Bolsa fecha estável e fica abaixo dos 100 mil pontos; dólar vai a R$ 5,18

642

São Paulo – A Bolsa fechou o pregão desta segunda-feira em alta, impulsionada pelas ações dos bancos e Petrobras, mas limitada pela forte queda da Vale e commodities, e ao fim do pregão, não conseguiu voltar ao patamar dos 100 mil pontos.

Após abrir em queda, a Bolsa passou a virar junto com os papéis da Petrobras após a companhia anunciar a nomeação do diretor executivo de Exploração e Produção, Fernando Borges como presidente interino da companhia, e a renúncia de José Mauro Coelho até a eleição e posse do novo presidente, o que reduz o ruído em relação a uma possível investigação política sobre os lucros da companhia sugerida pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, após a companhia aumentar os preços dos combustíveis.

O dia também foi marcado por baixa liquidez devido às bolsas estarem fechadas nos Estados Unidos por conta do feriado nacional Juneteenth Independence Day, ou Dia da Emacipação, que comemora a emancipação dos afro-americanos escravizados, e queda das ações de companhias commodities ligadas à China, especialmente a Vale, em reflexo da forte queda do minério de ferro.

O Ibovespa, o principal índice da B3 encerrou a sessão estável, em alta de 0,02%, aos 99.852,67 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto subiu 0,28%, aos 101.635 pontos. O volume financeiro foi de R$ 17,3 bilhões. Em Nova York, as bolsas não operaram devido ao feriado e os índices futuros fecharam mistos.

As ações do Bradesco (BBDC3; BBDC4) fecharam em alta de 2,01% e 2,65% após a companhia anunciar o pagamento de R$ 2 bilhões em dividendos. As ações do Itaú, Santander e Banco do Brasil acompanharam o movimento positivo e ganharam 4,34%, 0,76% e 2,13%.

As da Petrobras (PETR3; PETR4), que têm forte peso no índice, subiram 0,86% e 1,13%, recuperando parte das fortes perdas das últimas semanas – só na última sexta, a estatal perdeu R$ 27,3 bilhões em valor de mercado, segundo a plataforma de dados financeiros Economatica.

Pela manhã, os papéis mostraram forte volatilidade e chegaram a ter as negociações suspensas por duas vezes no início do pregão devido aos comunicados sobre a renúncia do presidente da companhia, José Mauro Coelho, e da nomeação de Fernando Borges para ocupar a presidência interinamente. A retirada temporária de uma ação do pregão é adotada sempre que há alguma divulgação ou movimento de mercado capaz de provocar oscilações potencialmente prejudiciais à operação.

Já as petrolíferas Petro Rio (PRIO3) e 3R Petroleum (RRRP3) caíram 0,65% e 3,31%, em meio às discussões políticas sobre preços praticados pela estatal e possíveis taxações do setor de óleo e gás.

Além do pedido de demissão apresentado por seu presidente, a Petrobras anunciou o pagamento de dividendos no valor de R$ 1,857745 por ação ordinária e preferencial, no total de R$ 24,2 bilhões, referente a primeira parcela de remuneração aos acionistas aprovada pelo conselho de administração em reunião realizada em maio. A segunda parcela está prevista para 20 de julho.

As ações da Vale (VALE3) – que representam 16% das ações negociadas no Ibovespa – registraram forte queda (-2,46%), assim como as de CSN Mineração (CMIN3, -3,98%), Braskem (-2,40%), em dia de forte queda do minério de ferro devido à política de combate ao Covid-19 que impõe restrições e reduz a demanda por matérias-primas na China.

Para José Costa, economista-chefe da Codepe Corretora, a liquidez está baixa por conta do feriado nos Estados Unidos, além da questão com a China, que deve permanecer enquanto o país asiático continuar a mostrar dificuldades no combate à pandemia de Covid-19 e continuar a anunciar aberturas e fechamentos.

Em relação à Petrobras, o movimento de hoje pode ser visto como uma forma de atender o estatuto da companhia e seguir os ritos legais de troca de comando, além de evitar a instalação de uma CPI contra o executivo. “Por que o governo não usa o valor que recebe de dividendos para criar um subsídio à população”, opina o analista.

Hoje, a Petrobras pagará em dividendos, dos quais a União receberá mais uma parcela, de R$ 8,8 bilhões, do lucro da estatal. Essa cifra faz parte de um total de R$ 32 bilhões apenas em dividendos que serão pagos até julho ao governo. Desde o início da gestão Bolsonaro, em 2019, o governo já recebeu R$ 447 bilhões da estatal, entre impostos, royalties e dividendos.

O mercado deve seguir volátil com o temor de recessão e políticas de ajuste fiscal mais duras. “O mercado está muito difuso, não está muito firme. O investidor precisa olhar a relação preço por lucro (P/L) das companhias. Se o P/L estiver em 180, 190 é complicado. Para frente a preocupação é com a elevação de juros nos Estados Unidos. A ideia é fechar o ano em 3,25%, mas vai depender da inflação, que tem que ficar abaixo de 8%, então é preciso trabalhar no dia dia”, comenta o Costa.

O dólar comercial fechou em alta de 0,81%, cotado a R$ 5,1880. A moeda norte-americana refletiu as incertezas fiscais domésticas que voltaram a ganhar força com o aceno do governo em aumentar o valor do Auxílio Emergencial, em dia de baixa liquidez devido ao feriado nos Estados Unidos.

De acordo com o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “a possibilidade do governo aumentar o valor do Auxílio Brasil, fora do teto de gastos, aumenta o risco país”.

Borsoi entende que o início do processo de aperto monetário em alguns dos bancos centrais de economias desenvolvidas, aliado à fase final de aumento dos juros brasileiros, “começa a levar o dinheiro para fora”. A queda dos preços das commodities, em especial o minério de ferro, também dão sinais de que os fatores que outrora favoreciam a moeda brasileira, começam a dar sinais de exaustão, opina o economista.

Para o head de análise macroeconômica da GreenBay Investimentos, Flávio Serrano, “a percepção é de piora no quadro econômico, e isso é mal recebido pelo mercado”.

Serrano, contudo, considera que um novo furo no teto de gastos pode ser ainda mais prejudicial do que o ocorrido na Petrobras: “Isso sim é ruim para a moeda, já que aumenta a piora da percepção do quadro fiscal e intensifica o viés intervencionista”, analisa.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) abriram em leve alta nesta segunda-feira (20), em dia de feriado nos EUA no aguardo da ata do Copom (Comitê de Política Monetária), mas fecharam em queda.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,580% de 13,550% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,195%, de 13,220%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,465%, de 12,520% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,380% de 12,450%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 5,1860 para venda.

Com Paulo Holland e Pedro do Val de Carvalho Gil / Agência CMA