Bolsa fecha em queda puxada por bancos, varejo e nova política industrial; descola do exterior

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São Paulo – A Bolsa fechou em queda, no patamar dos 126 mil pontos, descolada de Nova York, puxada por papéis do setor financeiro, varejo e refletindo o plano lançado pelo governo com incentivos à indústria.

O anúncio feito pelos presidentes Lula e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, assustou o mercado com temor ao comprometimento do quadro fiscal.

O Itaú (PN, -1,63%) e o varejo caiu em bloco. O destaque negativo ficou para as ações de Lojas Renner (ON, -5,44%). Vale (ON, -0,44%).

O principal índice da B3 caiu 0,81%, aos 126.601,55 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro recuou 0,85%, aos 127.200 pontos. O índice oscilou entre a mínima de 125.875,65 pontos e a máxima de 127.842,59 pontos. O giro financeiro foi de R$ 18,5 bilhões. Em NY, os índices fecharam em alta.

Para Alexandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, o Ibovespa fechou em queda influenciado pelo desempenho ruim dos setores financeiros, de varejo e consumo, que sofrem com o avanço dos juros futuros, além do fiscal doméstico.

“Ações do setor bancário caíram com o mercado reagindo negativamente aos planos do governo de direcionar R$ 250 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para apoiar projetos no setor industrial até 2026. No cenário político, o destaque foi o impasse entre o governo e o Congresso em decisões de peso sobre as contas fiscais, que gerou cautela e instabilidade em dia de agenda esvaziada”.

Os papéis da Embraer (EMBR3) ficaram entre as maiores altas do índice, em 1,96%, monitorando as informações de que a agência reguladora de aviação dos EUA (FAA) recomendou que companhias aéreas que utilizam aviões Boeing 737-900ER inspecionem as portas de saída de emergência, disse Nishimura.

Lucas Almeida, especialista em mercado de capitais e sócio da AVG Capital, disse que em dia de volume abaixo da média e com a alta dos DIs, o Ibovespa teve um dia negativo, “após as falas do presidente do BNDES, Mercadante, [Aloizio Mercadante] e declarações de Lula em relação à política industrial. A nova política industrial, com foco em incentivos fiscais para setores específicos, gerou preocupações entre investidores”.

Nicolas Farto, sócio e head de renda variável da Vértiq Invest, disse que o mercado está voltado para o cenário doméstico com preocupação com a questão fiscal, oposto aos sinais externos.

“Aqui pode ter alguma correlação com a MP da reoneração da folha de pagamento, que na visão do governo pode impedir de atingir a meta [déficit zero], que boa parte do mercado acredita que vai ser difícil de se dar. A fala do Mercadante [Aloizio Mercadante, presidente do BDNES] e do Lula sobre política industrial pode contribuir para o dia mais negativo, deve estar impactando nos preços; a Vale está pesando bastante, a curva de juros abrindo, varejo caindo quase que em bloco, já as treasuries nos EUA estão arrefecendo”.

Bruno Komura, analista da Potenza investimentos, disse que o mercado fica receoso com a nova política industrial e o impacto no fiscal.

“Desde o começo do ano estávamos descorrelacionado com o exterior, antes a discussão envolvia a MP da reoneração, com anuncio do BNDES é um problema grande, de onde vai vir esses recurso. Se for do Tesouro, é preciso ver com qual taxa vai emprestar. Se a taxa for subsidiada, vai desincentivar o mercado de crédito no Brasil e ainda favorecer setores, isso acaba sendo bastante ineficiente e não vai ter retorno expressivo em termos de crescimento de País para ajudar compensar esse subsídio. Tudo isso, no final acaba deteriorando o fiscal, por isso o mercado não gosta. A gente já viu isso e entramos em uma crise forte”.

Mais cedo, Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos, a Bolsa está sem direção com o investidor de olho no exterior e o quadro fiscal por aqui.

“A questão do setor imobiliário na China deve ter levado o banco central chinês a manter a taxa de juros [de um ano em 3,5% e de cinco em 4,2%], e isso tem pressionado Vale, que cai desde a abertura [chegou a recuar de quase 2% e voltou um pouco], Petrobras sobe um pouco. O mercado está preocupado com o fiscal aqui, com perspectiva de não cumprimento da meta fiscal e crescimento baixo do PIB. E lá fora com a redução na expectativa de um ciclo de corte de juros em março, o dinheiro trazido para cá está menos vantajoso e care trade acontecerá por período maior, ao longo da semana indicadores importantes serão divulgados nos EUA”.

Mais cedo, Ubirajara Silva, gestor de renda variável independente, disse que a sessão de hoje é mais tranquila em termos de indicadores, mas durante a semana será importante.

“Tem divulgação do PIB lá fora, inflação PCE e na sexta-feira (26) IPCA-15 aqui. Além disso, o banco central europeu decide sobre os juros e vamos observar as sinalizações. Por aqui, o mercado vai continuar acompanhando o fiscal para ver se a meta de déficit zero será mantida; o fluxo estrangeiro está negativo em quase R$ 1 bilhão, o que justifica um pouco a fraqueza da bolsa. Teve decisão de juros na China, o que provoca queda nas commodities metálicas”.

O dólar segue em forte alta. As incertezas que envolvem o cenário global, em especial China e Estados Unidos, somam-se aos ruídos fiscais domésticos e fortalecem a divisa estadunidense.

De acordo com o sócio da Top Gain Leonardo Santana, o desempenho do real, nesta segunda, tem relação direta com o risco de um desarranjo fiscal, que ainda não foi solucionado pelo governo e gera desconfiança no mercado.

Já o sócio da Pronto! Invest Vanei Nagem, explica que o mercado “entrou em uma onda de pessimismo e tem saído dinheiro da Bolsa”.

Nagem entende que o Fed não começar a cortar os juros em março causa certo temor no mercado, que também sente o impacto da desaceleração chinesa, derrubando o preço das commodities.

“Tudo isso aumenta a pressão no dólar. A queda da Selic e a manutenção das taxas de juros americanas diminuem nosso diferencial, tornando o real menos atrativo, além de diminuir o fluxo estrangeiro e até mesmo acarretar saída de capital”, avalia Nagem.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “apesar da alta das bolsas, a sessão negativa para as commodities deve pesar na abertura do Ibovespa. Dólar deve abrir em alta e, nos juros, o viés é de baixa”.

Por volta das 15h49 (horário de Brasília), o dólar comercial subia 1,25% cotado a R$ 4,9889 para venda. No mercado futuro, o contrato da moeda norte-americana com vencimento em fevereiro de 2023 avançava 1,14%, cotado a R$ 4.995,00

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em alta. Os Di passaram a subir após anúncio de plano indutor da indústria que o governo federal anunciou pela manhã. O mercado entende que a medida aumenta muito os gastos públicos e gera risco fiscal.

Por volta das 16h35 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,080% de 10,100% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 9,805% de 9,745%, o DI para janeiro de 2027 ia a 9,975%, de 9,880%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 10,230% de 10,125% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar futuro operava em alta, cotado a R$ 4.995 para a venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos avançaram ligeiramente na sessão, renovando as máximas do S&P 500, à medida que os investidores ficaram mais otimistas em relação à saúde da economia em meio aos sinais de um boom de IA para as empresas de tecnologia nos próximos balanços

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,36%, 38.001,81 pontos
Nasdaq 100: +0,32%, 15.360 pontos
S&P 500: +0,21%, 4.850,43 pontos

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA

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