Bolsa fecha em queda, à espera das decisões sobre juros e balanços; dólar acompanha

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São Paulo – O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, fechou em queda nesta terça-feira, refletindo a cautela do mercado às vésperas das decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos e início da temporada de balanços das companhias domésticas. O pregão também foi marcado pela saída da Gol de todos os índices da B3, desabaram novamente, no último pregão da companhia aérea antes de ser retirada do índice pela B3. Apenas 10 ações encerraram a sessão de hoje com rentabilidade positiva, incluindo blue chips como Vale, Petrobras, Itaú, Bradesco, Ambev e Eletrobras.

O movimento negativo ganhou força no início da tarde, após a divulgação de dados sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos que mostraram que a criação de vagas continua forte por lá. O relatório de emprego e vagas (Jolts, na sigla em inglês) divulgado pelo Departamento do Trabalho dos Estados Unidos registrou a abertura de 9 milhões de postos de trabalho no último dia útil de dezembro, uma alta em relação aos 8,9 milhões registrados um mês antes (dado revisado), que não inclui o setor rural. O dado veio acima do esperado pelo consenso de mercado e é um indicador utilizado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte americano) como uma das medidas favoritas sobre a saúde do mercado de trabalho dos Estados Unidos.

Após a divulgação do Jolts, as apostas de corte dos juros pelo Fed em março caiu bastante, segundo a CME FedWatch, ferramenta que monitora a probabilidade de alterações nas taxas do Comitê Federal de Política Monetária (Fomc, na sigla em inglês). Ontem (29), a probabilidade de cortes nos juros para a faixa entre 5% e 5,25% era de 46,17%, e hoje está em 37,06%. Para a manutenção dos juros, a previsão subiu de 52,88% para 62,19%.

Outro destaque externo que mexeu com o mercado hoje foi a revisão para cima do crescimento do PIB mundial de 2024, pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), de 2,9% em outubro de 2023, para 3,1%, devido à resistência maior do que a esperada nos Estados Unidos e em várias grandes economias emergentes e em desenvolvimento, bem como ao suporte fiscal na China, segundo o relatório.

Por aqui, os investidores também acompanharam a divulgação dos dados de emprego no Brasil e da dívida pública federal. O Brasil cortou 430.159 empregos formais em dezembro, resultado da admissão de 1.502.563 pessoas e da demissão de outras 1.932.722, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados pelo Ministério do Trabalho. Em novembro, o Brasil havia criado 130.097 postos formais. Em termos de estoque, houve uma queda de 0,97% frente a novembro.

Mais cedo, o Tesouro Nacional mostrou que a Dívida Pública Federal (DPF) subiu 3,09% em dezembro em relação a novembro, para R$ 6,5 trilhões. O Relatório Mensal da Dívida mostrou que, apesar do crescimento em relação ao ano de 2022, o valor registrado no ano passado ficou dentro do intervalo previsto pelo próprio governo. A expectativa era que a dívida encerrasse 2023 entre R$ 6,4 trilhões e R$ 6,8 trilhões.

O principal índice da B3 fechou em baixa de 0,85%, aos 127.401,81 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro caiu 1,11%, aos 127.660 pontos. O giro financeiro foi de R$ 16,4 bilhões. Em NY, os índices fecharam mistos.

As ações da Vale (VALE3) recuaram 0,56%, após a divulgação do seu relatório operacional do quarto trimestre de 2023 e seguindo a queda do minério de ferro. Os papéis da Petrobras (PETR3;PETR4) também recuaram 0,44% e 0,61%, em dia volátil para o petróleo e de detalhamento do seu Plano Estratégico 2024-28 para investidores internacionais.

Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos, o mercado operou em compasso de espera das decisões sobre taxas de juros nos Estados Unidos e do tom que será adotado pelo banco central norte-americano, para assim, precificar os seus ativos. “A Vale se destacou hoje em volatilidade, chegando a cair quase 2% hoje, e fechou próximo da estabilidade. O ativo está pressionado tanto pela questão chinesa, após a falência da Evergrande, e por ruídos políticos vindos do governo, sobre uma possível indicação de Guido Mantega para a diretoria e falas mais duras na imprensa”, comentou.

Além da decisão de taxas de juros amanhã, os balanços de grandes empresas nos Estados Unidos, como Microsoft, Alphabet, após o fechamento do mercado, e o início da temporada de resultados no Brasil, com Santander, amanhã (31), que vai dar um norte sobre a economia. “Tudo isso deixa o mercado em compasso de espera por conta de muitos ‘drives’ que podem destravar ou prejudicar valor nas empresas do mercado como um todo nos próximos dias”, finaliza.

A ação da Gol (GOLL4) continuou em queda livre nesta terça-feira, de 26,97%, cotada a R$ 2,87, após a B3 informar que excluirá as ações da companhia aérea de todos os seus índices, inclusive o Ibovespa. A decisão ocorreu em virtude do pedido de Chapter 11 do United States Code pela companhia perante o Tribunal de Falências dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York. A companhia também teve sua nota de nota de crédito global e local rebaixada pela agência de classificação de risco Fitch Ratings para ‘D’ (risco de calote) de ‘CCC-‘, após o pedido de proteção contra falência.

De acordo com análise da Elos Ayta Consultoria, após a queda desta terça-feira, a empresa atingiu um valor de mercado de R$ 1,2 bilhão, aproximadamente equivalente ao da construtora Tenda, que está avaliada em R$ 1,19 bilhão. “A Gol acumulou perdas de R$ 2,55 bilhões no ano de 2024 até 30 de janeiro, com uma queda de R$ 444 milhões apenas no último dia”, comentou o CEO da consultoria, Einar Rivero.

Segundo Rivero, no encerramento das atividades da Gol no Ibovespa, apenas 10 ações encerraram o pregão de hoje com rentabilidade positiva: Suzano (SUZB3:+2,56%); Carrefour (CRFB3:+2,51%); Embraer (EMBR3:+2,46%); Vibra (VBBR3:+1,43%); CSN Mineração (CMIN3:+1,03%); Santander Brasil (SANB11:+1%) Sabesp (SBSP3:+0,75%); SLC Agrícola (SLCE3:+0,32%); Dexco (DXCO3:+0,26%); e CSN (CSAN3:+0,06%).

O dólar comercial fechou em queda de 0,08%, cotado a R$ 4,9453. A moeda apresentou volatilidade ao longo da sessão, à espera da decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) sobre os rumos da política monetária, amanhã (31).

Para o gestor da Hike Capital Ângelo Belitardo, a volatilidade aumenta em um cenário onde o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) está prestes a iniciar um ciclo de corte de juros.

“As commodities se estabilizando e o mercado de trabalho americano perdendo força abrem espaço para o Fed iniciar o corte dos juros”, avalia Belitardo.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em alta, refletindo não só a surpresa com o IGP-M, mas também pressionadas pelos Treasuries (títulos do governo norte-americano) de 10 anos, que reagiram aos fortes dados de emprego do relatório de emprego e vagas (Jolts, na sigla em inglês).

Por volta das 16h35 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 9,985% de 9,975% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 9,695% de 9,665%, o DI para janeiro de 2027 ia a 9,865%, de 9,835%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 10,140% de 10,110% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar comercial operava em leve queda, cotado a R$ 4.9432 para a venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo misto, com o Nasdaq sendo o principal perdedor do pregão, à medida que os investidores se preparam para digerir o início dos resultados das gigantes de tecnologia.

As 7 bigtechs mais importantes – com exceção da Tesla – começam a divulgar seus balanços do último trimestre após o impulso recente da alta nas ações, contribuindo com um crescimento anual dos ganhos de 53,7%.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,35%, 38.467,31 pontos
Nasdaq 100: -0,76%, 15.510 pontos
S&P 500: -0,06%, 4.924,97 pontos

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA

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