Bolsa fecha no negativo com peso do exterior; dólar sobe e encerra a R$ 5

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Mercado Gráfico Percentual
Foto: Svilen Milev / freeimages.com

São Paulo -A Bolsa fechou em queda, no patamar dos 112 mil pontos, seguindo o movimento de forte aversão ao risco no exterior em meio à volta da alta dos títulos do Tesouro norte-americano de longo prazo, os treasuries de 10 anos, e balanços corporativos.

Aqui, a Vale (VALE3), ação de maior peso do Ibovespa, ajudou a segurar o índice em boa parte do pregão com notícias favoráveis da China, mas devolveu a alta e fechou em baixa.

As ações da Vale (VALE3) caíram 0,09%. Mais cedo, foi aprovado o plano de emitir 1 trilhão de yuans, equivalente a US$ 137 bilhões, em bônus soberanos extras para impulsionar a economia.

Os treasuries de 10 anos voltaram a rondar acima dos 4,90%

A Weg (WEGE3) recuou 10,11% refletindo o balanço no 3T23 em que registrou lucro de R$ 1,3 bilhão, crescimento de 13,3%. Um analista de uma grande corretora, disse que o resultado da empresa veio bom, “mas está mostrando uma desaceleração daqui pra frente. A Weg alemã comprou 45% da Bewind [empresa de aerogeradores de energia] e dizem que, curto prazo, a empresa vai gastar dinheiro, mas vejo como um investimento”, disse.

Os papéis ligados ao setor de consumo caíram forte. Casas Bahia (BHIA3) perdeu 5,88%. Natura (NTCO3) recuou 5,06%. Já Magazine Luiza (MGLU3) passou boa parte do pregão em queda, mas passou a subir no final e fechou em alta de 2,12% com “um player comprando bastante, pode ser o posicionamento estratégico de algum fundo, além disso os juros futuros reduziram a alta”, disse Bruna Sene, analista de investimentos da Nova Futura Investimentos.

O setor bancário foi impactado pelo balanço do Santander Brasil (SANB11), apenas o Itaú (ITUB4) conseguiu manter a alta de 0,18%. O Santander Brasil teve lucro de R$ 2,729 no terceiro trimestre deste ano com alta de 18,2% ante o trimestre anterior e queda de 12,6% na relação com o mesmo período do ano passado. O papel caiu 1,74%.

Na ponta positiva, as ações do Grupo Ultra (UGPA3) ficaram entre as maiores altas do índice-subiram respectivamente 1,35%. “O papel ainda reflete a elevação de preço-alvo do JP Morgan para a ação”, disse André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital.

O principal índice da B3 caiu 0,81%, aos 112.829,97 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro registrou perda de 0,88%, aos 114.430 pontos. O giro financeiro foi de R$ 19,5 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em queda.

A analista de investimentos da Nova Futura Investimentos disse que a Bolsa está acompanhando o exterior. “Os treasuries estão subindo e os dados de vendas de imóveis novos nos Estados Unidos vieram acima do esperado [subiram 12,3% em setembro ante agosto e a previsão era de alta 0,70%], o que reforça resiliência da economia norte-americana e preocupação com juros mais altos, o mercado fica à espera do PIB no terceiro trimestre amanhã (26) e decisão do Fed na semana que vem”.

Bruna afirmou disse que a Vale abriu bem e segurava o índice, “mas acabou devolveu e passou a cair; o setor de consumo está pesado”.

Em relação aos balanços, a analista da Nova Futura Investimentos disse que “o lucro líquido do Santander veio maior que o esperado, a qualidade de ativos está melhorando e a rentabilidade em recuperação, muitas vezes grandes players aproveitam para montar posição estratégica ou desfazer de posição; já a Weg a expectativa de receita veio pior que a previsão, a ação pode ficar interessante para compra”.

Vinicius Steniski, analista de ações do TC, disse que os títulos do Tesouro norte-americano, o T-10, “estão subindo e com isso tira a atratividade dos ativos de risco, aqui os DIs também avançam; os próximos dias devem ser de volatilidade por conta dos resultados das empresas”.

Bruno Komura, analista da Potenza Investimentos, disse que o exterior “está pesando bastante; a Vale deve segurar o índice por causa de notícias de estímulos da China [foi aprovado o plano de emitir 1 trilhão de yuans, equivalente a US$ 137 bilhões, em bônus soberanos extras] e os resultados das empresas não animaram muito o mercado; Santander veio com balanço acima das expectativas, mas já começou devolver do início do pregão”.

Pedro Canto, analista CNPI da CM Capital, disse que as perspectivas são negativas para a Bolsa na sessão de hoje, pelo menos até o momento. “A Vale segura um pouco o Ibovespa com a alta do minério de ferro na China, por outro lado a curva de juros está abrindo, com o movimento espelhado nos treasuries [sobe], o que prejudica a Bolsa. A Weg reflete o balanço e setores sensíveis a juros-consumo, varejo e utilities, financeiro tentando segurar com o Santander Brasil, após o balanço com números mistos e na Espanha o resultado veio bom. O exterior também impacta com Nasdaq caindo forte, após o balanço do Google que não animou, apesar positivo da Microsoft”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,16%, cotado a R$ 5,0011. A moeda refletiu, ao longo da sessão, o ambiente de risk-off global, com o mercado tentando entender quais serão os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

Segundo o sócio da Top Gain Leonardo Santana, a entrada de capital fez o dólar cai, mas hoje o risk-off global faz com que o dólar não tenha uma tendência clara: “Estamos em um ponto de inflexão e fica mais difícil o dólar cair”, explica.

Para a economista do Banco Ourinvest Cristiane Quartaroli, “internamente, a questão fiscal traz um pouco de aversão ao risco, com o mercado colocando em xeque se o governo vai chegar no déficit zero ao final de 2024”.

Quartaroli entende que o mercado está “paralisado”, à espera de novas informações tanto aqui quanto lá fora, mas que o fluxo estrangeiro segue intenso, especialmente após os sinais positivos vindos da China.

“As pautas dessa semana são termômetro para a real disposição de Governo e Congresso em aprovar medidas necessárias para a melhora do arcabouço fiscal. Essa dificuldade em avançar com agenda econômica pode ser restrição de recuperação de ativos locais”, avalia a Ajax Research.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em alta, seguindo as Treasuries (títulos do Tesouro norte-americano), que já começaram o dia pressionadas, mas estressaram mais com dados de mercado imobiliário nos Estados Unidos, que sugerem que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) deve manter as taxas altas por mais tempo.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,110% de 12,126% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,920% de 10,935%, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,795%, de 10,805%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,995% de 10,980% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo negativo, com O S&P caindo para seu nível mais baixo desde junho e o Nasdaq nas mínimas desde fevereiro, após resultados trimestrais decepcionantes da Alphabet, controladora do Google e uma recuperação dos Treasuries.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,32%, 33.035,93 pontos
Nasdaq 100: -2,43%, 12.821,2 pontos
S&P 500: -1,43%, 4.186,77 pontos

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA