Bolsa fecha em leve alta em meio à valorização da Petrobras e atenção às falas de Lula e exterior negativo; dólar sobe

735

São Paulo – A Bolsa fechou em alta, mas o Ibovespa operou grande parte do pregão no negativo em um dia em que os investidores repercutiram novamente as falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com críticas aos juros altos no Brasil. Dessa vez foi no evento de cerimônia de posse do Aloizio Mercadante como presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BDNES).

Somado a isso, os agentes financeiros ficaram preocupados com a possibilidade do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) ser mais agressivo, após o payroll forte na sexta-feira.

A Petrobras (PETR3 e PETR4) subiu forte 3,62% e 3,99% refletindo a alta da commodity no mercado internacional e ajudou o movimento do Ibovespa, uma vez que as ações representam mais de 10% do índice. A Vale (VALE3) caiu e arrastou o setor.

O principal índice da B3 subiu 0,18%, aos 108.721,58 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro avançou 0,28%, aos 109.165 pontos. O giro financeiro foi de R$ 21,3 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam no negativo.

André Fernandes, head de renda variável e sócio A7 Capital, disse que a postura mais defensiva do mercado hoje em geral pode ser “justificada pelo discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, que acontecerá amanhã à tarde e por expectativa do mercado com a ata do Copom também amanhã”.

Fernandes disse que o Ibovespa reflete a “queda de braço do governo com o Banco Central, com o presidente Lula criticando novamente a atuação do BC na condução dos juros; a alta da Petrobras ajuda a Bolsa não cair mais”.

As maiores altas do pregão, como Cielo (CIEL3), Vibra Energia (VBBR3) e Grupo Ultra (UGPA3) são atribuídas “a elevação de recomendações para a compra por parte do Citi em relação à Cielo, e Itaú BB com Vibra Energia e Grupo Ultra”, disse head de renda variável e sócio A7 Capital. Todas avançam mais de 3%.

Alexsandro Nishimura, economista e sócio da BRA BS, disse que o mercado sempre vai reagir mal às sinalizações de interferência política na condução das decisões econômicas. “As críticas de Lula à independência do BC e ao patamar da taxa de juros se refletem no aumento do custo para a inflação convergir à meta, com elevação das projeções para o IPCA e da Selic; os juros não se reduzem na canetada, que costuma ter efeito contrário”.

Rodrigo Simões, economista e professor da FAC-SP, afirmou que a fala do Aloizio Mercadante, durante sua posse, mais cedo, “foi muito boa pois reconhece que o banco não repetirá os erros do passado e que procurará ser eficiente na gestão de empréstimos.

O economista e professor da FAC-SP disse que a fala do Lula sobre os juros e Banco Central deixa o mercado “de certa forma preocupado porque prejudica o desenvolvimento do setor privado e consequentemente afeta a Bolsa”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,54%, cotado a R$ 5,1750. A moeda refletiu o desconforto das críticas de Lula ao Banco Central (BC) e o temor que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) prolongue o ciclo contracionista nos Estados Unidos.

Segundo o sócio fundador da Pronto! Invest Vanei Nagem, “o mercado continua refletindo lá fora. Não vejo tanta interferência do Lula, por mais que ele dê algumas cutucadas. Esta semana o dólar deve se acomodar”.

Para o analista da Ouro Preto Investimentos Bruno Komura, “isso acaba sendo muito ruim, pois o investidor estrangeiro vê a independência do BC como algo muito importante. Isso pode fazer com que o dólar suba, e já estamos entre as piores emergentes no momento”, referindo ao atrito entre Lula e o presidente do BC, Campos Neto.

Komura classifica os sinais da economia norte-americana como preocupantes, mas pondera: “Na visão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) o impacto é menor, pois ele já estava cauteloso, e o cenário inflacionário ainda preocupa, especialmente o setor de Serviços que costuma ser mais resiliente”.

De acordo com o boletim da Ajax Asset, “em dia de fraca agenda nos Estados Unidos, juros dos Treasury Bonds (títulos do Tesouro norte-americano) continuam em alta. Assim, os ativos de risco voltam a registrar perdas. Por aqui, ativos locais devem seguir o movimento de baixa do exterior”.

Já a Mirae Asset entende que “a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) chama a atenção, até para sabermos qual a extensão do clima de beligerância entre Roberto Campos Neto e o presidente Lula. Este clima vai mais para a esfera pessoal, por Lula considerar o presidente BC bolsonarista. Tal clima é visto como contraproducente pelo mercado, por ameaçar minar a credibilidade do governo na sua gestão econômica”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda, após um dia de alta, que refletia os ruídos sobre a autonomia do Banco Central e o nível das metas de inflação.

Por volta das 16h40 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,790% de 13,815% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 13,200%, de 13,250%, o DI para janeiro de 2026 ia a 13,070%, de 13,130%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 13,055% de 13,155% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 5,1740 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em queda, enquanto os investidores lidam com a temporada de balanços do último trimestre e avaliavam as perspectivas para as taxas de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) após o relatório de empregos de janeiro.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,10%, 33.891,02 pontos
Nasdaq 100: -1,00%, 11.888
pontos S&P 500: -0,61%, 4.111,08 pontos

Pedro do Val de Carvalho Gil / Paulo Holland, Darlan de Azevedo