Bolsa fecha em queda puxada por IPCA-15, mas encerra a semana no positivo; dólar recua

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São Paulo- A Bolsa fechou em queda pelo segundo dia consecutivo, descolou de Wall Street, puxada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15) de agosto, prévia da inflação oficial, acima das expectativas-subiu 0,28% e o mercado previa alta de 0,17%- deixando os investidores cautelosos e atentos para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) (19 e 20 de setembro) sobre o ciclo de queda da Selic. As empresas ligadas à economia doméstica e sensíveis a juros caíram. Na semana, encerrou em leve alta de 0,37%.

Mais cedo, o discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, no simpósio de Jackson Hole, teve primeiramente um impacto negativo, mas o mercado foi absorvendo o tom mais duro deixando a porta aberta para a manutenção da taxa de juros por mais tempo e até uma alta de juros. Tudo vai depender nos dados econômicos. Na próxima semana tem inflação PCE e payroll.

Os destaques positivos ficaram para os papéis da São Martinho (SMTO3), SLC Agrícola (SLCE3), Raízen (RAIZ4), subiam 4,01%, 1,89% e 1,60% ainda refletindo a notícia da véspera com a possibilidade da India, maior produtora de açúcar do mundo, deixar de exportar a commodity.

As empresas ligadas à economia doméstica caíram. Magazine Luiza (MGLU3) perdeu 3,31%. MRV(MRVE3) cedeu 5,57%. Petrobras (PETR3 e PETR4) e Vale (VALE3) caíram 0,79% e 0,68%, 0,20%, respectivamente.

O principal índice da B3, caiu 1,01%, aos 115.837,20 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro perdeu 1,30%, aos 117.550 pontos. O giro financeiro foi de R$ 18,8 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em alta.

Arlindo Souza, analista de ação do TC, disse que o IPCA-15 acima das expectativas refletiu no Ibovespa de forma negativa. “O IPCA-15 acabou puxando os juros futuros e com isso a rentabilidade da Bolsa acaba sendo afetada, algumas empresas de commodities estão performando bem como Raízen, Suzano, 3RPetrolium com a alta do petróleo; e na ponta negativa estão as ações ligadas ao mercado interno por conta dos DIs”.

Elcio Cardozo, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital. disse que o IPCA-15 “surpreendeu o mercado e os investidores estão confiantes na continuidade do ciclo de baixa da Selic, acredito em uma redução de 50bps na próxima reunião; as ações ligadas ao varejo e construção estão em queda em consequência da alta na curva de juros futuros, o setor financeiro caía refletindo o projeto de lei sobre rotativo do cartão, se o projeto for aprovado, os bancos deverão reduzir suas receitas, uma vez que os juros cobrados pelo rotativo são em torno de 440% ao ano; em relação às falas do Powell vieram em linha com os últimos discursos de membros do Fed e do próprio Powell e o consenso está mantido em que o Fed continuará subindo juros até a desaceleração econômica e o controle inflacionário nos Estados Unidos”.

Nicolas Farto, sócio e head de renda variável da Vértiq Invest, disse que não houve novidades no discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, desagradou os que pensavam que indicasse um final de ciclo. “O Powell deixou claro que vai perseguir a meta e os que estavam apostando no final de ciclo o discurso ficou claro que não estão [os integrantes do Fed] abandonando a meta de inflação de 2% e ela está bem longe disso; a porta fica aberta para uma manutenção da taxa de juros por um tempo maior que se esperava e até uma alta de juros dependendo dos dados; ele reforçou o que já vem falando, depende dos dados, dois meses de queda de inflação não são suficientes para mudar a postura do banco central; o que pode ter frustrado alguns é a aposta de que ele poderia sinalizar um final de ciclo por conta da queda da inflação, acreditava de poderia mudar o tom do discurso, mas não é o que pensa a maioria do mercado”.

Farto ressaltou um ponto interessante no CME, a bolsa de derivativos de Chicago. “As apostas de manutenção da taxa de juros em setembro chegaram a apresentar pequena queda, mas chamou a atenção a reunião de novembro, está quase 50 a 50 de manutenção da taxa ou até elevação de juros,”.

O sócio e head de renda variável da Vértiq Invest, disse que a nossa Bolsa foi impactada pelo IPCA-15. “Aqui o reflexo do IPCA-15 torna um pouco mais difícil o trabalho do BC e ficou fora do radar a queda maior da Selic, as pautas fiscais que vinham dando alívio, agora a perspectiva mais positiva pra Brasil acabou esfriando e está fazendo preço”.

Eduardo Moutinho, analista de mercado da Ebury, disse que as falas de Powell foram mistos, mas deixou em aberto que poderá ter uma pausa ou elevar novamente os juros nas próximas reuniões. “Powell disse que o banco irá ‘proceder com cuidado’ ao decidir se manterá a taxa de juros inalterada em setembro. Entretanto, ele também observou que mais aumentos podem ser necessários, reafirmando o compromisso do Fed com a meta de inflação de 2%. Uma pausa em setembro ainda parece provável, mas o mercado agora vê uma chance um pouco maior de um aumento final de 25 pontos-base em novembro ou dezembro (64% precificado)”.

Segundo a economista-chefe da B. Side Investimentos, o IPCA-15 veio acima das expectativas, mas a inflação ainda não preocupa, mas o mercado fica cauteloso.

“A prévia da inflação foi impulsionada pela alta foi energia elétrica, tinha um bônus de Itaipu que estava sendo creditado em algumas contas de algumas regiões e isso acabou, também teve aumento das tarifas em umas capitais. Só o grupo habitação contribuiu com 16 pontos desse 0,28% do IPCA. De maneira macro é uma inflação que não preocupa tanto e com uma alta concentrada em um grupo só. Para o mês que vem, vemos um pouco do impacto em habitação e grande efeito em transportes porque a alta dos combustíveis não pegou o IPCA cheio. O grupo serviços desacelerou, mas núcleos de maneira geral voltou a acelerar, isso incomodou e reforça o que o Campos Neto [presidente do BC] disse agora pela manhã que não está vencida a batalha contra a inflação, não dá para relaxar, e a leitura é que ela [a inflação] vai consolidar a visão de que o ciclo de corte de juros será de 50 em 50 pontos. a composição da inflação é benigna, mas deixa o mercado em alerta”.

O dólar comercial fechou em queda de 0,09%, cotado a R$ 4,8747. O dia foi marcado pelo discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, em Jackson Hole, Estados Unidos, tido como hawkish (duro, propenso ao aumentos dos juros) pelo mercado. Na semana, a moeda teve desvalorização de 1,86%.

Para o analista da Potenza Investimentos Bruno Komura, o dólar segue forte com a sinalização de que os juros estadunidenses devem permanecer altos por mais tempo.

“Estamos vendo o dólar se valorizar um pouco. O ativo começou o dia em baixa, mas com a continuidade do tom duro no discurso do Powell, o mercado virou. Não esperávamos mudança no discurso, mas o mercado estava mais otimista e por isso acabamos vendo este movimento de apreciação do dólar. No médio prazo, achamos que o dólar poderá retomar o movimento de desvalorização”, avalia Komura.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em alta, impulsionadas pela prévia da inflação divulgada mais cedo – que veio pior do que o esperado – e pela fala hawkish (tom severo), de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), pela manhã, no simpósio Jackson Hole.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,415% de 12,390% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,515% de 10,050%, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,070%, de 9,965%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,235% de 10,160% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo positivo, com os traders celebrando os comentários do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, na conferência anual em Jackson Hole, que indicam um crescimento econômico mais forte do que o esperado.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,73%, 34.346,90 pontos
Nasdaq 100: +0,94%, 13.591 pontos
S&P 500: +0,67%, 4.405,71 pontos