Bolsa fecha em queda refletindo participação de Haddad em evento da Febraban e tem liquidez reduzida; Dólar sobe

819

São Paulo – Em mais um dia de mais liquidez, a Bolsa fechou em forte queda com os investidores recebendo mal o discurso do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, no evento promovido pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), mais cedo, em que representou o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

O mercado alega que Haddad não abordou a questão da responsabilidade fiscal, tão esperada pelos investidores. Na semana, o Ibovespa fechou em leve alta de 0,09%.

A grande maioria dos papéis do Ibovespa caiu no pregão de hoje. Os destaques ficaram para as ações ligadas à economia doméstica voltaram a sofrer com a pressão na curva de juros. Lojas Renner (LREN3) recuou 6,25%, Magazine Luiza (MGLU3) caiu 5,00%. Grupo Soma (SOMA3) perdeu 4,66%.

O principal índice da B3 caiu 2,55%, aos 108.976,70 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro perdeu 3,07%, aos 109.515 pontos. O giro financeiro foi de R$ 19,8 bilhões. Em NY, as bolsas fecharam mistas.

Apolo Duarte, CFP, sócio e head da mesa de renda variável da AVG Capital, disse que a participação de Haddad no almoço da Febraban fez a Bolsa cair mais na sessão de hoje. “A impressão que ficou foi que não foi dito claramente sobre a trajetória das contas públicas e não se deu pista concreta a respeito dos próximos passos da política fiscal, que todo mundo queria saber”.

Gabriel Meira, economista da Valor Investimentos, disse que não houve nada de mais nas falas de Haddad, mas pode ser que “o mercado estivesse esperando algo mais agressivo no discurso e não aconteceu”.

Rodrigo Moliterno, head renda variável da Veedha Investimentos disse que o humor do mercado piorou após o discurso de Fernando Haddad no evento da Febraban.” Na atual discussão da PEC, o mercado estava esperando que ele falasse sobre as contas públicas e isso não foi dito, o que acabou decepcionando ainda mais; o mercado queria que o Haddad discursasse mais por ele e não em nome do Lula”.

Moliterno disse que o Lula “está fazendo de tudo para colocar uma pessoa na Fazenda para conduzir as necessidades do PT e como não tem nenhum nome forte para daqui a quatro anos para substituí-lo, Haddad seria uma possibilidade estando em um ministério em evidência.”.

Mais cedo, Acilio Marinello, coordenador do MBA em Digital Banking da Trevisan Escola de Negócios, disse que o encontro de hoje do ex-prefeito Fernando Haddad com a Febraban é “um termômetro importante e vai dar um outro sinalizador de quanto o mercado está confortável em tê-lo frente à pasta da Fazenda; não foi por acaso que o Lula o enviou para representá-lo”. Ontem a possibilidade da “dobradinha de Pérsio Arida e Haddad na Fazenda foi bem aceita pelo mercado e o reflexo foi imediato na Bolsa.

Marinello comentou que o mercado espera a confirmação de Haddad frente à pasta da Fazenda e esse anúncio deve se dar já na próxima semana. “Isso deve trazer previsibilidade ao mercado, não tranquilidade, e os investidores poderão avaliar se são nomes atrativos ou não”.

O coordenador do MBA em Digital Banking da Trevisan Escola de Negócios ainda completou que as ações das varejistas voltaram a sofrer diante da composição de “cenário macroeconômico com perspectiva de inflação continua, expectativa de não ter uma antecipação na redução da taxa de juros e o resultado imediato aquém do esperado pela Black Friday”.

O dólar comercial fechou em alta de 1,86%, cotado a R$ 5,4100. O driver de hoje foi majoritariamente doméstico, com o mercado não tendo recebido bem a falta de novidades na participação do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad no almoço anual da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Na semana, o dólar teve valorização de 0,60%.

Segundo o analista da Ouro Preto Investimentos Bruno Komura, “o mercado estava esperando alguns anúncios no evento e na fala do Haddad não houve nada de novo. Isso frustrou o mercado. Uma coisa que já é certa é que o ministro (da Fazenda) vai ser político. Agora o mercado espera que nas secretarias os nomes sejam mais técnicos”.

Para o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, “assim como ontem, a liquidez tende a ser reduzida. Lá fora, o mercado não está bom para emergentes, com o número de casos de Covid aumentando rapidamente na China, o que poderia desacelerar ainda mais a economia”.

Rostagno entende que fatores domésticos também contribuem para o movimento de maior aversão ao risco: “As notícias hoje são menos animadoras, afirmando que o (ex-presidente do BNDES) Pérsio Arida não aceitaria ficar no ministério do Planejamento enquanto Haddad ficaria na Fazenda”, opina.

De acordo com o boletim da Correparti, “as restrições na atividade na China pesariam na atividade de toda a região. O dólar, lá fora, ganha de seus pares e das emergentes ligadas às commodities”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam alta após fala do ex-ministro Fernando Haddad em evento da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

Por volta das 16h30 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,702% de 13,698% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 14,480%, de 14,310%, o DI para janeiro de 2025 ia a 13,900%, de 13,615% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 13,605% de 13,340%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 5,4100 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo misto, com o Dow Jones subindo 0,4% na contramão dos outros índices, numa semana de negociações mais curtas que encerram com ganhos apesar do baixo volume de compras e vendas.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices futuros de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,45%, 34.347,03 pontos
Nasdaq 100: -0,52%, 11.226,4 pontos
S&P 500: -0,02%, 4.026,12 pontos

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA.