Bolsa fecha em leve queda com possibilidade de novas altas de juros nos EUA, mas commodities impedem recuo maior; dólar sobe

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São Paulo- A Bolsa fechou em leve queda impactada pelo discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, que deixou a porta aberta para novas altas de juros nas próximas reuniões, o que fez o mercado ficar mais cauteloso. A queda não foi maior devido à valorização das ações da Petrobras (PETR 3 e PETR4) e Vale (VALE3).

O Ibovespa chegou a superar os 120 mil pontos-a máxima de 120.256,62 pst no interdiário- com as commodities, mas perdeu força.

A Petrobras (PETR3 e PETR4) avançou 2,12% e 2,07%, respectivamente, com a alta do petróleo no mercado internacional e antes do resultado do 3T23 após o fechamento.

A Vale subiu 0,48% acompanhando o minério de ferro e “em meio a expectativas de mais estímulos por parte do governo chinês, após dados fracos de inflação na segunda maior economia do mundo”, disse Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

As ações da Minerva (BEEF3) lideraram as perdas do Ibovespa em 13,45%. “Isso foi o reflexo da recepção negativa ao balanço do terceiro trimestre, onde se evidenciou a receita líquida abaixo do esperado em meio ao declínio dos preços da carne bovina”, acrescentou Nishimura.

Já a Braskem foi destaque de altas do Ibovespa após ontem, no fim da noite, a estatal de petróleo de Adu Dhabi, a Adnoc, fazer uma proposta não-vinculante de R$ 10,5 bilhões para aquisição de uma parcela da companhia. As ações da Braskem (BRKM5) subiram 15,62%.

O principal índice da B3 caiu 0,11%, aos 119.034,14 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro perdeu 0,22%, aos 120.095 pontos. O giro financeiro foi de R$ 25,1 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em queda.

Armstrong Hashimoto, sócio e operador de renda variável da Venice Investimentos, disse que as falas do presidente do Fed e o leilão dos títulos de longo prazo nos Estados Unidos mexeram com o mercado.

“O discurso do Powell não trouxe nenhuma novidade, é aquele bate e assopra, por um lado as medidas restritivas foram tomadas e, por outro, olhando meio copo cheio talvez já tivéssemos deixado o pico pra trás, mas por outro lado sempre acende a luz amarela que a inflação preocupa, atividade forte também, em linha do discurso da semana passada, devemos olhar sempre dado a dado para ver como vai se comportar com a alta de juros, leilão de US$ 24 bilhões, com juro máximo de 4,769% ao ano também mexeu com o mercado, o que significa que o mercado vem pedindo mais prêmio”.

Dierson Richetti, especialista em mercado de capaitais e sócio da GT Capital, disse que não houve novidade na fala do Powell, mas o mercado esperava um discurso mais ameno.

“Ele disse que houve diminuição da pressão da inflação, mas o colegiado não acredita que será o fim da subida de juros e desanima os mercados. Para manter a saúde do mercado americano, ele vai subir juros sem problemas e foi interpretado que está mais propenso a elevar as taxas”.

José Claudio Securato, economista e presidente da Saint Paul Escola de Negócios, disse que existe posição cautelosa em relação à política monetária norte-americana.

“Ele ressalta que a inflação não está garantida, ou seja, que o cumprimento do sistema de meta da inflação não foi cumprido apesar da tendência de queda e bons resultados da política monetária adotado recentemente, é factível que ele pondere que fará apertos monetários. Embora não cite o conflito no Oriente Médio, é claro que deixa o ambiente global mais desafiador acredito que a decisão vai ter técnica em base nos dados econômicos”.

Bruno Komura, analista da Potenza Investimentos, disse as falas do Powell e de outros membros do Fed têm tido que o aperto monetário não está descartado.

“Todos os dirigentes do Fed adotaram o mesmo tom, eles ainda acham que tem chance de os juros serem restritivos o suficiente, os dados do CME [da Bolsa de Chicago] mostram que teve um aumento da probabilidade de subir juros em dezembro, janeiro e março; não acredito que esse seja o cenário base, mas o Fed deve continuar com este discurso para manter os vértices mais longos em patamar elevado”.

Mais cedo, Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, disse que a Bolsa sobe influenciada pelas commodities e atento às falas do Powell.

“Hoje vemos pesos-pesados no interior do índice indo bem como Vale, siderúrgicas por conta do minério de ferro e Petrobras avançando com o ritmo do petróleo e à espera do balanço da companhia após o fechamento; amanhã será um dia definitivo com a digestão dos dados de Petrobras e Bradesco; a expectativa é boa para o resultado da estatal porque tivemos uma alta no preço do petróleo e o resultado de 3R Petroleum veio bem, com a queda dos preços dos combustíveis lá fora temos espaço para um corte de 5% no preço da gasolina aqui; em relação ao Bradesco não vejo boas perspectivas, deve ficar muito aquém de Itaú e BTG Pactual, hoje tem possibilidade do Powell falar sobre política monetária e o mercado está ansioso”.

Em relação à reforma tributária aprovada no Senado, Spiess disse que “agenda econômica andando bem ajuda o mercado”.

O analista da Empiricus Research reforçou que amanhã será um dia importante para o mercado, com a repercussão dos resultados corporativos e IPCA aqui.

“O IPCA não deve trazer muita surpresa, a previsão é de 0,28% na comparação mensal, o que seria desaceleração anual; se vier abaixo do esperado é ótimo porque dá motivo para continuar o ciclo de flexibilização; se vier 0,25% e o resultado de Petrobras sair bom será um motivo de alta para a Bolsa e se não tiver nada de errado na fala do Powell tem espaço para consolidar a alta hoje e seguir no positivo amanhã”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,68%, cotado a R$ 4,9404. A moeda estadunidense ganhou força após as falas do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, dizendo que novos aumentos de juros não estão descartados.

Mais cedo, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de Richmond, Thomas Barkin, já havia adotado o mesmo tom hawkish (severo, propenso ao aumento dos juros).

Para a economista do Banco Ourinvest Cristiane Quartaroli, o discurso mais hawkish fez com que a divisa estadunidense ganhasse força.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) operam fecharam em alta. Isso teve reflexo imediato da fala do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, que não descartou novos aumentos de juros.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,000% de 12,002% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,840% de 10,795%, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,630%, de 10,560%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,755% de 10,660% na mesma comparação.

Os principais índices de mercado dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo negativo, com Wall Street avaliando o discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, que voltou a dizer que ainda há um caminho para o Fed percorrer antes de encerrar o aperto monetário suficiente para reduzir a inflação.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,65%, 33.891,94 pontos
Nasdaq 100: -0,95%, 13.521,4 pontos
S&P 500: -0,80%, 4.347,35 pontos

Com Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Agência CMA