Bolsa fecha em queda puxada por ações de bancos e varejo

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São Paulo – A Bolsa fechou em queda de 0,23%, aos 113.185,48 pontos, com as ações do setor bancário e do varejo contribuindo para o movimento negativo. Na véspera os papéis das varejistas, que vinham sofrendo recentemente, tiveram forte valorização, e na sessão de hoje aproveitaram para a realização de lucros. O Ibovespa não conseguiu acompanhar o movimento de forte otimismo em Nova York com os resultados favoráveis das empresas.
A Bolsa teve movimento de alta no início do pregão repercutindo os dados de volume de serviços no Brasil- subiram de 0,5% em agosto em comparação com julho e o setor acumula alta de 11,5% em 2021- mas não sustentou, apresentou bastante volatilidade até engatar a queda e fechar no negativo.
Os problemas internos com o fiscal seguem no radar dos agentes financeiros com a probabilidade de prorrogação do auxílio emergencial e os desdobramentos com o novo Bolsa Família.
Davi Lelis, especialista e sócio da Valor Investimentos, afirmou que a Bolsa opera em um ambiente de incerteza nesta quinta-feira. “Com a inflação elevada e muito acima do teto da meta por aqui, o governo tem tomado uma posição cada vez mais agressiva de alta de juros e traz um cenário menos positivo para a Bolsa”.
Os analistas da Terra Investimentos comentaram que a Bolsa chegou a operar em alta no início dos negócios, mas reverteu o movimento e “os setores de varejo e bancário contribuem para a queda do índice, além da construção civil”.
Os papéis do Bradesco (BBDC 3 e BBDC4) recuaram 0,96% e 0,93%; Itaú (ITUB4) baixaram 0,49%. As ações das varejistas Magalu (MGLU3) caíram 2,27%; Lojas Americanas (LAME4) perderam 2,15% e Americanas (AMER3) baixaram 1,52%.
Mais cedo, Caio Kanaan Eboli, sócio e diretor operacional da mesa proprietária Axia Investing, comentou que o índice demonstra o mesmo padrão errático dos últimos meses e “não há grandes gatilhos internos para as perdas”.
Eboli acrescentou que os bancos estão puxando o índice para baixo, papéis que têm forte peso na composição do Ibovespa. “Esperamos que a Bolsa continue trabalhando acima dos 111 mil pontos para romper a resistência imediata em 114.500 pontos. E, se for rompida joga o Indice para 120.000 pontos até dezembro”. Ele acredita para que essa pontuação melhore, o setor financeiro tem de reverter a tendência baixista no curto prazo.
Vicente Matheus Zuffo, fundador e CIO da Chess Capital, disse que esse movimento volátil do Ibovespa é de correção. “Como ontem foi vencimento do índice, a Bolsa acabou sendo puxada pelos agentes financeiros e hoje está corrigindo um pouco”.
Ontem o ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu a venda de ações da Petrobras para atender a população mais vulnerável. Hoje o presidente Jair Bolsonaro afirmou ter vontade de privatizar a empresa petrolífera e vai conversar com a equipe econômica. Zuffo não acredita que essas declarações tenham refletido de forma negativa no mercado. “O setor de petróleo é o único que está indo bem”. Os papéis da Petrobras (PETR3 e PETR4) fecharam de forma mista, após subirem, PetroRio (PRIO3) avançaram 4,26%.
O fundador e CIO da Chess Capital ressaltou que a Bolsa pode melhorar o desempenho “com o exterior indo muito bem”.
Rodrigo Moliterno, analista da Veedha Investimentos, compartilha a mesma opinião de Zuffo em relação aos comentários de Bolsonaro sobre a privatização da petrolífera. “A declaração do presidente está fazendo a Petrobras se manter positiva”, afirmou.
Moliterno disse que não conseguiu identificar o real motivo dessa volatilidade porque “não tem notícias para o mercado trabalhar nesse nível”. O Ibovespa futuro sinalizava alta antes da abertura da Bolsa e o Ibovespa chegou a abrir valorizado, mas passou a ficar volátil.
O analista da Veedha citou que os setores de varejo e bancos estão pesando no Indice. “Pode ser que os investidores estejam realizando lucros em virtude das altas da véspera. O setor de varejo teve bom desempenho no pregão de ontem”. Mas, acredita que ao longo do dia a Bolsa deve “se equilibrar.”
O dólar comercial fechou em R$ 5,5140, com alta de 0,09%. As incertezas fiscais e políticas, que persistem no cenário doméstico, impactaram diretamente no câmbio, pressionando o real.
De acordo com o chefe da mesa de derivativos da Genial Investimentos, Roberto Motta, a ação do Banco Central (BC) visa “criar liquidez no mercado e quebrar a dinâmica perversa de especulação, suavizando a alta do dólar”.
Ele ainda pondera que a instituição tem como objetivo mostrar ao mercado que ela está atenta aos movimentos do câmbio. Os problemas, diz Motta, são os mesmos dos últimos meses: “Continuam os riscos políticos e fiscais. O mercado ainda não sabe o que será feito com o teto de gastos, qual o tamanho do furo”, pontua.
Motta ainda compara o cenário do último trimestre do ano passado com o mesmo período deste ano, observando que o Banco Central, naquela ocasião, iniciou a injeção de liquidez apenas em meados de novembro, enquanto em 2021 este processo começou no final de setembro.
Para o economista da Renascença Corretora, Daniel Queiroz, a “PMS (+0,5%), acima do esperado, aumenta a expectativa de inflação e diminui a queda do dólar”. A projeção do mercado era de +0,4%.
Ainda segundo Queiroz, o mercado está sensível a fatores de inflação: “Embora o mercado espere um aumento de inflação com o aquecimento do setor de serviços, neste final de ano, acho que isso não terá um impacto tão grande”. O economista avalia que o dólar tende a virar na sessão de hoje, passando a subir.
De acordo com relatório da Ajax Capital, os “ativos de risco domésticos devem acompanhar bom humor externo. Espera-se uma abertura mais positiva para a bolsa, com queda nos DIs e Dólar”.
A Ajax salienta o leilão de swap cambial: “Esta operação não está atrelada a qualquer rolagem de vencimentos, portanto o BC injetará recursos novos no mercado”. Ela pontua, ainda, que este é o maior volume de operações realizadas pela instituição desde o dia 25 de março deste ano.
As taxas dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) fecharam em alta após o mercado acomodar fala do diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, que sinalizou aceleração da taxa básica de juros caso necessário para trazer a inflação para a meta em 2022.
Por volta das 16h30 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 7,336%, de 7,306% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 9,140%, de 9,050%; o DI para janeiro de 2025 ia a 10,060%, de 10,010% antes e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,460%, de 10,430%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos terminaram o dia com mais de 1% de elevação, embalados pelos resultados das empresas norte-americanas no terceiro trimestre. O Dow Jones deu um salto de mais de 500 pontos, enquanto o S&P 500 subiu ao maior nível desde março.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: +1,56%, 34.912,56 pontos
Nasdaq Composto: +1,73%, 14.823,40 pontos
S&P 500: +1,70%, 4.438,26 pontos