas discussões nas próximas reuniões. Como já dissemos, avisaremos com antecedência antes de anunciar qualquer decisão de fazer alterações em nossas compras”, afirmou Powell.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam nas mínimas do dia – ou perto delas – acompanhando o forte recuo do dólar em relação ao real observado desde os primeiros movimentos do pregão. O mercado local de câmbio reagia aos movimentos da moeda norte-americana no exterior enquanto investidores ainda digerem os mais recentes dados sobre a inflação nos Estados Unidos e as declarações do presidente do Fed.

Com isso, o DI para janeiro de 2022 encerrou com taxa de 5,77%, de 5,83% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 7,280%, de 7,365%; o DI para janeiro de 2025 ia a 8,26%, de 8,38% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 8,66%, de 8,79%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram o dia com ganhos modestos, depois que o presidente do Fed reforçou a noção de transitoriedade da inflação mais alta no país e reafirmou a acomodação monetária. A exceção foi o Nasdaq, que teve a sua segunda queda seguida.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,13%, 34.933,23 pontos

Nasdaq Composto: -0,22%, 14.645,00 pontos

S&P 500: +0,11%, 4.374,30 pontos