Bolsa fecha em queda seguindo exterior com atenção à inflação; dólar cai

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A Bolsa fechou em queda pelo terceiro dia consecutivo com os investidores preocupados com o aumento dos juros nos Estados Unidos e com o petróleo mais alto podendo impactar na inflação. A liquidez foi reduzida.
A preocupação com a inflação tem aumentado entre os dirigentes do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) e cresce a expectativa de elevação de 0,50 ponto porcentual (pp) na taxa de juros do país nos encontros até o final do ano.
O Ibovespa subiu na primeira metade do pregão após o resultado da inflação nos Estados Unidos (CPI, sigla em inglês) em que apontou um núcleo melhor que o esperado ajudando o bom humor dos investidores, mas como o índice de preços ao consumidor ainda é alto, maior em 40 anos, preocupou os dirigentes do Fed e acabou impactando negativamente a Bolsa.
O principal índice da B3 caiu 0,68%, aos 116.146,86 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril perdeu 0,64%, aos 116.235 pontos. O giro financeiro foi de R$ 24,3 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.
Viviane Vieira, operadora de renda variável da B.Side Investimentos comentou que as falas de dirigentes do banco central norte-americano atreladas ao relatório da Opep contribuíram para a queda da Bolsa. “Os membros do Fed disseram que vão acelerar uma alta de juros para tentar conter a inflação e equilibrar a economia; é uma mistura de sentimento que o Fed tem passado e acaba penalizando o mercado; o aumento do petróleo também acaba prejudicando a inflação”.
A Opep cortou a previsão de demanda do petróleo mundial em 2022 por causa da guerra na Ucrânia.
Um analista do mercado financeiro que não quis se identificar disse que “a baixa liquidez propicia a queda da Bolsa ao acompanhar o mercado externo com a preocupação em relação ao aumento de juros nos Estados Unidos. Já se especula que o banco central norte-americano eleve em 0,50 ponto porcentual (pp)os juros em todas as reuniões até o final do ano”.
Ricardo Leite, head de renda variável da Diagrama Investimentos, disse que o Ibovespa perde um pouco de força com o mercado digerindo o CPI e ainda por conta dos resquícios da véspera da fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto na véspera, em que deixou o campo aberto para a taxa de juros chegar entre 13,50% e 13,75% ao ano (aa) uma vez que o IPCA veio acima do esperado [subiu 1,62% em março].
“Se por um lado o Banco Central tem uma política mais contracionista, por outro o governo age com atos mais populistas com alguns estímulos monetários, como zerando IPI e antecipação do 13 salário, o que mostra que eles acabam se contra anulando, refletindo nas empresas e em movimentos mais negativos no nosso mercado”.
Na sessão de hoje, algumas small caps estão performando melhor que o Ibovespa, uma vez que estavam muito descontadas em relação ao movimento de recuperação da Bolsa desde o começo do ano. “São criadas oportunidades que atraem o fluxo estrangeiro porque elas são boas empresas, têm potencial de crescimento e acabam sendo menos influenciadas com a alta de juros aqui e nos Estados Unidos”.
Nicolas Farto, especialista em renda variável da Renova Invest, disse que um certo relaxamento nas medidas restritivas na China “já trouxe expectativa de demanda por petróleo, que sobe, e a Opep se manifestando que é impossível repor toda a saída da Rússia na produção da commodity”.
Farto afirmou que o índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos veio em linha com o esperado pelo mercado, mas ” o núcleo veio bem abaixo das estimativas-0,30% no mensal (consenso 0,50%) e no anual 6,5% (consenso 6,6%); o que deu um certo alívio no mercado”.
O dólar comercial fechou em R$ 4,6750, com queda de 0,34%. A moeda norte-americana foi impactada pela inflação persistente nos Estados Unidos, enquanto o real também refletiu as preocupações com o risco de uma recessão econômica após as divulgações dos dados do setor de serviços em fevereiro, que caíram 0,2% ante expectativa de +0,6%.
Segundo o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, “o índice cheio veio em linha com o esperado, mas o núcleo foi abaixo das expectativas. O mercado receava que os dados surpreendessem para cima, o que não ocorreu.
Isso reduz as apostas para um Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mais agressivo na reunião de maio”. A inflação nos Estados Unidos subiu 1,2% em março ante fevereiro; a projeção era de 1,1%. Já na base anual, o aumento foi de 8,5% ante expectativa de 8,4%.
Rostagno acredita que os dados decepcionantes do setor de serviços diminuem as expectativas para a extensão do ciclo de aperto monetário: “Isso poderia causar uma recessão econômica”, analisa.
Para o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio Leal, “os dados vieram em linha com as expectativas, foi uma sensação de alívio. O mercado tinha medo de que a inflação disparasse”.
Leal ainda sublinha que o real está subindo em linha com seus pares emergentes, que se beneficiam com investimentos que antes iam para a Rússia: “Houve um redirecionamento, e parece que este movimento também começa a acontecer em relação à China”, observa.
De acordo com o sócio fundador da Pronto! Invest, Vanei Nagem, “o dia é marcado pela divulgação da inflação nos Estados Unidos, e que mostra a preocupação com os preços do mercado com os combustíveis, com a inflação global”.
A continuidade do conflito na Ucrânia também tem papel fundamental neste quebra-cabeça: “Não existe esperança da guerra acabar em um curto prazo, e isso mexe com os preços”.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam mistas, com tendência de alta, após fala da vice-presidente do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano), Lael Brainard. Sua fala foi considerada hawkish, ao dizer que reduzir a inflação é a tarefa mais importante do Fed.
O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,100% de 13,085% % no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,680%, de 12,650%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,000%, de 11,970% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,705% de 11,635%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em queda, apesar de abrirem o pregão em alta, quando a Nasdaq chegou a subir quase 2%. O movimento de baixa teve início após a divulgação dos dados de inflação pela manhã, que apresentou a maior alta para o índice nos últimos 40 anos.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,26%, 34.220,36 pontos
Nasdaq 100: -0,30%, 13.372 pontos
S&P 500: -0,34%, 4.397,45 pontos