Bolsa recua e dólar avança após declarações não convincentes de Haddad

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São Paulo- A Bolsa fechou em queda expressiva, voltou ao patamar dos 112 mil pontos, descolando do exterior, após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, desapontar o mercado com suas declarações em que disse que vai buscar o equilíbrio fiscal, mas desconversou sobre atingir a meta de déficit zero em 2024. Na sexta-feira, o presidente Lula que seria difícil cumprir a meta.

Ainda na sessão de hoje, as ações com peso mais relevantes no índice operaram mistas. Enquanto Vale (VALE3) e siderúrgicas subiram refletindo a alta do minério de ferro, Petrobras (PETR 3 e PETR4) e bancos caíram. Com a alta dos juros futuros, as varejistas sofreram. O papel de Casas Bahia (BHIA3) liderou as perdas no Ibovespa, com queda de 6,25%.

O principal índice da B3 caiu 0,67%, aos 112.531,52 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro perdeu 1,05%, aos 113.785 pontos. O giro financeiro foi de R$ 18,6 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam no positivo.

Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, disse que a Bolsa começou o dia no positivo, mas após a falas do ministro Haddad o mercado ficou temoroso com os riscos fiscais.

“O ministro tentou minimizar os estragos causado por Lula na sexta-feira, mas agora vai ser necessário mostrar mais do que uma carta de boas intenções para o mercado voltar a incorporar um cenário mais benigno e de confiança no compromisso em atingir um equilíbrio fiscal; os investidores também parecem optar pela cautela devido à agenda cheia da semana, com a definição de juros aqui e nos EUA”.

Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos, disse que o Ibovespa recua com os investidores de olho no fiscal, após a fala de Lula na sexta e digerindo declarações de Haddad. “O ministro falou que deve manter o compromisso de manutenção da meta fiscal, vai fazer de tudo para que isso aconteça, mas evitou dar respostas diretas, acabou fugindo de perguntas e não convenceu o mercado”.

Ariane Benedito, economista e RI da Esh Capital, disse que no início da fala de Haddad, o Ibovespa perdeu força e reagiu ao exterior.

“Apesar do descontentamento nítido [do mercado] no discurso do ministro, que focou em explicar algumas questões para justificar a fala do presidente Lula na última sexta-feira, como o descasamento entre a arrecadação e crescimento do país culpando a taxa de juros, o cenário externo tem um maior peso para esse movimento, com a aversão a risco dos investidores à espera da Super Quarta, com o enfraquecimento das bolsas em NY”.

Ariane afirmou que a fala de Haddad não tem surpresa. “Caso as bolsas em NY diminuam a volatilidade e mantenha um sentido de alta, o Ibovespa tem chances de dissipar o mal-estar ocorrido em relação ao fiscal, devido à fala do Haddad não trazer novidades e dizer que de sua parte da meta de manter o equilíbrio fiscal está mantida, mas em sua resposta não case comprometer com o cumprimento da meta fiscal estipulada”.

Mais cedo, Ricardo Leite, head de renda variável da Diagrama Investimentos, disse que o mercado chegou a reagir bem às falas de Haddad. “Vejo como positivo. Ele deu uma resposta muito boa afirmando que busca o equilíbrio fiscal porque acredita nisso e não por pressão do mercado”.

O mercado virou porque o ministro negou responder questões sobre mudanças da meta, disse.

O head de renda variável da Diagrama Investimentos não acredita que o ministro Haddad esteja isolado, mas “não dá para descartar a tentativa de enfraquecê-lo, sabendo que o trabalho bem feito dele pode fortalece-lo como liderança do partido, isso desagrada a ala mais radical”.

Leite acrescentou que “as ações de valor, ou seja, as empresas mais previsíveis e anticíclicas estão respondendo um pouco melhor, uma vez que funcionam muito bem mesmo em momentos de incerteza”.

No câmbio, o dólar comercial fechou em alta de 0,68%, cotado a R$ 5,0468 com o mercado reagindo às falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre as sinalizações do presidente Lula na sexta-feira em que disse que será difícil o governo cumprir a meta fiscal no ano que vem.

Apesar de Haddad enfatizar que quer manter o equilíbrio das contas públicas, não mencionou a meta de déficit zero para 2024 que vinha defendendo e não conseguiu convencer o mercado.

Para o sócio da Pronto! Invest Vanei Nagem, as falas do ministro não foram suficientes para “apagar o incêndio”, o que fortalece a divisa estadunidense.

“O dólar segue tenso com as falas do Lula, demonstrando um bate-cabeça dentro do governo, além de tirar a credibilidade do (ministro da Fazenda, Fernando) Haddad, que está fazendo um bom trabalho”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta forte refletindo as falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mais cedo, sobre a meta fiscal. Após o estresse de sexta-feira com as declarações do presidente Lula, hoje o ministro reforçou seu compromisso fiscal, mas não disse que seria meta de déficit zero e não convenceu o mercado.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,074% de 12,090% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 11,140% de 10,990%, o DI para janeiro de 2026 ia a 11,065%, de 10,810%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,240 % de 10,970% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão desta segunda-feira em alta, à medida que os investidores se preparam para uma semana repleta de eventos significativos. Estão na mira a reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), o aguardado relatório de empregos e o balanço da gigante da tecnologia Apple.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +1,58%, 32.928,96 pontos
Nasdaq 100: +1,16%, 12.790 pontos
S&P 500: +1,20%, 4.166,82 pontos

 

Com Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Agência CMA