Bolsa fecha em queda em dia decisão da Selic e exterior negativo; dólar sobe

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São Paulo- A Bolsa fechou em queda com as atenções dos investidores voltadas para a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) em que está dividida a aposta do mercado entre um corte de 0,25 ponto porcentual (pp) e 0,50pp.

O índice teve forte recuo durante praticamente toda a sessão refletindo o cenário mais pessimista no exterior com o rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos pela agência de classificação de risco Fitch, ontem, surpreendendo o mercado. As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) chegaram a cair mais de 2% e fecharam em baixa de 0,70% e 0,22%. Já a Vale (VALE3) recuou 1,62%.

Os papéis da Cielo (CIEL3) lideraram a queda do Ibovespa de 9,14%. “A empresa reportou balanço em linha com a expectativa do mercado, mas ligeiramente negativo. A companhia teve mais gastos administrativos, além de a receita ter subido menos que o esperado e, apresentou uma queda de 14% na base de clientes, o que o mercado viu de forma bem negativa”, disse Marcus Labarthe, especialista em mercado de capitais e sócio-fundador da GT Capital.

Na ponta positiva, Cogna (COGN3) foi destaque de alta de 3,31%. “A empresa já vem em um processo de melhora tanto no volume de operações quanto na sensibilidade perante o setor, além disso vem realizando internamente uma série de medidas para se adequar com as mudanças que o setor sofre, desde a pandemia”, disse Labarthe.

O principal índice da B3 caiu 0,32%, aos 120.858,72 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto baixou 0,13%, aos 121.420 pontos. O giro financeiro foi de R$ 20,7 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam no negativo.

Bruno Komura, analista da Potenza Investimentos, disse que “não encontra motivos para a melhora na Bolsa perto do fechamento, o mercado deve estar se animando com um corte na Selic em 0,50 ponto porcentual”.

Um outro analista de um grande banco de investimentos disse que o mercado está “apreensivo com o Copom e aposta em um corte de 0,25 pp e o BC deve vir com uma boa assinatura boa pra frente”.

Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos, o Ibovespa segue em queda pelo segundo pregão acompanhando “o mau humor externo, após a Fitch reduzir a nota de crédito dos Estados Unidos ontem, a agência citou a piora nas contas públicas nos próximos três anos e o elevado custo da dívida; a Bolsa também é afeada pelas ações da Vale com a piora da economia chinesa e Petrobras que pode ter lucro menor para manter o preço dos combustíveis abaixo dos níveis internacionais, ainda por aqui tem a expectativa da decisão de juros em que o Copom deve cortar a Selic hoje e a dúvida fica entre 0,25pp ou 0,50pp; mais cedo o ministro da Fazenda Fernando Haddad falou que o mercado trabalha com um corte de 0,75pp, é a pressão do governo sobre o Campos Neto”.

Ubirajara da Silva, gestor de renda variável, disse que a grande notícia foi rebaixamento dos Estados Unidos pela Fitch e está impactando o mercado global.

“Foi a uma surpresa para todos, as commodities estão sofrendo-petróleo sobe e minério cai, é ruim para os países exportadores de commodities; outro fator de atenção é o ADP, prévia do payroll, que veio acima das expectativas e vem mostrando crescimento forte de vagas no mercado norte americano; por aqui chegou o grande dia do Copom e vamos ver o que o BC vai fazer daqui pra frente, uma aposta de 0,50pp reduziu um pouco ontem, mas um corte maior e uma sinalização de redução maior daqui pra frente pode ajudar o Ibovespa; em relação à Petrobras, tem rumores de que o Prates iria reajustar os combustíveis, mas foi vetado pelo presidente e deve impactar a estatal”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,32%, cotado a R$ 4,8049. A moeda refletiu, ao longo da sessão, o temor gerado pelo rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos. Embora grande, a expectativa com a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que ocorre neste momento e vai anunciar no começo desta noite o novo valor da Selic (taxa básica de juros), ficou em segundo plano.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “a aversão ao risco com os Estados Unidos está preponderando sobre tudo. A situação por lá é bastante grave e delicada. Ninguém esperava isso (o rebaixamento) neste momento”.

Sobre o Copom, Borsoi pontua que o comunicado em mais importante do que o corte em si, que divide as projeções do mercado entre 0,25 ponto percentual (p.p.) e 0,50 p.p.: “A grande aposta é qual será a taxa terminal da Selic em 2024”, avalia.

O especialista em renda variável da Valor Investimentos Charo Alves explica que Brasil e Estados Unidos estão em momentos opostos de suas respectivas políticas, já que o Comitê de Política Monetária (Copom) dará início, hoje, ao corte da Selic, enquanto o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) ainda nem cogita em começar a cortar os juros.

Charo vê o dólar perdendo força globalmente, e que o rebaixamento do grau de investimento dos Estados Unidos foi mais um ingrediente que reforça o temor de recessão no país norte-americano. O real, pontua, tende a se manter, por ora, na faixa dos R$ 4,80.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham majoritariamente em queda. O driver de hoje é a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que no início da noite de hoje irá divulgar o valor atualizado da Selic (taxa básica de juros). o DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,645 % de 12,625% no ajuste anterior;

O DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,670 % de 10,680%, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,040 %, de 10,110 %, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,080% de 10,160 % na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão desta quarta-feira em queda, após rebaixamento da classificação de crédito dos Estados Unidos pela agência Fitch Ratings. Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,98%, 35.282,52 pontos
Nasdaq 100: -2,17%, 13.973,4 pontos
S&P 500: -1,38%, 4.513,39 pontos

 

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Larissa Bernardes / Agência CMA