Bolsa fecha em leve alta, com baixa liquidez e redução do prazo da PEC da Transição; dólar cai

753
Foto: Dominik Gwarek / freeimages.com

São Paulo – A Bolsa fechou em leve alta, impulsionada por ações de peso e limitada por correções aos fortes ganhos do pregão anterior e frigoríficos e por menor liquidez devido à proximidade das festas de fim de ano. Os investidores precificaram o texto da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Transição aprovado parcialmente ontem à noite na Câmara dos Deputados, enquanto aguardam a definição cenário fiscal para 2023.

O principal índice da B3 subiu 0,53%, aos 107.433,14 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro subiu 0,03%, aos 109.355 pontos. O giro financeiro foi de R$ 22,1 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta.

A ação da Vale (VALE3) fechou o pregão em leve alta (0,57%), acompanhando a alta do minério de ferro e limitada por notícias de piora da pandemia na China. Os papéis da Petrobras (PETR3 PETR4) avançaram mais de 2%, seguindo a alta dos preços internacionais de petróleo. Os papéis do setor financeiro também encerraram majoritariamente no campo positivo.

Os principais destaques de alta foram IRB Brasil, que subiu 25%, após reversão de prejuízo em outubro, e as companhias de saúde Sul América e Rede D’Or, que fecharam em alta de 6,37% e 4,47%, após aprovação da combinação de negócios pela agência reguladora.

Entre as maiores quedas, a Magazine Luiza corrigiu os ganhos do último pregão e caiu mais de 7%, seguida por Alpargatas, MRV e frigoríficos Minerva, Marfrig e JBS, impactados por pressões de aumento de custos no mercado americano.

O movimento de hoje corrigiu os ganhos de ontem, quando as negociações sobre a PEC indicavam uma desidratação do texto, especialmente a redução do prazo aprovado pelo Senado na semana passada, de dois para um ano.

Os investidores precificaram o texto aprovado na Câmara, que suprimiu o prazo de validade da medida de dois anos e prevê a ampliação do teto apenas em 2023. Os gastos extras aumentaram em R$ 145 bilhões. Desse total, R$ 70 bilhões vão para o Auxílio Brasil (que deverá voltar a se chamar Bolsa Família), mantendo o benefício mínimo em R$ 600 mais R$ 150 por criança de até seis anos de idade.

Os demais R$ 75 bilhões seriam distribuídos para outras áreas do governo, incluindo saúde, educação e aumento do salário mínimo. Outros R$ 23 bilhões de receitas extraordinárias irão para investimento em obras de infraestrutura.

Agora, o mercado aguarda o resultado da votação da PEC da Transição no Senado. Após a aprovação na Câmara dos Deputados ontem à noite, a proposta foi novamente aprovada em segundo turno, pelo mesmo placar de 331 votos a favor e 163 contra, acima dos 308 votos mínimos exigidos.

Nesta quarta-feira, os investidores também acompanharam os dados divulgados pelo Banco Central e no exterior e falas do futuro presidente do BNDES Aloizio Mercadante sobre a transição. Ele também confirmou que os ex-ministros Nelson Barbosa e Tereza Campello também farão parte da sua diretoria no banco de fomento.

No fim do pregão, o futuro ministro da Economia, Fernando Haddad, disse que buscará a definição de um novo arcabouço fiscal duradouro e que iniciará um debate com diversos economistas para construir um consenso em relação à definição de uma âncora “consistente e viável”. Ele lembrou que a regra que estava em vigor foi quebrada várias vezes, o que mostra que o arcabouço não era viável.

Bruno Komura, da Ouro Preto Investimentos, avalia que o mercado ficou aliviado com a limitação do prazo de retirada do teto de gastos embora o valor ainda seja alto, na sua visão. “A prazo de um ano foi bem recebido pelo mercado, mas preocupa a ausência de âncora fiscal por um ano. Mas essa discussão será levada para o ano que vem e pode haver uma definição”, comenta o analista.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, aponta que os indicadores divulgados hoje não influenciaram e o movimento foi influenciado pela discussão local sobre o orçamento. “O Brasil ‘tradou’ mais por fatores locais, com reflexo bem grande da desidratação da PEC da Transição. A leitura do mercado era de que ela estava exagerada, então, reagiu nbem à diminuição do prazo e valores discutidos nas últimas semanas.”

Leandro Petrokas, diretor de Research e sócio da Quantzed, destaca a alta das ações de bancos, que subiram hoje acompanhando os pares internacionais na bolsa americana como JP Morgan e Goldman, e ações da Petrobras que também estão em alta refletindo a alta do petróleo lá fora.

“Uma medida provisória que zera alíquotas de PIS e COFINS sobre receita das companhias do setor aéreo também colabora para ações da Gol e Azul subirem no dia de hoje reagindo de forma muito positiva a essa medida”, comenta Petrokas.

O sócio da Quantzed aponta que o setor imobiliário também sobe hoje refletindo queda dos juros, o que tende a ser positivo para as empresas do setor. Destaque para Direcional Engenharia e também construtora Curi subindo hoje.

“Na ponta negativa, temos Magalu, caindo mais de 6%. Vale destacar que nos últimos dois pregões, as ações chegaram a subir 28% da mínima para a máxima. Então, hoje temos um movimento de realização de lucros, mesmo com os juros caindo. Empresas do setor de proteína como Minerva e JBS também estão caindo hoje tendo em vista o cenário desafiador pela frente no setor de proteína animal”, finaliza.

O dólar comercial fechou em queda de 0,09%, cotado a R$ 5,2040. O movimento refletiu o avanço das negociações da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição e a aparente melhora na perspectiva fiscal para 2023.

Segundo o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, “o câmbio está seguindo o movimento externo, o mercado já parece ter precificado a PEC”.

“O real está em linha com os pares emergentes e agora vai depender da nomeação dos novos ministérios, e qual será a âncora fiscal que o governo irá propor para impedir que a dívida pública volte a aumentar de modo insustentável”, opina Rostagno.

Para o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, “o mercado não gostou da PEC, mas é o que tem. O movimento é mais de espera com o que pode acontecer no fiscal a longo prazo”.

De acordo com o boletim da Ajax Asset, “lá fora, ativos de risco em alta, enquanto dólar opera em leve alta. Por aqui, ativos devem acompanhar exterior. No front político, a Câmara deve aprovar a PEC da transição em segundo turno, e (o futuro ministro da Fazenda) Fernando Haddad pode anunciar novos nomes de sua equipe”.

As taxas curtas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda. O movimento refletiu a melhora do ambiente fiscal interno, com o avanço das negociações sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição na Câmara e a queda dos treasuries (títulos do Tesouro) dos Estados Unidos.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,660% de 13,656% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,780%, de 13,780%, o DI para janeiro de 2025 ia a 13,265%, de 13,365% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 13,130% de 13,195% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em queda, cotado a R$ 5,2010 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo positivo, subindo pelo segundo dia consecutivo, depois que os balanços corporativos da Nike e da FedEx aumentaram as esperanças de que os lucros das empresas podem ser melhores do que o temido. Também deu impulso aos índices o indicador de confiança do consumidor muito acima do esperado.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +1,60%, 33.376,48 pontos
Nasdaq 100: +1,54%, 10.709,0 pontos
S&P 500: +1,48%, 3.878,44 pontos

Com Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Agência CMA.