Bolsa fecha em queda em dia de aversão ao risco global; dólar encerra a R$ 4,897

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São Paulo- A Bolsa fechou em queda em um dia de aversão ao risco global em meio aos dados mais fracos da balança comercial da China, taxação sobre os lucros extraordinários dos bancos na Itália e rebaixamento da nota de crédito de bancos regionais nos Estados Unidos. Com esse cenário, as ações da Vale (VALE3) caíram.

Hoje também foi dia de ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), dias 01 e 02, em que não apresentou novidades e o ritmo de corte da taxa básica de juros deverá ser mantido em 0,50 ponto porcentual (pp).

Na China, as importações registram queda de 12,4% em julho na base anual, mais forte que a estimativa de 5% e, em relação às exportações o recuo foi de 14,5%, enquanto se esperava 12,5%. Outro ponto no país asiático foi que a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou uma das maiores construtoras do país, a Country Garden foi rebaixada pela Moody, depois que a companhia disse que não pagou dois cupons em dólares que venciam em agosto

O balanço do Itaú (ITUB4) referente ao 2T23, divulgado na véspera, no primeiro momento não teve repercussão devido ao cenário externo que pesou por aqui, após a teleconferência com o CEO do banco as ações passaram a subir e fecharam no negativo.

Segundo Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, o balanço do Itaú veio em linha com suas expectativas. O lucro recorrente foi de R$ 8,74 bi no 2T23, aumento de 13,9% em relação ao mesmo período do ano passado. “Mais uma vez o banco mostrou controle superior da inadimplência, responsável por manter a rentabilidade em patamar alto, e a notícia é ótima diante da deterioração do Santander e Bradesco”.

A analista ressaltou que o resultado não trouxe surpresas, no entanto enxerga como muito positivo “diante do ambiente ainda complexo para o crédito no Brasil. Olhando à frente, esperamos que a performance continue à frente dos pares, que ainda devem levar um tempo para limpar seus balanços. Dentre os bancões, ITUB4 continua como nosso top pick, negociando a um índice preço/valor patrimonial de 1,6 vezes”.

As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) caíram no início do pregão, depois subiram até ajudaram a melhora do índice e fecharam mistas. Vale (VALE3) caiu 0,64%.

O principal índice da B3 caiu 0,24%, aos 119.090,24 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto registrou queda de 0,15%, aos 119.310 pontos. O giro financeiro foi de R$ 21,9 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, disse que o Ibovespa passou a maior parte do dia “pressionado pelo mau humor externo, mas conseguiu se recuperar ao longo da sessão”.

Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos, disse que o setor de commodities cai “reagindo aos números ruins da balança comercial chinesa, destaque para Eletrobras, que divulgou resultados e agradou bastante o mercado em que a empresa teve um aumento de 16% em relação ao ganho do mesmo trimestre do ano passado; Petrobras se recuperou e sobe acompanhando a recuperação do petróleo lá fora”.

Arlindo Souza, analista da casa de análises do TC, disse que a Bolsa cai com o peso de Vale “refletindo os dados da China fracos divulgados mais cedo”.

Mais cedo, Nicolas Farto, sócio e head de renda variável da Vértiq Invest, disse que a Bolsa melhora após a teleconferência do Itaú e passado o susto da abertura mais negativa. “É um mix, a teleconferência do Itaú ajudou porque eles disseram não vão mudar o guidance [projeção] e também tem todo o efeito depois da abertura em que o mercado age de forma mais racional, outras empresas que divulgaram resultados estão dando mais detalhes nas teleconferências e isso contribui”.

Farto disse que o peso na Bolsa vem do exterior e a ata do Copom veio dentro do esperado. “Foi um mix de notícias ruins com a balança comercial da China, downgrade da Moody’s para vários bancos médios e pequenos nos Estados Unidos, além do imposto que foi implementado para os bancos na Itália. O petróleo está caindo bastante com a queda da importação de commodity da China de julho em comparação com junho; ata não trouxe novidades e a expectativa de queda de 0,75 ponto porcentual (pp) ficou fora do radar, o peso vai ficar por conta das notícias lá fora; a gente vai ficar de olho na reforma tributária, tem surgido alguns ruídos, principalmente em relação ao Imposto de Renda sobre pessoa jurídica, fundo exclusivo”.

Bruno Komura, analista da Potenza Investimentos, disse que o exterior está impactando forte no mercado local. ” O destaque negativo é a China com a piora da balança comercial e bate na Vale e siderúrgicas; na Europa, os bancos italianos estão sofrendo por causa da taxação dos lucros, assusta porque pode ser só o começo e outras economias podem tentar usar o mesmo artificio para aumentar a arrecadação”.

Ariane Benedito, economista e RI da Esh Capital, disse que o cenário externo está refletindo aqui, principalmente, em relação ao setor bancário. “A taxação dos bancos italianos e a preocupação se isso vai se estender para outras economias, somado a isso teve a diminuição dos ratings de pequenos bancos americanos, e o mercado entendeu que o qualitativo da balança comercial chinesa ficou pior, ou seja, o país exportou mais que importou, o que quer dizer que os dados de atividade que trazem um cenário de desaceleração pra China se confirma, mas o saldo da balança em si ficou positivo; por aqui a ata do Copom que não trouxe grandes mudanças, ela manteve o tom do comunicado e sem a movimentação de pautas importantes em Brasília traz mau humor interno.”

O dólar comercial fechou em alta de 0,05%,cotado a R$ 4,8971. A moeda, que chegou a ter altas expressivas ao longo da sessão, perdeu força à medida que o mercado aguarda a divulgação das inflações de China (hoje à noite) e Estados Unidos (quinta).

O sócio da Top Gain Leonardo Santana, entende que “como a China não consegue crescer, a gente fica nesta situação. Se a inflação nos Estados Unidos vier boa, o real segue com tendência baixista”.

Para a economista do Banco Ourinvest Cristiane Quartaroli, “o foco hoje é a China, provocando o sentimento de que eles não irão crescer como o esperado, o que reflete nas moedas emergentes”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em queda, em dia de divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom).

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,460 % de 12,490% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,450% de 10,490%, o DI para janeiro de 2026 ia a 9,870%, de 9,995%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 9,980 % de 10,110% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão desta terça-feira em queda, em meio a preocupações crescentes sobre a saúde do setor bancário e um cenário de resultados corporativos que, apesar de positivos, já parece ter sido amplamente precificado pelo mercado.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,45%, 35.314,49 pontos
Nasdaq 100: -0,79%, 13.884,3 pontos
S&P 500: -0,42%, 4.499,38 pontos

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Larissa Bernardes /Agência CMA