Bolsa fecha em leve alta, limitada por Petrobras e feriado nos EUA; dólar cai

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São Paulo – A Bolsa encerrou o dia em leve alta, mostrando volatilidade e acentuando perdas perto do fim do pregão, com impulso de commodities, mas limitada pela Petrobras e pela perda de liquidez por conta do feriado nos Estados Unidos na segunda-feira.

O movimento dos negócios não conseguiu refletir a recuperação das bolsas de Nova York, que fecharam em forte alta após leitura positiva dos dados de inflação nos Estados Unidos e recuperação após semanas de perdas.

O Ibovespa, principal índice da B3, encerrou a sessão em alta de 0,04%, aos 111.941,68 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho tinha queda de 0,09%, aos 112.500 pontos. O volume financeiro do mercado foi de aproximadamente R$ 19,6 bilhões. Na semana, o Ibovespa subiu 3,1% e no mês, registrou alta de 5,3%.

Hoje foram divulgados nos Estados Unidos o Indice de Preços para Gastos de Consumo Pessoal (PCE), que é acompanhado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) para medir a evolução dos preços dos bens e serviços adquiridos pelos consumidores para fins de consumo, e dados sobre renda e gastos pessoais.

As ações da Vale (VALE3) fecharam com ganho de 1,88%, após alta de 3,26% nos preços dos contratos futuros do minério de ferro na bolsa de Dalian, na China.

Notícias negativas sobre a Petrobras e combustíveis prejudicam os papéis. As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) recuaram mais de 4% e ficaram entre as maiores quedas do Ibovespa, em meio a rumores de risco de desabastecimento de diesel no mercado local e falas do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que disse ser favorável ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vender suas participação na Petrobras ao invés do governo privatizar a companhia. Em entrevista à Rádio Bandeirantes, Lira sugeriu que o governo venda a participação das ações da empresa sob controle do banco e deixe o controle acionário na petroleira. “Ele (governo) poderia vender as ações que tem no BNDES, em torno de 14%, e deixaria de ser majoritário”, disse Lira.

Para Josias Matos, estrategista da Toro Investimentos, a queda das ações da Petrobras – que têm forte peso no Ibovespa – refletiu a mudança de comando, o risco de desabastecimento de diesel no País e atrapalhou a Bolsa a alcançar o otimismo registrado nas Bolsas de Nova York, que registraram alta acentuada nesta sexta-feira.

Para José Costa economista-chefe da Codepe Corretora, a fala de Lira influencia em uma perspectiva de perda de valor para a companhia e, consequentemente, na atratividade dos papéis, que já enfrentam bastante turbulência.

Já o movimento da Bolsa na manhã desta sexta-feira foi influenciado por uma reação positiva das bolsas de Nova York após a divulgação do PCE veio abaixo do esperado. “Se a inflação mostrar que está caindo, começa a gerar dúvida em relação aos próximos aumentos de juros do Fed. No Brasil, sabemos lidar com a inflação. Nos EUA, faz 40 anos que não chegava no patamar atual. Então, o dado do PCE de hoje já ajudou”, comentou o economista.

Para Fábio Guarda, sócio e gestor da Galápagos Capital, o movimento do final da tarde foi prejudicado pela falta de liquidez por conta da véspera de feriado nos EUA na segunda-feira, o que prejudicou os juros e câmbio. “Na minha visão, o investidor tirou um pouco de risco hoje para passar os próximos dias com mais liquidez.”

Em relação ao movimento da semana, o analista avalia que a volatilidade foi influenciada pelos dados de inflação do IPCA-15 bem acima do esperado, com inflação de serviços muito pressionada. “Isso coloca um pouco em xeque se o Banco Central vai conseguir pausar o aumento de juros, então seguiremos atentos aos dados.”

O analista mostrou visão construtiva para os negócios no curto prazo. “O fluxo de notícias tem sido favorável, o follow-on da Eletrobras traz um ânimo grande, considerando que estamos num ano de eleição. Já as mudanças de tributação para reduzir tarifas não são saudáveis e vão cobrar o preço da economia no futuro e segurou a valorização que poderíamos ter visto no real”, avalia. “Hoje a Bolsa brasileira ficou para trás do S&P e a bolsa está com menosamplitude que a Bolsa de Nova York.”

Para Rodrigo Moliterno, Head de renda variável da Veedha Investimentos, o movimento reflete o dia positivo das Bolsas de Nova York, com o mercado fazendo uma leitura positiva em relação ao ritmo de aperto monetário de Fed, após divulgação do PCE, que mostrou desaceleração, e dos gastos de consumo dentro das expectativas.

“A nossa bolsa pega carona nesse movimento externo, mas de forma um pouco mais moderada, devido a um pouco de mau humor que paira sobre o nosso mercado por conta da Petrobras e perde cerca de 3%, ainda repercutindo a mudança de CEO e o risco de interferência nos preços. Hoje, houve a fala do [Arthur] Lira sobre a privatização, o que deixa o papel em movimento de realização, após alta ao longo da semana.”

Os destaques positivos ficam para as ações de mineração e siderurgia, com dados de alta do minério por estímulos do governo chinês. As empresas de saúde também avançam após a autorização de reajustes anunciada ontem pela agência reguladora. E o setor de shoppings também mostra recuperação, com destaque para a BR Malls, por conta da notícia de crédito do Pronampe e a aprovação do projeto de lei que limita o teto do ICMS, o que pode atrair mais receitas para o setor.

“O destaque de altas é da BRF, repercutindo o movimento da empresa de que vai reduzir os cargos de diretoria para enxugar custos, o que faz parte do plano do CEO Lorival Luz, e o papel vinha apresentando queda muito forte e isso está dando uma recuperação.”

Já em relação à oferta de R$ 30,7 bilhões da Eletrobras, a reação foi inicialmente neutra e o papel fechou com leve alta (0,4%), com o mercado considerando que o preço da oferta será definido à frente pelo mercado no bookbuilding (procedimento de coleta de intenções com investidores).

O dólar comercial fechou em queda de 0,46%, cotado a R$ 4,7390. A valorização das commodities, o enfraquecimento global da moeda norte-americana e o maior apetite ao risco foram os drivers deste movimento.Na semana, o dólar acumulou baixa de 2,71%.

Segundo o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio Leal, “existe um enfraquecimento global do dólar, além das commodities em alta, o que valoriza as moedas emergentes”.

Leal entende que este cenário deve permanecer até o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) anunciar o aumento do ciclo de aperto monetário: “Ele deve alongar o aumento nos juros, que devem chegar a 3,0% ao final de 2022 e em 4,0% ao término do ciclo”, projeta.

De acordo com o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, “o dólar está caindo lá fora,com os dados americanos que vieram neutros. A perspectiva de mais estímulos na China é positiva, mas existe a percepção de politização na tolerância zero ao covid no país, com a aproximação das eleições”, analisa.

Para o sócio fundador da Pronto! Invest, Vanei Nagem, “o cenário externo é positivo, com o mercado entendendo que talvez a recuperação econômica chinesa e americana seja mais rápida do que se imaginava”.

Nagem enfatiza que o capital estrangeiro que entra na bolsa é majoritariamente especulativo. Aliado à Selic (taxa básica de juros), o fluxo faz com que o real ganhe força.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam de lado, após uma abertura negativa, nesta sexta-feira (27), com mercado ainda repercutindo novo teto do ICMS, aprovado pela Câmara nesta semana, mas aguardando aprovação no Senado, e feriado nos EUA, na segunda-feira (30).

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,330% de 13,345% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,795%, de 12,800%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,130%, de 12,080% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,930% de 11,905%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em queda, cotado a R$ 4,7370 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em alta, com a Nasdaq subindo 3,33%, impulsionados por indicadores da economia norte-americana de que a inflação está desacelerando. A Dow Jones e a S&P registraram seus melhoras semanas desde novembro de 2020.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices futuros de ações dos Estados Unidos
após o fechamento:

Dow Jones: +1,76%, 33.212,96 pontos
Nasdaq 100: +3,33%, 12.131,1 pontos
S&P 500: +2,47%, 4.158,24 pontos

Veja o acumulado dos índices na semana:

Dow Jones: +6,25%
Nasdaq Composto: +6,84%
S&P 500: +6,58%