Bolsa reduz ganhos e segue pessimismo global no fim do pregão; dólar fica estável

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São Paulo – Perto do fechamento, a bolsa passou a cair depois de operar boa parte do último pregão de maio em alta moderada, alinhada aos mercados internacionais, que passaram a recuar após os ganhos da semana passada. Os investidores seguem monitorando com lupa o avanço da inflação nos mercados globais e os impactos da guerra na Ucrânia e dos bloqueios na China.

A euforia inicial foi motivada pelo avanço dos mercados asiáticos após a China anunciar flexibilização das regras de sua política de bloqueios em combate à pandemia de Covid-19 nas cidades de Pequim e Xangai, além do anúncio de um plano de recuperação econômica para complementar a reabertura.

Mas, apesar da notícia favorável para as produtoras de commodities brasileiras, ao longo do pregão, os investidores foram ajustando os suas apostas e os papéis de pesos pesados como a mineradora Vale (VALE3, -0,76%) e da siderúrgica CSN (CSNA3, -1,35%) fecharam em queda e empurraram o índice para baixo, assim como a maior parte das ações do Ibovespa, que passaram a cair ou reduzir os ganhos registrados durante boa parte do dia.

As ações da Petrobras também abriram em alta, passaram a oscilar, apontando queda no fim do pregão, mas encerraram com ganhos discretos (PETR3, +0,48%; PETR4; +0,06%), em dia que analistas apontaram para uma tendência de volatilidade dos papéis da estatal até outubro por conta dos desdobramentos do processo de avaliação da desestatização da empresa e da possível implementação de um subsídio direto aos combustíveis financiado pela estatal.

O principal índice da B3 encerrou em alta de 0,28%, aos 111.350,51 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho subiu 0,53%, aos 111.715 pontos. O volume financeiro do mercado era de aproximadamente R$ 32,6 bilhões. No mês, o Ibovespa subiu 2,93%. Em Nova York e na Europa, as bolsas fecharam em queda.

As maiores altas, de aproximadamente 3% a 6%, foram registradas por Marfrig, IRB Brasil, Cemig, BRF e Rumo. A ponta negativa ficou com as quedas na faixa entre 3% e 4% de Magazine Luiza, Hapvida, Eztec, Banco Inter, Americanas e Iguatemi.

De acordo com Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed, empresa de tecnologia e educação para investidores, o movimento de queda observado no meio da tarde “com índice caindo praticamente mil pontos em linha reta em praticamente uma hora”, observa, “pode ter sido influenciado por uma reunião entre Biden e Powell. Tanto o mercado internacional como local optaram por reduzir posição de risco”, avalia.

O destaque positivo entre os pesos pesados da Bolsa foram as ações de Banco do Brasil, Itaú e Usiminas, que fecharam em alta. “O setor de bancos se mostrou forte no dia de hoje, em detrimento de papéis de setores como mineração e siderurgia.”

Outro destaque foi apresentado pelas ações da Marfrig (MRFG3, +5,53%, a R$ 15,63), em reação positiva ao aumento de participação acionária do fundador da companhia, Marcos Molina, que atingiu a participação de 50% da composição acionária da companhia, após o ativo passar por um período de forte baixa e chegou a bater cerca de R$ 14 com queda de cerca de 40%. “Molina então fez compras do ativo aproveitando a baixa”, comentou.

A busca por ofertas também se refletiu nas elevação do papel do IRB Brasil, cotado em valor nominal baixo. A ação fechou entre as maiores altas do dia, de 4,27%, a R$ 2,93. “Qualquer variação no preço tem relevância percentual. Também é ativo que trabalha com altos níveis de posições vendidas com muitas pessoas apostando na queda do ativo. Então, pode estar acontecendo o ‘short squeeze’ – movimento quando os vendedores precisam recomprar ações, ou seja, para desmontar posição vendida precisa comprar ações. Ficou provado questão de fraude nas ações da empresa, que têm apresentado quedas expressivas de cerca de 95%. Então quando sobe 5%, por exemplo, é só movimento de recuperação”, explica o especialista.

Já a alta de 3,18% da BRF, para R$ 15,53 pode estar refletindo uma recuperação após a empresa anunciar mudanças na gestão depois do resultado fraco do primeiro trimestre. “As ações caíram bastante, mas o mercado está entendendo que as mudanças que a empresa prometeu estão surtindo efeito e agora ações estão em tendência de alta.”

Por fim, sobre o cenário macroeconômico, o analista ressaltou as falas positivas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que comentou que o real tem sido uma das melhores moedas emergentes, destacou que PIB do Brasil pode crescer entre 1,5% e 2% e que a dívida pública está quase no nível pré-pandemia mostrando cenário fiscal não tão ruim. “O discurso soou bem para quem opera juros, aliviando contratos da curva de juros”, concluiu.

Para Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, os dados sobe os estímulos chineses surpreenderam e ajudaram a Bolsa na parte positiva registrada em boa parte do pregão desta terça-feira, já que as companhias brasileiras têm bastante exposição em commodities metálicas e agrícolas. No entanto, os investidores esperam ações mais concretas da China e a queda da Vale pode apontar para um ajuste nas expectativas.

“Os fatores externos estão pesando mais, com influência do mercado norte-americano após a volta do feriado, e a Vale deve ser questões específicas da companhia, talvez uma realização de preços. Ontem teve uma certa realização com os estímulos e ajuste de expectativa. Houve muita empolgação, mas precisamos ver mais ações concretas. Os estímulos precisam ser implementados logo, a China precisa sair do discurso, o que deve ajudar mineradoras e siderúrgicas brasileiras”, comentou o analista.

O dólar comercial fechou estável, cotado a R$ 4,7540. Em dia de fechamento de Ptax (taxa diária de câmbio calculada pelo Banco Central), a moeda norte-americana teve poucos momentos de fôlego na sessão, impactada pela aparente reabertura chinesa e commodities valorizadas.

Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelamlack,”seguimos em compasso de espera para a próxima reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e mais notícias sobre a China, de onde podem surgir surpresas”.

A Federação Chinesa de Logística e Compras (CFLP, da sigla em inglês), divulgou o seu PMI (Purchasing Managers Index, ou índice de gerentes de compras) de maio, que ficou em 49,6 pontos. Em abril, o índice havia registrado 47,4 pontos.

Abdelmalack enfatiza que o real, que acumula alta de 15,0% em 2022, tende a sofrer um revés a curto prazo. “Não é impossível que ele quebre a barreira dos R$ 4,70, mas o risco Brasil voltou a ficar mais latente, com as incertezas fiscais e políticas, assim como a aproximação das eleições”, opina.

Segundo o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, “os dados da China acima do esperado deram suporte para o real, além do fechamento da Ptax”.

A economista e estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli, entende que os ativos locais tendem a se beneficiar com a privatização da Eletrobras, que deve acontecer nas próximas semanas, embora a inflação global continue no radar.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda após apresentação do presidente do Banco Central Roberto Campos Neto na Câmara.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,380% de 13,410% no ajuste anterior (início do mês: 13,040%); o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,885%, de 13,000% (início do mês: 12,630%), o DI para janeiro de 2025 ia a 12,255%, de 12,385% antes (início do mês: 12,080%), e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,120% de 12,230% (início do mês: 11,870%), na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em queda, cotado a R$ 4,7490 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam em queda num mês de maio que encerrou após diversas turbulências e altas oscilações, em meio a maior inflação dos últimos 40 anos e os investidores receosos com uma possível recessão na economia norte-americana.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices futuros de ações dos Estados Unidos
após o fechamento:

Dow Jones: -0,67%, 32.990,12 pontos
Nasdaq 100: -0,41%, 12.081,4 pontos
S&P 500: -0,62%, 4.132,15 pontos

Veja o acumulado dos índices no mês:

Dow Jones: +0,04%
Nasdaq Composto: -2,05%
S&P 500: +0,02%