Bolsa fecha em queda pressionada por commodities e recessão nos EUA no radar; dólar sobe

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São Paulo- Em dia de forte aversão ao risco, a Bolsa fechou em queda pelo segundo dia consecutivo pressionada pelas commodities, principalmente a Vale (VALE3), com o maior recuo do índice-caiu 6,66%.

Devido ao peso que tem impacta de forma expressiva no Ibovespa. Somado a isso, o cenário internacional com a preocupação com a recessão em meio à alta da inflação e a expectativa de que os juros nos Estados unidos subam mais, todo esse ambiente causa pessimismo entre os investidores.

Mais cedo, nos Estados Unidos, foi divulgado o índice de preços ao produtor (PPI, sigla em inglês), que aumentou 1,1% em junho ante maio e ficou acima das expectativas do mercado (+0,8). Ontem a inflação ao consumidor (CPI, sigla em inglês) já tinha pressionado o mercado. O CPI avançou 1,3% em junho na comparação com maio e, em base anual, a inflação subiu 9,1%.

Aqui foi dia de IBC-Br, a prévia do Produto Interno Bruto (PIB), que também desagradou os investidores. O indicador apresentou ligeira queda de 0,11% em maio ante abril, enquanto o mercado previa alta de 0,2%.

O principal índice da B3 caiu 1,79%, aos 96.120,85 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto perdeu 1,71%, aos 97.000 pontos. O giro financeiro foi de R$ 24,3 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistas.

Fabricio Gonçalvez, Ceo da Asset Management, disse que a Bolsa tem forte queda acompanhando a esteira internacional “onde as principais commodities como minério de ferro e petróleo cedem bastante e faz com que Vale e Petrobras sejam pressionadas”.

O cenário de inflação e recessão global também impacta o setor bancário por aqui negativamente e “leva o mau humor generalizado no mercado”.

Vinicius Augusto, assessor de investimentos, disse que os temores globais estão “impactando forte na Bolsa com o receio de uma recessão em meio a uma inflação acelerada e os juros mais elevados”.

Augusto disse que a “maioria do mercado está precificando um aumento de 0,75 ponto porcentual (pp) nos juros nos EUA, mas existem analistas já apostando em uma alta de 1 pp”.

Uma fonte de uma grande corretora que não quis se identificar disse que o pessimismo vem do exterior com a inflação alta.

“O PPI subiu e o mercado já aposta em um aumento dos juros em 1 ponto porcentual para a próxima reunião do Fed; os balanços dos bancos nos EUA não vieram bons e atrelado a isso as notícias vindas da China com os lockdowns e preocupação com a crise imobiliária derrubam as commodities [que têm forte peso no índice]”.

Mas, por outro lado, a queda das commodities “ajuda na inflação”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,51%, cotado a R$ 5,4320. A moeda norte-americana refletiu a forte aversão global ao risco, com novas dúvidas sobre a recuperação econômica da China e a expectativa por um Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mais duro.

Segundo o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “existe uma confluência de fatores negativos, como a queda das commodities, a crise imobiliária chinesa e a perspectiva de recessão na Europa”.

Borsoi explica que o aumento dos juros que tem sido executado por diversos bancos centrais no mundo, faz com que as taxas brasileiras – que até então eram convidativas – não despertem o mesmo interesse: “Nossa bolsa perdeu atratividade, especialmente as empresas ligadas às commodities. Além disso, estamos vendo um aumento do risco país, e os investidores estão buscando proteção em ativos de menor risco”, elucida.

O Fed mais duro também é um dos fatores que impactam as moedas emergentes, mas a China voltou a afetá-las negativamente: “A crise imobiliária chinesa nunca foi totalmente resolvida, e agora a recessão parece também ter chegado lá”, constata Borsoi.

De acordo com o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, “o PPI veio bem abaixo, e é muito provável que haja uma onda de revisão dos lucros das empresas, assim como o valor do dólar ao final de 2022 e performance da bolsa devem ser revistos”.

O índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) subiu 1,1% em junho ante previsão de +0,8%, enquanto o número de novos pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos chegou a 244 mil na semana encerrada no último dia 9 – a projeção era de 235 mil.

Komura acredita que as apostas de +1,0% na próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), no dia 27 deste mês, aumentaram: “Acredito que com esta inflação e o nível de emprego tão baixo, o Fed vai ter que ser agressivo. O momento agora exige isso”, analisa.

Para o sócio fundador da Pronto! Invest, Vanei Nagem, “a aversão ao risco é global com a inflação persistente nos Estados Unidos. As taxas de juros abriram muito hoje, e isso é preocupante”.

O CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês), divulgado ontem, subiu 1,3% em junho ante maio (projeção de +1,1%) e 9,1% no acumulado dos últimos 12 meses (projeção de +8,8%).

Nagem entende que aumentaram as chances de um Fed mais agressivo, o que faz com que diminua o fluxo estrangeiro especialmente nos países em desenvolvimento, além de enfraquecer as moedas dos emergentes.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecheram em alta com mercado ainda digerindo os dados de inflação dos EUA.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,900% de 13,875% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,875%, de 13,770%, o DI para janeiro de 2025 ia a 13,190%, de 13,075% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 13,000% de 12,920%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo misto, com o S&P 500 caindo pelo quinto dia consecutivo, à medida que os balanços trimestrais dos grandes bancos vieram decepcionantes e Wall Street avalia a possibilidade de um aperto monetário ainda mais forte do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,46%, 30.630,17 pontos
Nasdaq Composto: +0,03%, 11.251,2 pontos
S&P 500: -0,29%, 3.790,38 pontos

 

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA