Bolsa fecha em queda, com incertezas sobre cortes nos EUA e fiscal no radar; dólar cai

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São Paulo – A bolsa cai, acompanhando a piora de bolsas americanas e temores em relação à política monetária nos Estados Unidos, apesar da alta do minério. Falas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre o fiscal pesam de certa forma no mercado após ele dizer que a maior parte das incertezas vem de fatores globais, mas também domésticos relacionados a uma preocupação em relação ao fiscal, que tornou, segundo ele, o trabalho do banco central mais difícil.

Na avaliação do economista Fábio Louzada, fundador da Eu me banco, o Livro Bege, divulgado há pouco, relatou que os aumentos de preços foram modestos seguindo o mesmo ritmo do último relatório e os salários também aumentaram, “o que reforça que são muitas as dificuldades para o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) iniciar o processo de queda de juros por lá tão cedo.”

Vale sobe acompanhando a alta do minério de ferro lá fora. Além disso, os investidores repercutem positivamente relatório divulgado pela companhia que afirmou ter produzido 70,8 milhões de toneladas de minério de ferro no primeiro trimestre de 2024. O número é mais alto do que os divulgados no primeiro trimestre de 2023. Com isso, temos um movimento de compra do papel e alta da Vale hoje.

Pela manhã, o índice operava em alta e passou a cair após a divulgação do livro Bege e das falas de Campos Neto sobre o fiscal doméstico.

“A partir do momento que você tem essas taxas caindo lá fora, isso automaticamente melhora risco aqui, então você tem um alívio nos DI, você tem um alívio no dólar e aí a bolsa performa aqui mais positivo”, explica o analista da Ajax Asset, Rafael Passos.

Passos explica que os dados positivos de produção e vendas da Vale, além de China mais positiva ajudam a bolsa. “Todas as mineradoras de forma geral performando mais forte e commodity ajudando a sustentar essa bolsa – eu tô falando de 30% aqui de Bovespa – então assim é que ela traz uma recuperação mais acentuada, puxada pelo minério e pela Vale”, ele explicou.

Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, a bolsa brasileira “sofreu muito pela precificação de juros e a fuga do investidor estrangeiro com os juros lá fora”.

Abdelamack pontua que o “pano de fundo é delicado, mas na ausência de novidades temos um espaço para respiro”.

O principal índice da B3 recuou 0,17%, aos 124.388,62 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril subiu 0,06%, aos 124.145 pontos. O giro financeiro foi de R$ 17,8 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Por aqui, os investidores reagem ao dado do Indice de Atividade Econômica (IBC-Br) do Banco Central de fevereiro e devem repercutir o relatório operacional de produção e venda da Vale (VALE3) referente ao primeiro trimestre de 2024 em dia de alta do minério de ferro em Dalian, na China.

O IBC-Br de fevereiro na comparação com janeiro subiu 0,40% contra projeção de 0,30%, segundo Termômetro da Agência CMA.

Às 17h45 (horário de Brasília), o Ibovespa futuro com vencimento em abril subia 0,06%, aos 124.130 pontos. Os futuros norte-americanos e as bolsas europeias operavam em alta. Na Ásia, os índices fecharam mistos.

Ubirajara Silva, gestor de renda variável independente, disse que após os últimos dois dias em queda, hoje o mercado tem um movimento de alívio.

“Não foi surpresa a revisão que fizeram na meta, mas quando acontece de fato o rompimento o mercado entra no processo de stop. Lá fora também está mais tranquilo. O destaque fica para a alta forte do minério de ferro e isso deve dar um ânimo pra Vale e mineradoras, que acabam subindo na esteira. Hoje também tem vencimento do Ibovespa e deve trazer mais volatilidade. O IBC-Br veio melhor que o esperado.”

O dólar fechou em queda de 0,48%, cotado a R$ 5,2424. A moeda refletiu, ao longo da sessão, certo alívio na tensão global, mas a trajetória dos juros nos Estados Unidos e o fiscal doméstico seguem no radar.

Para o sócio da Pronto! Invest Vanei Nagem, “somos o país entre os pares, mas hoje temos um alívio. Isso mostra movimento de realização e melhora no mundo, mas o risco operacional aumentou muito. A liquidez diminuiu porque o risco de volatilidade é muito grande”.

A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, observa que o cenário segue complicado para o Brasil, mas que o alívio nas Treasuries deixa o real menos pressionado.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) operam mistas, com a parte curta da curva ajustando as incertezas sobre politica monetária nos Estados Unidos e a parte longa em movimento de correção. O cenário hoje é menos turbulento, com os riscos já precificados.

o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,455%, de 10,335% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 10,830 de 10,730%, o DI para janeiro de 2027 ia a 11, 120%, de 11,130%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 11,365% de 11,445% na mesma comparação. No mercado futuro de câmbio, o dólar comercial operava em queda de 0,73%, cotado a R$ 5.2289 para a venda.

Os principais índices de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo negativo, com as empresas lidando com dificuldades para iniciar uma recuperação enquanto as preocupações dos investidores com as taxas de juros coincidiam com uma nova série de balanços corporativos.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,12%, 37,753.31 pontos

Nasdaq 100: -1,15%, 15,683.37 pontos

S&P 500: -0,58%, 5,022.21 pontos

Paulo Holland, Soraia Budaibes e Darlan de Azevedo