Bolsa fecha em forte queda e dólar sobe com impacto das eleições; estatais tombam

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São Paulo- Em dia de aversão ao risco no mercado doméstico, a Bolsa interrompeu o movimento de alta e fechou em queda forte, perdeu quase quatro mil pontos, puxada pelas empresas estatais e com China no radar.

Os investidores mantêm-se cautelosos na reta final das eleições presidenciais, com a preocupação que o episódio da véspera envolvendo o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), aliado do presidente Jair Bolsonaro, impacte na campanha do candidato à reeleição.

Na semana passada, o cenário era inverso com as pesquisas sinalizando uma menor diferença entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o seu adversário o presidente Jair Bolsonaro.

A Petrobras (PETR3 e PETR4) e Banco do Brasil (BBSA3) caíram 9,88% e 9,19%; 10,02%, respectivamente. Hoje, após o fechamento do mercado, a Petrobras vai apresentar o relatório de produção e vendas referente ao terceiro trimestre de 2022.

A Vale (VALE3), ação de maior peso no índice, desacelerou 2,96% refletindo as notícias da China com Xi Jinping mais cinco anos no poder e seus posicionamentos quanto à manutenção da política de covid zero e a regulamentação de setores como imobiliário e de tecnologia.

O principal índice da B3 caiu 3,26%, aos 116.012,70 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro perdeu 3,68%, aos 117.945 pontos. A máxima no interdiário atingiu 119.924,17 e a mínima foi de 115.792,69 pontos. O giro financeiro foi de R$ 30,3 bilhões. Em Nova York, fecharam em alta.

Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, comentou que a queda da Bolsa reflete a China e a questão eleitoral aqui.

“Mesmo o país asiático divulgando dados positivos com o PIB acima do esperado, a reeleição de XI Jinping preocupa o mercado por conta da política zero imposta pelo governo e o Brasil acaba sendo afetado com a correlação que tem com os chineses pelas exportações; o outro motivo é o caso Roberto Jefferson em que uma parte do mercado acredita que a ligação com Bolsonaro pode fazer o presidente perder voto”.

Ricardo Leite, head de renda variável da Diagrama Investimentos disse que o evento no fim de semana envolvendo o ex-parlamentar preocupa os investidores na reta final da campanha eleitoral.

“As estatais estão despencando com os possíveis estragos que podem acontecer, o mercado vai digerir bastante as informações e talvez acenar uma vitória do Lula por conta do efeito do Roberto Jefferson na campanha do Bolsonaro”.

Leite ressaltou que as pesquisas eleitoras e até o debate em TV podem dar um tom mais positivo, mas “a cautela vai imperar no mercado ao longo da semana”.

O head de renda variável da Diagrama Investimentos afirmou que os investidores digerem os dados mistos da China. O PIB do 3T22 subiu 3,9%, melhor que o esperado, mas “a expectativa de importação e exportação deve diminuir bastante e o mercado terá um conflito com o impacto que deve gerar nos próximos dois trimestres”.

Vicente Matheus Zuffo, fundador e CIO da Chess Capital, disse que a queda aqui é atribuída à questão doméstica com o que aconteceu no fim de semana. “Na sexta-feira o mercado acabou animando mais do que deveria e hoje percebeu que a eleição ainda está indefinida, sendo que uma eventual vitória do Lula pode gerar um impacto bastante negativo”.

O dólar comercial fechou em alta de 2,97%, cotado a R$ 5,3010. O driver do dia foram as tensões na política doméstica, impedindo que a melhora no ambiente externo favorecesse a moeda brasileira.

Segundo o economista da Guide Investimentos Rafael Pacheco, “lá fora até que o dia está positivo, mas o que impera é o ambiente local, com o episódio do Roberto Jefferson fazendo mais preço. A avaliação do mercado é que o (presidente, Jair) Bolsonaro perde um pouco das chances”.

Além disso, Pacheco também vê um movimento de correção após sucessivas quedas na última semana, mas alerta: “Os próximos dias devem ser muito voláteis no câmbio”, diz.

De acordo com o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, “o dólar está seguindo lá fora. Como a sessão de sexta foi muito forte, a janela de saída é curta”.

Para o analista da Ouro Preto Investimentos Bruno Komura, “o movimento de aversão ao Brasil é bem forte. Tudo que aconteceu no final de semana pode afetar a imagem do presidente, e afastar o eleitor de centro. O otimismo da semana passada foi irracional”. Komura refere-se ao ex-deputado Roberto Jefferson, que ontem recebeu agentes da Polícia Federal a tiros.

Komura também entende que a reeleição de Xi Jinping como secretário-geral do Partido Comunista Chinês é preocupante: “Ele (Jinping) colocou na liderança todas as pessoas próximas a ele. Indica que eles não vão mais estimular o setor de construção, o que é ruim para o Brasil, pois afeta as commodities”, pontua.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta. O movimento de hoje foi marcado tanto pelo cenário doméstico turbulento quanto pelo temor de um Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mais duro.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,686% de 13,684% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,875%, de 12,825%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,820%, de 11,640% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,710% de 11,490%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações fecharam a sessão em alta, estendendo o rali da última semana, enquanto Wall Street aguarda alguns dos balanços corporativos do trimestre mais importantes nesta semana.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +1,54%, 31.562,40 pontos
Nasdaq 100: +1,02%, 10.970,1 pontos
S&P 500: +1,41%, 3.805,94 pontos

Com Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Agência CMA