Bolsa fecha em queda mais moderada que NY por busca de proteção com eleições; dólar sobe

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São Paulo -A Bolsa fechou em queda mais moderada que os índices em Nova York com os investidores formando posições em hedge (proteção) devido às eleições no domingo (2).

Os agentes financeiros buscam ações mais sólidas e tradicionais como os bancos e Vale (VALE3) mediante qualquer um dos resultados- ganhando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou tendo segundo turno entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro- devido às incertezas políticas e um novo governo.

Mas, o Ibovespa chegou a cair bastante no pregão de hoje refletindo o mau humor no exterior com o cenário de recessão na Europa e após os dados de seguro-desemprego nos Estados Unidos mostrando o mercado de trabalho aquecido e o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano)pode ter uma postura mais dura em relação á política monetária.

O principal índice da B3 caiu 0,72%, aos 107.664,35 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro perdeu 0,47%, aos 108.170 pontos. O giro financeiro foi de R$ 23,3 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Virgilio Lage, especialista da Valor Investimentos, disse que os investidores estão estruturando a posição em hedge em empresas sólidas devido às eleições. “Entre hoje e amanhã, último dia útil de compra de ações o movimento vai ser preparação para esse hegde, construção de um cenário de incerteza que vai vir no domingo. A preocupação é o que as eleições podem causar com o público”.

Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed, disse que os mercados estão com tom pessimista aqui e mundo afora. “O grande ponto de hoje é o resultado de seguro-desemprego mostrando uma força de trabalho forte, o que gera preocupação em relação à inflação; uma fala de um membro do Fed de que vai continuar vigilante com a inflação e não tem previsão de arrefecimento de alta juros deixa o mercado mais temerosos com risco de recessão”.

As taxas de juros futuros (DIs) passaram a cair e apesar disso “não foi suficiente para gerar impacto no mercado local”. As ações das varejistas caíam forte como Americanas S.A (AMER3), Via (VIIA3) e Magazine Luiza (MGLU3) respectivamente 7,40%, 6,36% e 6,46%. As empresas aéreas sofrem com o conflito geopolítica entre Rússia e Ucrânia e China e Taiwan, segundo Petrokas. Os papéis da Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) tinham baixa forte de 8,79% e 8,17% e, em sete pregões, a Azul perdeu 20% do valor de mercado e a Gol 19%.

Os bancos privados como Itaú (ITUB4) e Bradesco (BBDC3 e BBDC4) subiam em um movimento de rotação de empresas mais arriscadas para os papéis mais tradicionais e previsíveis.

Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos, comentou que a Bolsa segue o pessimismo externo desde a abertura e intensificou com os dados de seguro-desemprego abaixo de 200 mil.

“Os números mostram que a autoridade monetária vai continuar a ser austera para que o problema da inflação seja equacionado e com essa postura do Fed tira dinheiro do mercado e bolsas que dependem desse capital, como os emergentes, sofrem”.

Arbetman também comentou que mais cedo os daos de inflação vieram melhores-IGP-M deflação de 0,95%- mas os “ativos estão sendo contaminados pelo exterior”. Outro ponto que o analista ressaltou é que “estamos em uma semana de eleições e existe cautela por parte dos investidores”.

Nicolas Farto, especialista em renda variável da Renova Invest, disse que hoje o dia deve ser mais conturbado com a pressão do cenário externo.

“Apesar de o IGP-M ter vindo com queda maior que o esperado-caiu 0,95% em setembro-, que deveria aliviar a nossa curva de juros, mas estamos respondendo muito ao mercado externo- a Loretta Mester [Fed de Cleveland] fala dos juros pra cima devido ao problema com a inflação, o que reforça a tese de recessão, os dados de seguro-desemprego mostraram que o mercado está aquecido e pressiona a inflação; na Europa com o imbróglio do gasoduto provocando estresse geopolítico, Alemanha com inflação alta e querendo tabelar preço de energia, o que não costuma dar muito certo e Inglaterra com mensagem ambígua em que eleva taxa de juros e ao mesmo tempo estimulando o mercado”.

Somado a esse ambiente hostil, segundo Farto, aqui estamos a três dias das eleições e “os investidores não vão querer ficar posicionados para passar o fim de semana”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,80%, cotado a R$ 5,3930. O movimento durante toda a sessão refletiu a forte aversão global ao risco, puxada pelas incertezas sobre as economias dos Estados Unidos e, principalmente, da Europa.

Segundo o head de tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, “o dólar vem se valorizando frente a todas as moedas, especialmente as emergentes. Devido à aproximação das eleições, o real perde mais, mas é um movimento natural”.

De acordo com o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, “a piora do cenário lá fora gera um cenário de grande aversão ao risco, com as perspectivas de reações a uma inflação muito forte. Isso também faz com que a Europa tenha de tomar uma atitude mais forte em relação aos juros”.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “o Produto Interno Bruto (PIB) veio em linha, mas a mensagem que fica é de um cenário de estagflação, porém o consumo das famílias ainda é alto. Enquanto isso não desaquecer, fica muito difícil o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) não ser duro”. O economista prevê um aumento de 0,75 ponto percentual (pp) e outro de 0,5 pp nas duas reuniões que ocorrem ainda em 2022.

Borsoi entende que os números dos pedidos de seguro-desemprego também são preocupantes: “Abaixo de 200 mil é um nível de pleno emprego, o que mostra um cenário de economia muito aquecida, com a inflação resiliente”, avalia Borsoi.

O PIB dos Estados Unidos caiu 0,6% no segundo trimestre, em linha com as projeções do mercado. Já os pedidos de seguro-desemprego ficaram em 193 mil, na semana encerrada no dia 24 de setembro, abaixo da previsão do mercado (215 mil).

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em queda, após uma abertura em leve alta nesta quinta-feira (29), após fala do presidente do Banco Central Roberto Campos Neto.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,695% de 13,685% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,865%, de 12,895%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,720%, de 11,740% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,675% de 11,715%, na mesma comparação.

No mercado internacional, os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam em queda na sessão, com a Nasdaq caindo 2,8% e o S&P atingindo sua mínima em 2022. Wall Street continua com receio de que a economia norte-americana continue fraca à medida que Federal Reserve (Fed, o banco central americano) continua com sua política monetária restritiva.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -1,54%, 29.225,61 pontos
Nasdaq 100: -2,84%, 10.737,5 pontos
S&P 500: -2,11%, 3.640,47 pontos

 

 

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA