Bolsa fecha em queda e renova mínima em cinco meses com risco fiscal, dólar sobe

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São Paulo -Em mais um dia de aversão ao risco, a Bolsa fechou em queda pelo quinto pregão consecutivo e renovou a mínima em cinco meses com o mercado preocupado com as contas públicas após a mudança da meta fiscal para os anos de 2025 e 2026.

Ontem, a equipe econômica anunciou redução do superávit de 0,5% do PIB para zero em 2025. Em 2026, a meta fiscal caiu de 1% para 0,25%. Os destaques de queda ficaram para as ações ligadas ao varejo, commodities e educação, Na ponta positiva, a Eztec (ON, +2,96%) e MRV (ON, +2,34%) refletiram os dados operacionais.

A Vale (VALE3) caiu 0,88% impactada pelo minério de ferro.

O principal índice da B3 recuou 0,75%, aos 124.388,62 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril caiu 0,56%, aos 124.470 pontos. O giro financeiro foi de R$ 26,2 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistas.

Pedro Marinho Coutinho, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, disse que a Bolsa tem um dia de aversão ao risco com temor ao fiscal doméstico devido à mudança da meta fiscal para 2025 e 2026 e os juros americanos. Com esse cenário mais preocupante, os ativos cíclicos estão performando mal, em sua grande maioria, como Assai, Alpargatas e Hapvida.

Vicente Matheus Zuffo, fundador e CIO da Chess Capital, disse que a queda no mercado na sessão de hoje reflete totalmente o cenário doméstico.

“O mercado não engoliu a nova meta fiscal [anunciada ontem pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad] isso está afetando Bolsa, dólar e juros”.

Bernard Faust, sócio da One Investimentos, disse que a questão fiscal interna, China e o cenário de juros nos Estados Unidos impactam no mercado.

“A alta do dólar representa o mau humor do mercado e mostra claramente um fluxo de realização na Bolsa. O cenário atual está parecido com setembro do ano passado com a atratividade do dólar e o estresse do T-10 [4,668%]. Em relação à China, o país cria perspectivas positivas no mercado, depois os números saem e isso não se concretiza. A produção de aço, por exemplo, caiu 8% em março e a perspectiva é desaceleração da matéria-prima. Aqui, o fiscal foi inesperado [com a mudança da meta fiscal para 2025] e refletiu nos ativos de risco. Nos Estados Unidos a expectativa é de corte de juros para setembro, mas alguns mais pessimistas trabalham com a possibilidade de não ter redução das taxas este ano. E se o petróleo seguir em alta, o reflexo é direto na inflação norte-americana. As ações caem de forma generalizada”.

O dólar fechou em alta de 1,65%, cotado a R$ 5,2682. A moeda refletiu, ao longo da sessão, o fiscal doméstico ruidoso, além do conflito no Oriente Médio e incerteza sobre quando irá começar o corte dos juros nos Estados Unidos.

Para o sócio da Ethimos Investimentos Lucas Brigato, além da revisão da meta fiscal e tensão geopolítica, “a expectativa é que os cortes dos juros americanos só comecem no 3º trimestre, reduzindo a expectativa para um ou dois cortes”.

“Depois de uma manhã de escalada intensa, o dólar tirou a tarde pra descansar e opera com 1,54% de alta nos R$ 5,26 depois de ter batido 5,283 ao meio-dia. O mercado ainda está absorvendo o cenário de maior risco tanto externo quanto interno, apesar do Produto Interno Bruto (PIB) chinês ter vindo acima dos 5%, superando expectativas de 4,8%”, contextualiza Brigato.

De acordo com a Ajax Asset, “lá fora, juros dos Treasury Bonds em alta, risco geopolítico segue no Oriente Médio e dados mais fracos da economia chinesa são alguns dos fatores que mantém a cautela entre os investidores e a aversão ao risco. Por aqui, a confirmação das mudanças nas metas fiscais do PLDO 2025, num momento de maior aversão ao risco exterior, intensifica o movimento de alta dos prêmios de risco no mercado doméstico”.

A produção industrial chinesa avançou, no 1º trimestre, 6,1% ante consenso de 6,6% e +4,5% na comparação interanual (estimativa de +6,0%). Já as vendas no varejo subiram 4,7% no trimestre e 3,1% frente a março de 2023, abaixo das projeções de 5,4% e 4,8%, respectivamente.

O Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), divulgado ontem pelo Planejamento, projetou que a meta fiscal é de 0% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025, 0,25% em 2026, 0,50% em 2027 e 1,0% em 2028.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em alta superior aos Treasuries (títulos do Tesouro norte-americano) devido a ruídos fiscais domésticos. A escalada do conflito no Oriente Médio também impacta as taxas por conta do petróleo, além das incertezas sobre o futuro da política monetária dos Estados Unidos.

Por volta das 16h45 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,295%, de 10,660% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 10,675 de 10,440%, o DI para janeiro de 2027 ia a 11,085%, de 10,805%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 11,415% de 11,120% na mesma comparação.

Os principais índices de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo misto, com o Dow encerrando uma sequência de seis dias de perdas, enquanto os investidores avaliam os comentários do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, sobre as incertezas da inflação e o corte nos juros.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,17%, 37.798,97 pontos
Nasdaq 100: -0,12%, 15.865 pontos
S&P 500: -0,20%, 5.051,41 pontos

 

Com Paulo Holland, e Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência Safras News