Bolsa fecha em queda após 7 altas por tensão externa e fala de Bullard; dólar sobe

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São Paulo – A Bolsa fecha em queda de mais de 1% após sete dias consecutivos em alta e perde mais de 1,5 mil pontos em uma sessão de forte aversão global, com os comentários do presidente do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) de St. Louis, James Bullard, sobre um aumento de juros mais rápido nos Estados Unidos e desagradando o mercado. 
Somado a isso, a tensão entre Rússia e Ucrânia em que os Estados Unidos dizem que um ataque pode ocorrer nos próximos dias na região e a queda das ações ligadas ao minério de ferro devido à intervenção chinesa para impedir o aumento do metal. 
O principal índice da B3 perdeu 1,43%, aos 113.528,48 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril caiu 1,52%, aos 114.915 pontos. O giro financeiro foi de R$ 28,2 bilhões. Em Nova York, as bolsas encerraram em forte queda. 
As ações da Vale (VALE3) e da Usiminas (USIM5) caíram respectivamente 4,30% e 4,06%. Gerdau (GGBR4) e CSN (CSNA3) perderam 5,84% e 5,31%, nessa ordem. CSN Mineradora (CMIN3) desvalorizou 3,91%. 
Flavio Aragão, sócio da 051 Capital, disse que o conflito no leste europeu, a fala dos Bullard e a queda das empresas ligadas às commodities fazem o Ibovespa cair na sessão de hoje, mais o peso maior fica para os comentários do dirigente do Fed causando ‘pânico no mercado porque não poupa palavras”. 
“Há muito tempo não vejo um integrante votante do Fed agindo assim. Fica a sensação de que o Federal Reserve está tentando passar uma situação de conforto como é a postura do Powell [Jerome Powell, presidente do Fed] e os membros dizendo que a situação está muito feia e levando o mercado ao desespero”. Aragão disse que defender o aumento de juros não tem problema, a questão é a forma de fazer isso. Bullard sempre está comentando sobre o aumento de juros nos Estados Unidos. 
Bruno Komura, analista da Ouro Preto investimentos, disse que as tensões entre Rússia e Ucrânia voltaram a preocupar os investidores e a queda das commodities também ajudam no movimento negativo. “A semana começou ruim, depois teve um alívio e agora voltou a tensão porque parece que foi mais um discurso e retórica que ação de fato. Os Estados Unidos estão mais pessimistas e receosos com a possível invasão”. 
As ações das empresas ligadas à mineração e siderurgia caem forte com a intervenção do governo chinês para conter a alta da commodity. “Todas as sinalizações para que o minério não suba mais acaba afetando muito o Brasil”. O preço do minério subiu muito rápido e acabou pressionando a inflação no país asiático, prejudicando o setor de construção civil por lá. 
No caso do petróleo, Komura explicou que o acordo nuclear entre Irã e Estados Unidos faz uma pressão contrária na commodity “porque acaba tirando sanção do Irã, o que faz o país ter um mercado maior para vender petróleo”. Com a crise entre a Ucrânia e a Rússia, o petróleo deveria subir, mas “esse efeito está sendo ofuscado pelo acordo nuclear dos EUA com o Irã”. 
Rodrigo Friedrich, sócio da Renova Invest, comentou que a Bolsa deve abrir em queda e o dia será mais pessimista com o conflito entre Rússia e Ucrânia e queda das commodities. “O trigger para mudar o cenário está relacionado às falas de dirigentes do Fed, ou pode até agravar o movimento”. O presidente do Fed de St Louis, James Bullard, deve discursar hoje. Ele é defensor de um aumento na taxa de juros mais rápida, uma elevação de 1 ponto porcentual nos juros até 1 de julho. 
O dólar comercial fechou em R$ 5,1670, com alta de 0,72%. Após sucessivas quedas, a moeda norte-americana foi afetada pela forte aversão global ao risco, acarretada pela tensão entre Ucrânia e Rússia. 
Segundo a equipe da Ouro Preto Investimentos, “o movimento de hoje não deve ser encarado como de correção, mas como algo mais pontual, diretamente correlacionado à tensão geopolítica. O fluxo deve continuar, por mais que diminua o ritmo”. 
A Ouro Preto acredita que até mesmo uma invasão à Ucrânia não seria trágica, e as chances que uma guerra ocorra são remotas, mas adverte: “As commodities agrícolas, minério de ferro e petróleo devem subir. Ainda devemos ver uma pressão inflacionária por um bom tempo”. 
De acordo com o chefe da mesa de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem, “a economia dos Estados Unidos está delicada, então estão com muita parcimônia. Isso é positivo para o Brasil, que continua a atrair investimentos, e com o dólar caindo a inflação pode diminuir. A maré está muito boa”. 
Nagem, contudo, mostra preocupação com o cenário geopolítico: “O temor com a Ucrânia voltou, e isso pode gerar stress no mercado”, observa. 
Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “a ata do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) veio mais para acalmar o mercado. Todos esperavam um tom mais duro, indicando um aumento de 0,5% nos juros. Foi um alento, além de ter ratificado a valorização do câmbio, tirando força global do dólar”. 
Abdelmalack acredita que a aparente piora na Ucrânia, contudo, é favorável à moeda estadunidense: “Estamos em uma situação de gangorra. Isso gera um certo limite com o ânimo para o investimento em ativos de risco”, diz, referindo-se aos emergentes. 
Já no âmbito doméstico, o fluxo estrangeiro segue intenso, se aproximando dos R$ 50 bilhões. Mas os riscos fiscais continuam no radar: “Enquanto o assuntos dos combustíveis ficar em banho maria, ainda não dá para ter uma dimensão mais exata do risco fiscal”, alerta Abdelmalack. 
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta, após discurso de James Bullard nesta tarde, considerado o mais hawkish entre os membros do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). 
O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 12,405% de 12,400% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,020%, de 11,955%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,455%, de 11,365% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,330% de 11,225%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 5,1700 para venda. 
Os principais índices de ações dos Estados Unidos fechar em queda acentuada, com o Dow Jones tendo a pior queda diária de 2022 (1,78%), à medida que as notícias referentes ao conflito Rússia-Ucrânia mantêm um tom pessimista, sobretudo após o governo americano voltar a declarar que uma invasão pode acontecer a qualquer momento. 
Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
               Dow Jones: -1,78%, 34.312,03 pontos
               Nasdaq 100: -2,88%, 13.716,7 pontos
               S&P 500: -2,11%, 4.380,26 pontos