Bolsa fecha em queda e dólar sobe diante de cautela com BCs

424

São Paulo – Pela segunda vez na semana, o Ibovespa fechou em queda pressionado pela realização de lucros dos setores financeiro e varejista. Os investidores ficam com as atenções voltadas para a inflação no aguardo das reuniões na semana que vem do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), vão decidir sobre a taxa de juros (Selic) aqui e nos Estados Unidos.

O principal índice da B3 caiu 0,48%, aos 129.441,03 pontos. As bolsas norte-americanas ficaram boa parte do dia de lado, mas fecharam em alta. O volume financeiro de R$ 19,9 bilhões.

De acordo com uma fonte que não quis se identificar, “o baixo volume é atribuído aos problemas nos sistemas que fazem a integração entre suas plataformas de negociação e a clearing”.

Os papéis das instituições financeiras fecharam em queda.  Itaú (ITBU4) caíram 1,17%; Bradesco (BBDC3 e BBDC4) retraíram 1,28% e 0,39%, respectivamente. As ações do Santander baixaram 0,94%.

Para o analista Rodrigo Moliterno, da Veedha Investimentos, “o mercado está realizando lucros com os bancos e setor de varejo” somado a isso os dados do setor de serviços [subiu 0,7% em abril ante março] pesaram um pouco para a queda do índice. “Não foram todos os itens que vieram bons”.

O analista da Veedha Investimentos reforça que existe uma questão inflacionária gera preocupação nos investidores. “O temor inflacionário é bastante presente aqui e lá fora”, enfatiza. Para o analista a maioria do mercado aposta em uma alta de 0,75 ponto porcentual na reunião da semana que vem, mas comenta que “pode ter mudança de sinalizações futuras, o que poderia elevar os juros para o final do ano acima de 6%”.

O analista José Costa Gonçalves, da Codepe Corretora, afirma que o Ibovespa está em baixa puxado pelos bancos. “qualquer venda maior derruba a Bolsa devido à baixa liquidez”.

O analista da Codepe Corretora comenta que “os investidores apostam em um aumento de 0,75 ponto porcentual na taxa de juros aqui, mas seguem com cautela devido aos dados de inflação [IPCA subiu 0,83% em maio, ante 0,31% em abril] maior que o esperado divulgados esta semana”.

O estrategista Filipe Villegas, da Genial Investimentos, ressalta que a inflação ainda é preocupação dos investidores, no entanto “existe uma janela de oportunidades para ativos de países emergentes, só não podemos jogar contra”.

O estrategista afirma que esse espaço que se abre deve permanecer até agosto quando se dá um evento nos Estados Unidos, onde economistas e membros do Fed fazem discursos. “A partir desse evento o Fed deve retirar os estímulos”. Enquanto isso, reforça que se investidor estiver confiante em um crescimento econômico existem com boas oportunidades no mercado de ações.

O dólar comercial fechou em alta de 1,08% no mercado à vista, cotado a R$ 5,1210 para venda, no maior valor de fechamento em dez dias, em sessão volátil seguindo o exterior avesso ao risco e com o desempenho negativo das moedas de países emergentes. Aqui e lá fora, investidores aguardam a “super quarta”, na semana que vem, com as decisões de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e do Banco Central (BC). Com isso, a moeda interrompeu duas semanas de queda e fechou valorizada em 1,69%.

A economista-chefe do banco Ourinvest, Fernanda Consorte, ressalta que o dólar exibiu alta expressiva refletindo os dados mais fortes da inflação norte-americana, divulgados ontem, e resultou em avanços nos rendimentos das taxas futuras do governo norte-americano, as treasuries, mesmo com o vencimento de 10 anos (T-Note) operando ao redor de 1,45%, menor nível desde março.

“Em consequência, isso pode resultar em uma eventual mudança de política monetária nos Estados Unidos. O que teve foi um ‘flight to quality’ [voo para qualidade], com o fluxo indo para os Estados Unidos e depreciando as moedas [de países] emergentes”, reforça a economista.

Para o diretor da Correparti, Ricardo Gomes, com a inflação norte-americana em alta e às vésperas da reunião de política monetária do Fed, é “natural” um movimento de apreciação da moeda no exterior. “Aqui, a necessidade de recomposição de posições compradas trouxe investidores novamente para o mercado, na certeza de que não há como evitar a valorização da moeda no mercado local”, diz.

Apesar da recente queda da taxa de câmbio, devolvendo os ganhos de 2021, Consorte avalia que o cenário para o Brasil, de forma geral, segue “muito desafiador”. “Não contaria com a bonança das últimas semanas como uma tendência. Acredito que o dólar esteja mais perto dos R$ 5,20 do que abaixo de R$ 5,00 diante dos desafios da conjuntura atual”, pondera.

Aqui e lá fora, investidores aguardam pela “super quarta-feira”, dia em que terá as decisões de política monetária dos bancos centrais norte-americano e brasileiro. “O Fed poderá trazer o debate do início da redução das compras de ativos, frente às surpresas altistas com a inflação e à consolidação da melhora da economia. Ainda assim, deve manter a leitura de que as pressões da inflação são essencialmente temporárias, trazendo as restrições de oferta como elementos a serem observados”, avalia a equipe econômica do Bradesco.

Em relação ao Comitê de Política Monetária (Copom), os analistas do BTG Pactual ressaltam que, em meio à sinalização da autoridade monetária de que deverá subir a taxa Selic pela terceira vez seguida em 0,75 ponto percentual, a atenção do mercado muda para o encontro e para a comunicação de agosto.

“Os dados recentes, mostrando uma atividade econômica mais forte do que o esperado, indicam que a linguagem de ‘normalização parcial’, provavelmente, será abandonada na próxima semana. Com isso, cresceu a probabilidade de outro aumento da mesma magnitude em agosto. Na verdade, a linguagem de ‘normalização parcial’ não é um compromisso como era a mensagem de ‘orientação futura’ [forward guidance'”, avalia a equipe do BTG.

O economista-chefe do banco Alfa, Luís Otávio de Souza Leal, alerta que, caso o Banco Central sinalize um novo ajuste da Selic no encontro de agosto, é “bom ficar de olho” porque pode ser o “catalizador” para o dólar cair abaixo dos R$ 5,00, movimento que vem ensaiando nas últimas semanas. Porém, encontra resistência psicológica no nível de R$ 5,01.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em alta acompanhando o avanço do dólar em relação ao real. Os investidores também reagiram ao resultado melhor que o esperado da receita do setor de serviços em abril, o que já começa a provocar uma série de revisões de estimativas em relação ao produto interno bruto (PIB), à inflação e ao ponto de parada da atual rodada de alívio monetário pelo Banco Central (BC).

Com isso, o DI para janeiro de 2022 encerrou com taxa de 5,290%, de 5,305% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 6,965%, de 6,955%; o DI para janeiro de 2025 ia a 8,02%, de 7,96% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 8,51%, de 7,44%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano encerraram uma sessão agitada em campo positivo, com o S&P 500 registrando seu segundo fechamento recorde consecutivo um dia depois de uma alta mais quente do que o esperado para o índice de preços ao consumidor de maio. No acumulado da semana, o comportamento dos índices foi misto.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,04%, 34.479,60 pontos

Nasdaq Composto: +0,35%, 14.069,40 pontos

S&P 500: +0,19%, 4.247,44 pontos