Bolsa fecha em queda e dólar sobe com cenário externo em meio à alta dos treasuries e temor de o Fed elevar mais os juros

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Mercado Gráfico Percentual
Foto: Svilen Milev / freeimages.com

São Paulo- Em um dia de forte aversão ao risco global, a Bolsa fechou em queda acompanhando o cenário externo em meio à alta dos rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano de 10 anos após a divulgação do relatório Jolts de agosto acima das expectativas e a preocupação de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) aumente os juros novamente. Poucas empresas do Ibovespa apresentaram alta na sessão de hoje.

Os rendimentos dos títulos de 10 anos dos Estados Unidos, que são referência para o mercado mundial, subiram 4,80%. Essa taxa não era vista desde 2007. 2007.

O relatório Jolts mostrou que foram abertos 9,610 milhões postos de trabalho no último dia útil de agosto, uma alta em relação aos 8,920 milhões registradas em julho, com dado revisado, excluindo o setor rural. A previsão do mercado era a criação de 8,8 milhões de vagas. As contratações somaram 5,857 milhões em agosto e as demissões 5,676 milhões.

O destaque negativo ficou para as varejistas, sensíveis a juros. Magazine Luiza (MGLU3) liderou a queda em 8,45%. Casas Bahia (BHIA3) caiu de 7,93%. Os analistas chamam a atenção para a queda da ação da B3 (B3SA3), que perdeu 4,25%. “O mercado está assustado com o baixo volume que a Bolsa tem apresentado, o faturamento da companhia será menor e o resultado da empresa nos próximos trimestres pode ser comprometido”, disse uma fonte.

Os papéis das companhias aéreas também tiveram uma sessão negativa após a Petrobras aumentar o preço do querosene de aviação em 5,3%. A Gol (GOLL4) perdeu 5,19% e Azul (AZUL4) baixava 5,44%.

O principal índice da B3 caiu 1,42%, aos 113.419,04 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro perdeu de 1,49%, aos 113.810 pontos. O giro financeiro foi de R$ 19,7 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam no negativo.

Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, disse que a Bolsa voltou refletir o cenário de falta de apetite ao risco global. “O movimento foi puxado pela renovação dos temores de que o Fed volte a elevar os juros, após a divulgação do relatório Jolts, que vieram acima do esperado”.

Vinicius Steniski, analista de ações do TC, disse a alta dos DIs aqui e dos títulos do Tesouro norte-americano impactam negativamente o Ibovespa. “Os juros futuros subindo fortemente influencia a Bolsa e os T-10 dos EUA que estão com rendimento altíssimos por conta do mercado de trabalho norte-americano que continua forte por lá. Os destaques de alta ficam para Suzano, Klabin e JBS e na ponta negativa estão as empresas de varejo e a B3 refletindo a alta dos juros; no caso da ação da B3 com os juros elevados, a tendência é que as movimentações em Bolsa também caíam e isso pode diminuir receitas e margem da companhia.”

Elcio Cardozo, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz capital, disse que a Bolsa vem operando correlacionada com o mercado exterior há dias e hoje o movimento não é diferente. “Os dados de emprego norte-americanos [relatório Jolts] bem acima do esperado não foram bem recebidos pelo mercado. Apesar de ser um bom indicador para a população, para o Fed que tem a missão de controlar a inflação, o relatório Jolts pesa. Mais pessoas empregadas, a inflação tende a se manter estável ou até aumentar tendo em vista a maior circulação de dinheiro, o que pressiona a curva de juros”.

Cardozo disse que poucas ações sobem hoje. “O maior destaque fica para a Natura, chegou a valorizar mais de 5%, após ser noticiado que existem ofertas de compradores para uma subsidiária do grupo, a The Body Shop”. A ação fechou em alta de 2,97%.

De acordo com os analistas da Toro Investimentos, o cenário é de cautela. “O número de novas vagas apresentado pelo relatório Jolts surpreendeu, atingindo 9,61 milhões, o valor está distante do pico de abril de 2022, quando registrou 11,55 milhões de novas vagas, entretanto ainda sinaliza um mercado de trabalho demasiadamente aquecido; as apostas para um aumento de juros na reunião do Fed em dezembro se elevaram e os treasuries de 10 anos fizeram novas máximas, beirando os 4,79%; a expectativa fica para o payroll na sexta-feira (6).”.

Bernard Faust, operador de renda variável da One Investimentos, disse que apesar do Jolts não ser um dado que o mercado não dê tanta importância, refletiu no movimento de hoje em dia de agenda mais fraca e com a preocupação com os juros lá fora. “O Jolts não é tão expressivo como payroll [que sai na sexta-feira], ele antecipa um pouco e traz certo sentimento. Como estamos com um cenário internacional difícil, o mercado reage a qualquer informação”.

O operador de renda variável da One Investimentos enfatizou que “são várias variáveis gerando questão inflacionária – mercado de trabalho forte, poder aquisitivo bem expressivo por parte das famílias americanas, petróleo em patamar elevado- e para combater os preços, o Fed tem de aumentar juros”. Na Bolsa de Chicago, as apostas aumentaram para a elevação dos juros na reunião de novembro em 40% e dezembro a probabilidade é de 51%.

O dólar comercial fechou em alta de 1,74%, cotado a R$ 5,1543. A moeda refletiu, ao longo da sessão, o temor de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) siga seu ritmo contracionista, já que a economia norte-americana não mostra sinais consistentes de desaceleração.

Segundo o analista da Potenza Investimentos Bruno Komura, “o estresse deve continuar e dólar seguir em alta, mas não devemos ter exageros, como chegar a R$ 5,50”.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “o contexto eterno ganha dramaticidade, com os juros futuros americanos próximos aos 5%. O mercado está assustado e ninguém sabe onde isso vai parar”.

Borsoi acredita que o Jolts foi mais um ingrediente neste aquecido mercado de trabalho norte-americano, e que o Fed deve fazer um aumento adicional de 0,25 ponto percentual (pp) na taxa de juros.

O relatório Jolts de agosto apontou a criação de 9,610 milhões de vagas.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em alta impulsionadas pelo relatório Jolts divulgado pela manhã, que trouxe à luz um dado de 9,610 milhões de vagas de emprego abertas em agosto, nos Estados Unidos, mostrando mercado de trabalho aquecido.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,262% de 12,260% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 11,160 % de 10.,810%, o DI para janeiro de 2026 ia a 11,030%, de 10,830%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11, 260% de 11,045% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos despencaram na sessão, à medida que os juros dos Treasuries atingiram seus níveis mais altos desde 2007, levantando preocupações de que taxas de juros mais altas congelariam o mercado imobiliário e levariam a economia a uma recessão.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -1,29%, 33.002,38 pontos
Nasdaq 100: -1,87%, 13.059,5 pontos
S&P 500: -1,37%, 4.229,45 pontos

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA