Bolsa fecha em queda pelo segundo dia com pressão de Petrobras e Vale; Dólar cai

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Foto: energepic.com / Pexels

São Paulo – A Bolsa fechou no vermelho pelo segundo dia consecutivo com peso da Petrobras (PETR3 e PETR4), que estendeu as perdas no final da tarde, e da Vale (VALE3), que juntas representam quase 30% do índice. A queda das commodities reflete a desvalorização do minério de ferro em conjunto com o recuo do dólar.

Já a Petrobras (PETR3 e PETR4) é influenciada pelo contexto político. As ações da estatal caíram 4,74% e 4,62%. Mais cedo, alguns analistas do mercado disseram que a forte queda da estatal teria relação com falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a política de preços da companhia.

O presidente Lula não falou sobre o tema hoje, mas concedeu uma entrevista ao jornalista Kennedy de Alencar, que vai ao ar hoje às 23 h. A questão da política de preços da Petrobras consta em seu programa de governo, em que diz que o “País precisa de uma transição de uma nova política de preços dos combustíveis e gás”.

Atrelado às commodities, o Copom mais duro também impactou no Ibovespa. No comunicado da véspera, a autoridade monetária indicou que a taxa de juros pode seguir alta ainda por mais tempo. As ações de companhias aéreas foram destaque de alta favorecidas pela queda do dólar, apesar do reajuste de 17% do querosene de aviação. Por outro lado, as exportadoras caíam com a desvalorização da moeda norte-americana.

O principal índice da B3 caiu 1,72%, aos 110.140,64 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro perdeu de 2,05%, aos 110.400 pontos. O giro financeiro foi de R$ 30,1 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistas.

Apolo Duarte, sócio e head da mesa de renda variável da AVG Capital, disse que a mensagem mais dura do Copom e as commodities pesaram bastante no Ibovespa. “Tivemos realização forte no minério de ferro e impactou o setor de siderurgia, principalmente a Vale, que caiu mais de 4%”.

Acilio Marinello, coordenador do MBA em Digital Banking da Trevisan Escola de Negócios, disse que a queda do Ibovespa é puxada pelas commodities. “A Vale é a bússola da Bolsa e em meio à Super Quarta com um tom um pouco mais forte de uma política restritiva do Fed em que as taxas não devem ser reduzidas enquanto inflação não voltar a patamares históricos e o Copom também teve uma sinalização parecida; o contexto político com a eleição do Congresso também impactou no índice”.

Marinello comentou que as ações dos bancos chegaram a cair forte com o resultado do Santander Brasil (SANB11) abaixo das expectativas do mercado, mas após as falas do CFO do banco que “foram transparentes justificando o resultado e esclarecendo como vai ser a postura do banco para 2023, ajudou a reverter as ações e melhorou o setor”.

O coordenador do MBA em Digital Banking da Trevisan Escola de Negócios explicou que “o ambiente político pode influenciar nas estatais como a Petrobras (PETR3 PETR4)”.

Vale ressaltar a forte entrada de capital externo na Bolsa recentemente, isso ajuda na queda do dólar.

O dólar comercial fechou em queda de 0,29%, cotado a R$ 5,0460. A moeda chegou a cair mais de 2%, impactada pelo tom menos duro do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e de um discurso mais austero do Comitê de Política Monetária (Copom).

Segundo o especialista da Valor Investimentos Paulo Luives, “as falas dos presidentes dos bancos centrais têm ditado o ritmo do mercado de hoje”, referindo-se ao Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e Banco Central (BC).

Luives, porém, ressalta que a inflação de 2023 e 2024 dá sinais de desancoragem, o que dificulta a tarefa do BC no corte dos juros, e vai além: “O risco fiscal ainda é uma incerteza que paira sobre o mercado, e isso é um fator que inibe a valorização do real”, pontua.

De acordo com o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio Leal, “a postura do Banco Central (BC), ontem, foi mais hawkish (dura, propensa ao aumento dos juros) do que era esperado. Com os juros altos, o câmbio cai”.

“A junção do Fed dovish com o Copom hawkish faz muita pressão no câmbio. O movimento de hoje, no câmbio, não é nenhuma surpresa”, explica Leal.

Para o head de tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, “o mercado enxergou que o aperto do Fed está chegando ao fim. Isso derrubou as taxas das curvas de juros e faz com que o dólar se aproxime dos R$ 5,00”.

Weigt entende que o comunicado do BC, ontem, tinha endereço: “A mensagem foi mais para os políticos, reafirmando a independência do Copom. Entre os emergentes, temos a maior taxa real de juros do mundo, o que favorece o carry trade”, opina.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta, com mercado digerindo sinalização dura emitida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em sua decisão de ontem.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,645% de 13,590% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 12,990%, de 12,890%, o DI para janeiro de 2026 ia a 12,825%, de 12,850%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,840% de 12,915% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em queda, cotado a R$ 5,0400 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo misto, com destaque para o Nasdaq – que subiu mais de 3%, impulsionado pelo forte desempenho do setor de tecnologia, sobretudo pelas ações da Meta, controladora do Facebook.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,11%, 34.053,94 pontos
Nasdaq 100: +3,25%, 12.200,8 pontos
S&P 500: +1,46%, 4.179,76 pontos

Darlan de Azevedo / Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil