Bolsa fecha em alta de 1,90% com ajuda de Vale, Petrobras e Copom; dólar recua

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São Paulo- A Bolsa fechou em alta de 1,90%, em movimento oposto ao exterior, favorecida pela valorização de Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3 e PETR$), ações de maior peso no índice.

Somado a isso, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) em não mexer na taxa básica de juros (Selic) agradou o mercado. Atualmente, a Selic está em 13,75% ao ano (aa).

As ações da Vale (VALE3) subiram 2,29% e da Petrobras (PETR3 e PETR4) avançaram 2,04% e 2,47% em meio ao corte de 6% no preço de venda do gás de cozinha (GLP) para as distribuidoras e do aumento do petróleo. Os bancos subiram em bloco, após a baixa da véspera.

O principal índice da B2 subiu 1,90%, aos 114.070,48 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro avançou 1,94%, aos 114.790 pontos. O giro financeiro foi de R$ 35 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos, disse que a Bolsa avança impulsionada “pelos papéis relacionados às commodities-petróleo e minério de ferro- e a interrupção do ciclo de alta da Selic deu um certo alívio descolando de Nova York”.

Acilio Marinello, coordenador de MBA da Trevisan Escola de Negócios, disse que a estabilidade da Selic refletiu positivamente no mercado. “A perspectiva de o IPCA encerrar em 6% no final do ano pode dar orientação em um período mais curto. O BC ainda deve manter o patamar elevado em mais duas ou três reuniões”.

Marinello afirmou que as ações ligadas ao minério de ferro e bancos ajudam o Ibovespa. ” A leitura do mercado é que com a manutenção dos juros nesse patamar reduz a inadimplência e beneficia o setor bancário”.

Mais cedo, Nicolas Farto, especialista em renda da Renova Invest, disse que o mercado interpretou de forma positiva o posicionamento do Copom.

“Já esperávamos os 0,75 da taxa de juros, mas foi levemente agressivo no sentido de que se for o caso volta a apertar a parte monetária, o que mostra que o BC está atento a eventuais movimentações que precise fazer, não à toa dois membros votaram contra o que é raro”.

Farto afirmou que agora os investidores ficam atentos com as projeções para ver quando a Selic começa a cair. “Esse movimento tende a beneficiar as varejistas, ontem já vimos um pouco disso; o fluxo estrangeiro segue positivo a despeito da alta de juros nos EUA”.

O dólar fechou em queda de 1,14%, cotado a R$ 5,1130. A moeda operou descolada do cenário de forte aversão global ao risco e temor de crise mundial, e foi impactada pelo forte fluxo estrangeiro no Brasil.

Segundo o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “nos descolamos muito lá de fora, e não apenas no câmbio. O fluxo está favorecendo mais a bolsa que o próprio câmbio”.

Borsoi entende que a aproximação entre o ex-Ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, que ocorreu na última segunda-feira, ainda surte efeito: “Se o Meirelles sinalizou apoio, é sinal de que houve alguma promessa na agenda econômica do Lula”, opina.

Além de classificar o tom do comunicado do Copom como hawkish (duro, propenso ao aumento dos juros), Borsoi adjetiva o tom do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) da mesma maneira, e alerta: “A economia mundial se aproxima de um ponto de inflexão, e estes momentos são complexos, difíceis de entender, faz com que todo mundo fique cauteloso”, contextualiza.

De acordo com o economista da Guide Investimentos, Rafael Pacheco, “o mercado está com maior aversão ao risco, o que tende a favorecer o dólar. Além disso, os juros maiores que o mercado precifica nos Estado Unidos – 4% ainda este ano -, sem perspectiva de redução em 2023, potencializam este cenário”.

Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “temos a tendência global de dólar mais forte, com o DXY (cesta de moedas desenvolvidas) próximo às suas máximas históricas”.

Abdelmalack explica que os altos juros praticados no Brasil e o intenso fluxo estrangeiro tornam são fatores que tornam o Brasil atrativo: “O real é uma das únicas moedas que consegue se manter valorizada em relação ao dólar, especialmente entre os emergentes”, aponta.

Outros pontos que contribuem para este cenário doméstico positivo são a desaceleração da China, o descontrole inflacionário nos Estados Unidos e o conflito na Ucrânia, o que tornam o Brasil uma boa opção para os investidores, explica Abdelmalack.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda com mercado local descolado dos riscos externos.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,675% de 13,735% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,785%, de 13,085%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,485%, de 11,740% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,190% de 11,365%, na mesma comparação.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo negativo, com os mercados em desordem depois do anúncio do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de subir as taxas de juros e comentários subsequentes do presidente Jerome Powell.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,35%, 30.076,68 pontos
Nasdaq 100: -1,37%, 11.066,8 pontos
S&P 500: -0,84%, 3.757,99 pontos

 

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA