Bolsa fecha em queda com peso do exterior, mas encerra a 1ª semana de outubro em alta de 5,76%; dólar sobe

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Mercado Gráfico Percentual
Foto: Svilen Milev / freeimages.com

São Paulo- A lua de mel durou pouco. A Bolsa rompeu o movimento de cinco altas consecutivas e fechou em queda com o peso das bolsas em Nova York, que despencaram impactadas pelo resultado do relatório de emprego nos Estados Unidos (payroll, sigla em inglês) indicando que a economia por lá está aquecida e o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) deve seguir com postura hawkish nas próximas reuniões. Mas, na semana encerrou em alta de 5,76%.

O Ibovespa chegou a operar sem direção definida na primeira metade do pregão com a valorização das ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) e Vale (VALE3) que subiram forte e chegaram a segurar o índice devido ao fluxo de estrangeiros nos papéis, mas a petroleira e a mineradora perderam força e passaram a cair.

A Vale (VALE3) foi impactada pela notícia de que a Cosan (CSAN3) comprou uma fatia de 4,9% das ações da mineradora. Os papéis da Cosan (CSAN3) caíram 8,71% e da Vale (VALE3) cedeu 0,05%; no melhor momento do dia chegou a subir mais de 4%.

Mais cedo, o Departamento de Trabalho dos Estados Unidos divulgou que foram criados 263 mil postos de trabalhos em setembro e o mercado esperava 250 mil; já a taxa de desemprego ficou em 3,5% enquanto a expectativa era de 3,7% na base mensal

O principal índice da B3, caiu 1,00%, aos 116.375,25 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro perdeu 0,38%, aos 116.930 pontos. O giro financeiro foi de R$ 32,3 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Rodrigo Azevedo, economista e sócio-fundador da GT Capital, disse que a Bolsa fixou no campo negativo no início da tarde refletindo os dados do payroll nos Estados Unidos, que “revelaram que o mercado de trabalho segue apertado e pode ser um impeditivo para que o Fed comece o movimento de redução de juros; em novembro a alta deve ser de 0,75pp”.

Azevedo destacou que os papéis do Bradesco (BBDC3 e BBDC4) sofreram na sessão de hoje após o JP Morgan mudar a recomendação de compara das ações preferenciais para neutra. “Os analistas acreditam em outras oportunidades no setor financeiro como o Itaú e a peruana Credicorp”. As ações do Bradesco (BBDC3 e BBDC4) caíram 2,42% e 2,38%.

Um analista do mercado que não quis se identificar disse que havia uma “pressão compradora Petrobras e Vale por conta da liquidez dos papéis, depois que cedeu o mercado local acabou acompanhando o movimento lá fora”.

Nicolas Farto, especialista em renda variável da Renova Invest, disse que a Bolsa está sendo beneficiada pela alta das commodities. “Graças a performance da Petrobras e da Vale, que pesam bastante no índice, não estamos acompanhando a queda forte lá de fora”.

O especialista em renda variável da Renova Invest comentou que o payroll desagradou o mercado e chegou a refletir aqui [em menor intensidade], número de vagas veio superior às expectativas e a taxa de desemprego menor.

“Esses indicadores reforçam que o mercado de trabalho segue aquecido, o que deveria exigir o tom mais agressivo de taxa de juros lá dos EUA. A gente vem esperando que algum indicador exiba desaquecimento, mas não tem acontecido”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,05%,cotado a R$ 5,2130. O real operou descolado do cenário global, refletindo o intenso fluxo estrangeiro e os resquícios da euforia com a nova composição do Congresso, alinhada à centro-direita.

Segundo o head de tesouraria do Travelex Bank, Marco Weigt, “o primeiro turno retirou parte do risco, especialmente pelo perfil da votação no Congresso, o que torna muito difícil que o candidato eleito tome medidas radicais”.

Weigt entende que “nossos juros ainda fazem com que o humor global não afete o real, a não ser que o mercado se estresse muito”.

De acordo com a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “havia uma expectativa, na leitura de agosto, que a taxa de desemprego pudesse começar a aumentar por conta da elevação da oferta de mão-de-obra, com uma propensão da população norte-americana voltar a buscar postos de trabalho com as expectativas de que aquela poupança que foi montada com os benefícios concedidos pelo governo (presidente dos Estados Unidos) Joe Biden, durante a pandemia, estivesse chegando ao fim e aumentando a propensão da população procurar emprego”.

Abdelmalack entende que desacelerar a inflação nos Estados Unidos será complicado: “A gente já tinha visto declarações de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) com esta constatação desta resiliência do mercado de trabalho que é um dos impeditivos para o cenário inflacionário no país”, contextualiza.

Para o analista da Ouro Preto Bruno Komura, “o payroll não agradou os mercados, e os os dados de desemprego vieram abaixo da expectativa”. Em setembro, a taxa de desemprego foi a 3,5% ante previsão de 3,7%, enquanto foram gerados 315 mil postos de trabalho, muito acima das projeções de 255 mil.

“Os mercados no exterior reagiram muito mal, enquanto localmente os mercados se seguraram bem (bolsa) no câmbio e nos juros vemos que o mal humor está prevalecendo”, analisa Komura.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda, especialmente as curvas mais longas. O bom humor do mercado com a nova composição do Congresso foi o driver da semana.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,678% de 13,674% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,765%, de 12,780%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,565%, de 11,605% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,345% de 11,360%, na mesma comparação.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam a sessão em queda, apesar de encerrarem a semana com ganhos, após o relatório de empregos para setembro mostrar um mercado de trabalho ainda aquecido, o que dá carta branca para que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) prossigo com sua política de alta de juros na próxima reunião, em novembro.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -2,11%, 29.296,79 pontos
Nasdaq 100: -3,80%, 10.652,4 pontos
S&P 500: -2,80%, 3.639,66 pontos

Com Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Agência CMA