Bolsa fecha em queda pressionada por índices norte-americanos; dólar sobe

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São Paulo – A Bolsa fechou em queda e perdeu mais de 2 mil pontos pressionada pelo pessimismo nas bolsas em Nova York com o mercado à espera da reunião de amanhã (15) do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) com a aposta de que o colegiado deve acelerar o ritmo de redução de estímulos. Para alguns analistas, a baixa liquidez se traduz em cautela dos investidores. 

Na primeira metade do pregão, o Ibovespa operou em alta e chegou à máxima no interdiário de 109.147,66 pontos com a repercussão da ata Comitê de Política Monetária (Copom) e a boa performance de Vale (VALE3) e bancos. 

O principal índice da B3 caiu 0,58%, aos 106.759,92 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro perdeu 1,09%, aos 106.665 pontos. O volume financeiro foi de R$ 25,7 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda. 

Caio Henrique Soares Rodrigues, head e estrategista da Speed Invest, disse que a mudança de tendência da Bolsa é atribuída a piora das bolsas norte-americanas com o mercado acreditando em uma retirada dos estímulos em uma velocidade maior que o esperado por conta do novo cenário com a variante Ômicron. 

“O bom para o mercado seria se a remoção de estímulos viesse de uma maneira mais lenta e gradual, e aí a gente poderia ver um rali de final de ano com uma Bolsa mais forte nas últimas duas semanas de dezembro.” 

E completou “os Estados Unidos vão ditar muito os negócios nas próximas semanas por conta da decisão do Fed amanhã”. 

Em relação à ata do Copom divulgada mais cedo, o head e estrategista da Speed Invest afirmou que veio dentro do que o Banco Central já vinha sinalizando, a diferença é que “foram mais enfáticos e desenharam um cenário com mais aderência à conjuntura real”. 

Os papéis dos bancos mantiveram firmes, mas reduziram os ganhos do início da sessão. As ações do Bradesco (BBDC3 e BBDC4) subiram 1,35% e 1,51%; Itaú (ITUB4), Santander (SANB11) avançaram 0,97% e 0,06%, nessa ordem, com exceção dos papéis do Banco do Brasil (BBAS3), que passaram a cair e encerram em queda de 0,06%. 

As ações da Itausa (ITSA4) subiram 0,83% após a empresa anunciar que vendeu 7,8 milhões ações de sua participação na XP, equivalente a 1,39% do capital da corretora. Esse lote foi vendido com deságio de pelo menos 10%, de acordo com o mercado financeiro. Os BRDs (Brazilian Depositary Receipts, sigla em inglês) da XP- caíram mais de 5%. 

Segundo Caio Kanaan Eboli, sócio e diretor operacional da mesa proprietária Axia Investing, a Bolsa se descola do exterior nas últimas sessões “por estar excessivamente descontada e com o mercado apostando em um possível desenrolar positivo sobre a PEC dos precatórios, que tiraria um pouco do nosso risco fiscal”. 

Mais cedo, Eboli comentou que a boa performance da Vale (VALE3) que vem se recuperando da queda e “forma figura de reversão para alta (OCOI) podendo jogar o preço do papel para R$ 87,00 em um primeiro momento, e em segunda escala, a ação pode voltar para a casa dos R$ 100”. Os papéis da Vale (VALE3) fecharam estáveis. 

O dólar comercial fechou em R$ 5,6940, com alta de 0,35%. A moeda norte-americana foi afetada pelas chances cada vez maiores do anúncio da aceleração do tapering (remoção de estímulos) e da antecipação do aumento dos juros nos Estados Unidos já para o próximo semestre. 

Segundo a economista e estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli, “agora que o movimento está normal, o movimento da manhã não fazia sentido”. 

Quartaroli acredita que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) vai ser conservador, com o mercado incorporando a antecipação do aumento dos juros nos Estados Unidos: “Isso pressiona as moedas emergentes, que perdem força”, analisa. 

Para o chefe da mesa de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem, “a inflação veio altíssima nos Estados Unidos, refrescando o dólar aqui”. Para ele, o que mais surpreendeu o mercado foi a velocidade deste aumento nos preços, o que pode acarretar fuga de dólar no país. A inflação subiu 0,8% em novembro ante outubro, muito acima das expectativas de 0,5%. 

Quando questionado sobre os motivos desta inflação, Nagem aponta dois fatores: alta do consumo e queda da oferta: “A falta de matéria-prima para a produção de diversos produtos, afeta diretamente os preços”, pontua. O chefe da mesa de câmbio também acredita que a alta do petróleo impacta diretamente o resultado divulgado hoje. 

De acordo com boletim matinal da Correparti, “Enquanto aguardam as decisões de política monetária do Fed amanhã, investidores seguem de olho nos desdobramentos da nova cepa do coronavírus”. 

Para arrefecer o ímpeto da moeda estadunidense, o BC está injetando dólares no mercado, dando momentâneo alívio ao real: “A autoridade monetária continuará dando liquidez ao mercado na sessão de hoje ofertando até US$ 1 bilhão em linha, com direito de recompra. Tudo indica que o dólar abrirá em queda, devolvendo parte dos ganhos auferidos na sessão de ontem”, projeta a Correparti. 

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam de lado após a divulgação da receita real de serviços, que se refere à evolução do volume da atividade no setor em termos reais. 

O DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 9,150% de 9,154% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 11,470%, de 11,485%, o DI para janeiro de 2025 ia a 10,460, de 10,590% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,360% de 10,490%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar com vencimento para janeiro operava em alta, cotado a R$ 5,71 para venda. 

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em mais um dia de queda, com o Nasdaq recuando 1,14% – puxada para baixo pelo setor de tecnologia à frente da decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e após as vendas de ações do CEO da Tesla, Elon Musk. 

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento: 

Dow Jones: -0,30%, 35.544,18 pontos 

Nasdaq Composto: -1,14%, 15.237,6 pontos 

S&P 500: -0,74%, 4.634,09 pontos 

Edição: Cynara Escobar (cynara.escobar@cma.com.br)