Bolsa ganha impulso ao fim da sessão e fecha em alta; dólar sobe

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São Paulo – A Bolsa encerrou a sessão volátil e reduziu as perdas registradas ao longo de uma sessão marcada por aversão global ao risco, dados de inflação acima do esperado e repercussão sobre uma nova troca no comando da Petrobras. As ações ligadas a petróleo, gás e energia elétrica, com exceção da Petrobras, passaram a dar impulso à bolsa perto do fechamento e reduziram a queda que superou 1% ao longo desta terça-feira.

A ação da Vale, que representa mais de 15% do Ibovespa, fechou com ganho de 1,32%. As maiores altas do dia ficaram com Petro Rio (+3,63%), Equatorial (+3,17%), Energisa (+2,85%), 3R Petroleum (+2,74%) e CPFL Energia (+2,46%).

Já as ações da Petrobras que também têm forte peso na Bolsa, recuaram quase 3% com demissão do presidente da companhia e a nova indicação do governo federal para o comando da empresa, refletindo a insatisfação do mercado com a interferência política na companhia e possível redução na frequência de aumentos dos preços de combustíveis.

As maiores baixas foram registradas por companhias ligadas ao turismo, aviação e varejo, que são impactadas pelo aumento da inflação e dos juros: CVC, Azul, Embraer, Americanas e Banco Pan.

Hoje foi divulgado o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), que subiu 0,59% em maio na comparação com abril, desacelerando-se em relação à alta apurada no período anterior (+1,73%), a maior alta para um mês de maio desde 2016 (0,86%). O resultado ficou acima da mediana das expectativas do mercado financeiro, de +0,46%, conforme o Termômetro CMA.

O principal índice da B3 encerrou a sessão em leve alta de 0,21%, aos 110.580,79 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho caiu 0,08%, aos 111.360 pontos. O giro financeiro do mercado foi de aproximadamente R$ 23,8 bilhões. Em Nova York, os futuros fecharam mistos.

Segundo analistas, a virada das commodities foi influenciada por estimativas de estímulos na China para impulsionar sua economia. “Dado que a economia da China está mal, o mercado deve estar apostando que vai ter estímulos.Por outro lado, no campo negativo da Bolsa ficaram empresas menores e menos representativas no índice, impactadas pela alta dos juros”, comentou Bruno Komura, analista de renda variável da Ouro Preto Investimentos.

Para Enrico Cozzolino, head de renda variável da Levante, acredita que a visão de longo prazo pode ter influenciado os investidores, ainda que o impacto da Petrobras tenha pesado negativamente sobre os negócios.”Às vezes o investidor olha só o curto prazo e esquece o ambiente macro. A recuperação de hoje mostra uma visão de longo prazo, o que é um contrassenso diante do pânico exagerado mostrado na abertura [do mercado], aqui no local, em virtude da Petrobras, talvez não se sustentou até o final do dia. As empresas de commodities e a Petrobras, tirando a questão de ingerência, estão descontadas, então o cenário tem que piorar muito para ter fechamentos ainda mais negativos”, comentou.

“A Bolsa brasileira a 100 mil pontos é barata, isso é consenso dos analistas em dezembro do ano passado e continua. Olhando para os fundamentos, as empresas estão descontadas, com o cenário macro desafiador, com inflação e juros continuam subindo. Mas muitos desses ativos já sofreram bastante ou já estão descontados em certa medida.”

Para o analista, ao longo do dia, o mercado foi se ajustando às notícias do momento. “A troca de comando da Petrobras e o pagamento de dividendos ontem pela companhia, próximo de máximas históricas contaminaram o mercado junto com outras questões que surgiram desde ontem, como o presidente dos Estados Unidos defendendo uma possível invasão de Taiwan e notícias mistas sobre a China, que agora no final vieram positivas e volta a estimular.”

O dólar comercial fechou em alta de 0,08%, cotado a R$ 4,8110. A pressão inflacionária doméstica, alta das commodities e valorização do euro foram fatores relevantes durante toda a sessão.

Segundo o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, “o IPCA-15 acima do esperado mostrou que a inflação ainda está ruim, e tornou a tarefa mais difícil o trabalho do Banco Central (BC)”. O IPCA-15 de maio ante abril foi de 0,59%.

Rosa acredita que isso deve adiar o início da diminuição da taxa básica de juros, que era projetada para 2023: Diante deste quadro, é muto difícil que isso aconteça, opina.

De acordo com o head de câmbio e sócio da Ethimos Investimentos, Lucas Brigato, “a tendência é que o dólar caia, e deve atingir o suporte de R$ 4,66”. O executivo aponta que o Brasil tem sido uma das poucas opções para investidores que desejam aportar capital em países emergentes, situação que é potencializada pelas altas taxas de juros brasileiras.

Brigato entende que a reabertura da China gera alívio nos mercados e valoriza as commodities, movimento que valoriza o real e atrai capital especulativo.

Para a economista e estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli, “os desdobramentos na troca da diretoria da Petrobras podem trazer um pouco mais de cautela aos mercados”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em forte alta nesta terça-feira (24) após IPCA-15, a prévia da inflação, bem acima do que o esperado pelo mercado.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,410% de 13,265% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,000%, de 12,765%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,260%, de 12,030% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,010% de 11,775%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava de lado, cotado a R$ 4,8100 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo misto, com a Nasdaq caindo 2,35%, à medida que Wall Street voltou a fugir dos papéis de maior risco, o que impulsionou a queda das empresas de tecnologia. A Dow Jones, que passou a maior parte do pregão em queda, reagiu nos últimos minutos e fechou em leve alta.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,15%, 31.928,62 pontos

Nasdaq Composto: -2,35%, 11.264,4 pontos

S&P 500: -0,81%, 3.941,48 pontos