Bolsa fecha em queda com petroleiras e bancos em meio à falência do SBV; dólar sobe

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Gráfico

São Paulo- Em um pregão bastante volátil, a Bolsa fechou em queda pelo terceiro dia seguido empurrada pelas ações das petroleiras e do setor financeiro em meio ao colapso do Silicon Valley Bank (SVB). Do lado positivo, as varejistas as commodities metálicas subiram.

Esse episódio do SVB remete os investidores, inevitavelmente, ao evento da Lehman Brothers em 2008 que causou uma crise sistêmica de grandes proporções. Os agentes financeiros mantiveram a cautela na sessão desta segunda-feira.

As ações da Petrobras ON e PN fecharam em queda de 3,16%. 3RPetroleum (RRRP3) perdeu 5,39% e Prio (PRIO3) teve queda de 4,33%. Bradesco (BBDC3 e BBDC4) caiu 0,84% e 1,10% e Itaú (ITU4) perdeu 1,20%. Santander (SANB11) cedeu 1,05%

As ações ligadas às commodities metálicas subiram. Vale (VALE3), ação de maior peso no índice, avançou 0,41%. As varejistas Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3) subiram 9,41% e 12,08%.

O principal índice da B3 caiu 0,47%, aos 103.121,36 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril perdeu 0,64%, aos 104.090 pontos. O giro financeiro foi de R$ 21,4 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam mistos.

Elcio Cardozo, sócio da Matriz Capital, disse que o mercado está bem volátil na sessão de hoje em decorrência do risco sistêmico que o mercado remete ao evento do Lehman Brothers, em 2008.

“Não acredito em um cenário como de 2008, que foi bem mais grave porque envolvia o mercado imobiliário norte-americano e, consequentemente, toda a população. Mas, esse risco faz com que o Fed se movimente para frear ainda mais a alta de juros nos EUA e a taxa terminal fique abaixo do que o mercado estava precificando na semana passada”.

Cardozo disse que o cenário ainda é incerto e aconselha que o investidor “fique atento e se proteja ao máximo de toda essa volatilidade”. O sócio da Matriz Capital afirmou que o setor financeiro por aqui cai “em decorrência do risco por insolvência de bancos nos Estados Unidos e as petroleiras sofrem pela precificação do petróleo no mercado internacional”.

Um analista de uma corretora de investimentos disse que o mercado acredita que “na reunião maio pode ter uma redução na taxa básica de juros e as ações de consumo sobem”.

O analista também acrescentou que a Bolsa opera com volatilidade. “A Vale e as varejistas sobem e os bancos e Petrobras caem em meio à preocupação com o colapso do SVB”.

Charo Alves, especialista da Valor Investimentos, disse que a falência do SVB está afetando as fintechs e, “se gerar um fator em cadeia, que é o receio que o mercado tem, a gente tem um problema grave, mas não está comprovado no sistema financeiro; isso é reflexo de juros altos que acaba impactando no mercado de tecnologia que depende de juros baixos para continuar crescendo; em relação ao Brasil também pode afetar as fintechs no primeiro momento”.

Alves disse que o Fed já não poderá subir muito os juros como previam na semana passada “porque afetaria os bancos e o colapso seria muito pior; deve vir uma manutenção ou eventual queda de juros [no encontro dos dias 21 e 22], é o que vemos na curva dos juros futuros, eles [os integrantes do Fed] estão entre a cruz e a espada”.

Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, afirmou que “o risco de contágio é baixo, mas cria um movimento de aversão ao risco”.

O analista da Ouro Preto Investimentos disse não acreditar em “um problema de insolvência de bancos, mas podemos ter uma escassez de crédito”.

Segundo um grande gestor de investimentos que não quis se identificar, essa abertura forte do Ibovespa futuro mostra que a “reunião realizada no fim de semana entre Fed, Tesouro e Fdic foi para evitar o maior contágio, mais fica a dúvida se há outros bancos envolvidos nesse tipo de operação no mundo. Agora o banco central norte-americano deve manter os juros elevar a taxa em 0,25 pp e não mais 0,50pp como se fala na semana passada”.

O dólar comercial fechou em alta de 1,17%, cotado a R$ 5,2690. Por mais que o ambiente fiscal doméstico seja mais animador, o mercado refletiu os temores com a economia dos Estados Unidos.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou, nesta manhã, que o arcabouço fiscal já está pronto para ser apresentado ao presidente Lula.

Segundo o analista da Ouro Preto Investimentos Bruno Komura, “o problema nos Estados Unidos ainda contamina os mercados, por mais que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) tenha anunciado que irá ajudar”. Komura, no entanto, acredita que a curto prazo o real tem viés altista: “As expectativas estão altas. O mercado vem reagindo positivamente desde a semana passada”, referindo-se ao avanço do pacote fiscal.

Para Pedro Paulo Silveira, diretor da Nova Futura, o clima deve continuar por mais alguns pregões, até o mercado entender a crise norte-americana. “O mercado está correndo contra o risco. Ninguém quer saber de posições de risco com o sistema bancário americano fragilizado”, disse.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em forte queda, acompanhando uma percepção de crise bancária crescente no exterior.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,000% de 13,150% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 12,180%, 12,360%, o DI para janeiro de 2026 ia a 12,265%, de 12,450%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,460% de 12,650% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo misto, numa sessão de forte oscilações, à medida Wall Street avalia as medidas adotadas pelos reguladores bancários federais tomaram para conter as consequências da falência do Silicon Valley Bank (SVB).

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,28%, 31.819,14 pontos
Nasdaq 100: +0,45%, 11.188,8 pontos
S&P 500: -0,15%, 3.855,76 pontos

 

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA