Bolsa fecha em queda de 0,61% em dia de susto com inflação; dólar cai

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Mercado Gráfico Percentual
Foto: Svilen Milev / freeimages.com

São Paulo- A Bolsa fechou em queda de 0,61% e a Vale (VALE3), ação de peso no índice, impediu que o recuo fosse maior devido aos estímulos do governo chinês ao mercado imobiliário para incentivar a economia do país.

Mas, esse não foi o movimento de todo o pregão. Boa parte da sessão foi de forte estresse por conta dos dados de inflação de junho, que apesar de apontar deflação, o componente de serviços subjacentes ficou acima do esperado (+0,67%) e o mercado precisou ajustar a expectativa de corte da taxa básica de juros (Selic) para agosto, de 0,50 ponto porcentual (pp) para 0,25 pp.

O Indice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho, inflação oficial do País, caiu 0,08% em junho. Em 12 meses, o indicador acumulou alta de 3,16%.

As ações da Vale (VALE3) subiram 3,28% e Prio (PRIO3) avançaram 3,06% acompanhando o petróleo. Já os papéis da Petrobras (PETR3 e PETR4) caíram 0,78% e 1,35%. Na ponta negativa, Gol (GOLL4) cedeu 5,87%, Azul (AZUL 4) baixou 2,61% e Minerva (BEEF3) cedeu 3,92%.

O principal índice da B3 caiu 0,61%, aos 117.219,95 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto perdeu 0,12%, aos 118.955 pontos. Na mínima do interdiário atingiu 115.703,93 pontos. O giro financeiro foi de R$ 23 bilhões. Em NY, as bolsas fecharam em alta.

Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos, disse que a Bolsa se afasta das mínimas observadas mais cedo “com a ajuda da Vale, que avança com os novos estímulos da economia chinesa e o mercado parece que refaz as contas em relação ao IPCA de junho, que apresentou deflação de 0,08%, devido à resiliência dos dados de serviços; o governo vai reeditar o decreto de saneamento que causaram conflito com o Congresso”.

Arlindo Souza, analista de ações da casa de análises do TC, disse que a Bolsa passa por um movimento de correção. “Os dados de inflação estão no radar dos investidores, que apesar de deflacionários, vieram acima do consenso; na ponta oposta a Vale sobe com expectativa de estímulos da China”.

Luiz Souza, operador de renda variável da SVN, disse a queda na Bolsa está refletindo o resultado do IPCA. “A parte de alimentos mostrou desaceleração, mas a parte de serviços ligado ao mercado de trabalho surpreendeu pra cima, o mesmo problema que os Estados Unidos estão passando; o núcleo de serviços está vindo mais pressionado do que previsto; o ponto importante é que o mercado começou a embutir na curva de juros futuros uma queda de juros muito grande [saiu de 13,25% 10,80%] e quando vemos esses dados apertado pelo mercado de trabalho implica que o corte [da Selic] não deva acontecer na mesma magnitude; algumas casas começaram a projetar corte da Selic em 0,50pp na reunião de agosto, mas agora volta para a redução de 0,25pp então retorna o alinhamento de expectativa com os dados de inflação”.

O operador de renda variável da SVN disse que a Vale sobe na contramão da Bolsa, após os dados de deflação de ontem China.

Mais cedo, Laiz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas, disse que o IPCA fechado de junho veio em queda de 0,08% e a expectativa era recuo de 0,12%.

“A desaceleração está vindo e alguns pontos geram cautela; o ponto importante são os serviços subjacentes, a expectativa já era que seriam meio altos de 0,50%, mas vieram 0,67%. O IPCA está bastante bom e vai em linha com a comunicação do BC e o que [os integrantes] vão fazer na reunião de agosto. O Banco Central vai continuar com ritmo bastante parcimonioso. A nossa projeção é de que o BC vai fazer o primeiro corte em agosto em 0,25pp e vai começar bem devagar”.

Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, disse que o movimento da Bolsa está bastante atípico na sessão de hoje. “A gente não está entendendo o movimento, é uma correção, mas ainda precisamos entender os motivos. Hoje só tivemos notícia positiva com o IPCA em desaceleração, os estímulos na China e aqui a reforma tributária vai andar no Senado. A Vale está segurando um pouco o índice; não acredito em mudança na perspectiva de corte da Selic, deve vir 0,25 pp em agosto”.

Mais cedo, Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, disse que o mercado até esperava um IPCA um pouco mais baixo pela “queda de combustível do mês passado, talvez não mude a tendência do BC de cortar os juros em agosto pela mudança da aferição da meta de inflação, mas ainda é um valor de IPCA que não dá tanta flexibilização e observar-se que a inflação pode voltar a qualquer momento; é um ponto de alerta para o Banco Central”.

O dólar comercial fechou em queda de 0,43%, cotado a R$ 4,8610. A moeda refletiu a expectativa de que a inflação nos Estados Unidos mostre desaceleração, otimismo com a retomada econômica chinesa e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que caiu 0,08% em junho ante maio.

Para o analista da Ouro Preto Investimentos Bruno Komura, “o mercado está digerindo o IPCA, a reação inicial foi muito ruim, mas depois foi melhorando e agora a gente ainda teve ajuda do exterior”.

“O resultado (do IPCA) veio misto, mesmo com o Serviço vindo forte. O índice de difusão melhorou e está indo na direção certa”, analisa Komura.

Komura, contudo, salienta que o principal fator desta terça é externo, com o mercado à espera de novos indícios que possam mostrar os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

De acordo com a Ajax Asset, “lá fora, a recuperação do crédito na China anima os investidores quanto às perspectivas de crescimento do país. Ativos de risco seguem em alta, e Juros dos Treasury Bonds (títulos do Tesouro dos Estados Unidos) recuam. Por aqui, mercado deve acompanhar exterior”

Já o estrategista da BGC Liquidez Daniel Cunha, entende que “o quadro qualitativo da inflação foi pior que o antecipado por nós, com serviços mostrando uma dinâmica ainda longe de dar conforto adicional para o Banco Central (BC). Desta forma, mantemos nossa projeção de -0.25 ponto percentual (pp) para agosto”.

“Mais cedo, Governo sinalizou medidas de apoio ao mercado imobiliário, estendendo empréstimos aos incorporadores e construtores e alongando vencimento de dívidas”, contextualizou a Ajax.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham mistas, em movimento de correção das taxas mais curtas. O resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ainda é digerido pelo mercado, que vê o Comitê de Política Monetária (Copom) mais conservador na reunião de agosto. .

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,845% de 12,825% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,775% de 10,775%, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,140%, de 10,140%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,165% de 10,165% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em alta na com Wall Street na contagem regressiva para os relatórios de inflação que podem dar ao Federal Reserve (Fed,o banco central americano) motivos para considerar encerrar seus aumentos de juros mais rapidamente.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,93%, 34.261,42 pontos
Nasdaq 100: +0,55%, 13.760,7 pontos
S&P 500: +0,67%, 4.439,26 pontos

 

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA