Bolsa fecha em alta pelo 2º dia com IPCA abaixo das expectativas e destoa do exterior; dólar sobe

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São Paulo- A Bolsa fechou em alta pelo segundo dia consecutivo, destoando do exterior, beneficiada por uma inflação abaixo das estimativas do mercando-o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto subiu 0,23% contra a projeção de 0,28%- e as empresas ligadas à economia doméstica foram favorecidas com a queda dos DIs e percepção de que o Banco Central (BC) vai seguir com o ciclo de queda de juros.

Com a alta do petróleo, as ações ligadas à commodity tiveram alta, como Petrobras (PETR3 e PETR4) subiram 1,09% e 0,47%. Petrorio (PRIO3) avançou 0,83% e 3RPetroleum (RRRP3) aumentou 1,73%.

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) divulgou hoje um relatório mostrando que a previsão de demanda pela commodity se manterá em 2,4 milhões de barris de petróleo por dia (bpd) em 2023. Já a oferta teve sua previsão revisada para cima, de 100 mil bpd, e vai para 1,6 milhão em 2023.

Os investidores ficam no aguardo dos dados de inflação nos Estados Unidos, amanhã (13) para entender o rumo dos juros por lá.

O destaque positivo ficou para a Petz (PETZ3), ASAI (ASAI3) e Hapvida (HAPV3), subiram 5,79%, 5,31% e 4,50%, que possuem grau de alavancagem alto e os juros mais baixos ajudam nos fundamentos.

A ação de Magazine Luiza (MGLU3) avançou 2,74%; Lojas Renner (LREN3) cresceu 1,65%. MRVE(MRV3) aumentou 1,94%. Todas as ações sensíveis a juros.

O principal índice da B3 subiu 0,92%, aos 117.968,12 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro avançou 0,51%, aos 119.130 pontos. Na máxima interdiária atingiu 118.153,67 pontos. O giro financeiro foi de R$ 17 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Elcio Cardozo, especialista de mercado de capitais e sócio da Matriz Capital, disse que o IPCA abaixo do consenso foi o grande fator que impulsionou a alta da grande maioria dos papéis que compõem o IBOV no pregão de hoje.

“Os dados foram positivos e o mercado entende que, neste caminho, há espaço para o Banco Central continuar o movimento de queda de juros iniciado na última reunião do Copom. A atenção do mercado fica para a divulgação dos dados de inflação nos EUA amanhã”.

Em relação à Braskem (BRKM5), as ações vêm apresentando alta volatilidade nas últimas semanas, hoje caía mais de 2%. ” As incertezas acerca da venda de parte da empresa estão entre os principais motivos para toda a volatilidade apresentada”.

Vinicius Steniski, analista de ações do TC, disse que o IPCA melhor que o esperado acaba impulsionando o setor de consumo interno, principalmente varejo, beneficiado pela queda na curva de juros. “Com inflação menor, o mercado começa enxergar que os juros têm que ceder um pouco mais ou se manter em um período mais longo em um patamar mais baixo; com a alta do petróleo puxa as juniors oil e Petrobras”.

Bruno Komura, analista da Potenza Investimentos, disse que a Bolsa sobe puxada pelo cenário doméstico.

“O mercado gostou do IPCA, veio positivo, mas abaixo das expectativas, quando olha o qualitativo, o índice de difusão [mede a proporção de bens e serviços que tiveram aumento de preços no período] aumentando parece ruim, mas no final vemos o grupo de serviços arrefecendo e vai permitir que o Banco Central corte 50 pontos por reunião. A ideia do mercado de cortar 75 pontos é afastada, isso seria otimista demais e poderia causar problemas inflacionários no futuro agora ancorou bem as expectativas com esse IPCA; Petrobras também ajuda, mas tem que tomar cuidado. O petróleo subindo é bom para empresa, mas tem que pensar que é um case atípico, se subir demais o governo vai começar a segurar preço; com o petróleo perto dos US$90 a Petrobras pode se beneficiar, mas se subir pra mais de US$100, US$120, os investidores vão começar a ter receio”.

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, disse que o IPCA deu um impulso positivo para o Brasil. “A Bolsa sobe e os juros caem e a gente está destoando do exterior, o índice foi menor que se esperava o que reavivou a chance de cortar 0,75pp, mas o Banco Central vai preferir fazer um corte de 0,50pp. A discussão de acelerar será só no final do ano e para o ano que vem o BC vai ir muito além, tem chance de chegar 9,0% e até 8,0% [a taxa de juros] diante de uma inflação mais controlada”.

Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que o IPCA ficou abaixo da expectativa do mercado, mas ainda assim é uma aceleração e o mercado deve ficar em alerta.

“O núcleo do IPCA apresentou queda bastante expressiva na parte de alimentação e bebidas [-0,85%] e, em contrapartida, uma considerável alta em Habitação [grupo; +1,11%]; os demais núcleos trabalharam com aumentos, com exceção de artigos residenciais e comunicação que ficaram praticamente estáveis; isso de certa forma mostra que o núcleo teve uma pulverização na questão dos aumentos e, se não fosse essa queda no grupo de alimentação e bebidas, provavelmente teríamos um resultado final bem mais expressivo. Esse aumento nas últimas três leituras é um sinal de atenção, se esse movimento se perpetuar podemos ter um risco mais elevado de inflação prejudicando a expectativa na redução de juros; temos de acompanhar se vai ter novos aumentos dos combustíveis por parte da Petrobras, é um driver importante”.

Matheus Spiess, analista da Empiricus, disse que o mercado deve olhar com bons olhos o número cheio do IPCA de agosto, mas com devidas ressalvas.” O ponto positivo do indicador é que o número cheio veio abaixo do esperado [+0,23% contra 0,28% projeção do mercado], com esperado avanço, como já previsto que no segundo semestre teria uma reaceleração do indicador, parte disso é efeito base versus o ano passado. Na base anual também abaixo do consenso [veio 4,61% contra projeção 4,66%] e neste contexto volta a tese de corte na Selic de 75 pontos-base, ainda é uma possibilidade, que anteriormente estava sendo abandonada. Não vai acontecer necessariamente porque ainda temos um ambiente incerto com alta do petróleo e do dólar. O grupo serviços desacelerou, mas não tanto como se estimava e a alimentação que não foi tão deflacionária como se esperava (-0,81%); o item alimentação e bebidas caiu pelo terceiro mês consecutivo, mas foi abaixo da medida do mercado; têm esses pontos de atenção e a reação não é totalmente positiva, mas o dado cheio dá esperança”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,47%, cotado a R$ 4,9540. A moeda refletiu, ao longo da sessão, a espera pelo índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês), que será divulgado amanhã nos Estados Unidos, e pode sacramentar os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

Para o head de Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, “o real está em linha com os pares, hoje existe um movimento do dólar à espera do CPI”.

Weigt ressalta que apesar do real ter ganhado um pouco de terreno na comparação com a manhã, o ambiente global ainda é de aversão ao risco.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em queda depois da divulgação de dados positivos da inflação, que veio abaixo das expectativas do mercado. Com isso, as apostas de um corte mais drástico na Selic (taxa básica de juros) ainda esse ano ganham mais força. Analistas já falam em corte da magnitude de 0,75 p.p. na reunião de dezembro.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,290% de 12,295 % no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,420% de 10,495%, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,050%, de 10,165%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,387% de 10,390% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo negativo, com o Nasdaq caindo mais de 1%, depois que da divulgação anual da Apple num dia que as ações de tecnologia enfrentaram pressões.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,05%, 34.645,99 pontos
Nasdaq 100: -1,04%, 13.773,6 pontos
S&P 500: -0,56%, 4.461,90 pontos

 

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA