Bolsa fecha em alta com reforma tributária e cenário de juros em dia pesado para commodities; dólar cai

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São Paulo – Apesar da queda forte das commodities, Vale (VALE3) e Petrobras (PETR 3 e PETR4), a Bolsa fechou em alta, no patamar dos 119 mil pontos, não visto desde agosto, em dia de cenário interno favorável com a aprovação do texto-base da reforma tributária na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, enfatizando que é apropriado o ritmo de corte da taxa básica de juros (Selic) em 0,50 ponto porcentual (pp) e a ata da última reunião Comitê de Política Monetária (Copom) agradando o mercado.

Com a queda na curva de juros futuros, as ações das varejistas foram beneficiadas e dispararam. Magazine Luiza (MGLU3) liderou os ganhos, saltou 23,77%; Casas Bahia (BHIA3) avançou 11,76% e Grupo Soma (SOMA3) acelerou 7,58%.

O setor bancário também subiu refletindo o balanço do Itaú Unibanco (ITUB4) do 3T23. Itaú avançou 2,80%. Na ponta negativa, Vale (VALE3) caiu 1,98% e Petrobras (PETR 3 e PETR4) perdeu 2,20% e 1,66%.

O texto-base da reforma tributária foi aprovado por 20 votos favoráveis e 6 contrários e, amanhã (8), segue para o plenário do Senado.

O principal índice da B3 subiu 0,70%, aos 119.268,06 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro registrou alta de 0,56%, aos 120.530 pontos. O giro financeiro foi de R$ 28,2 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam no positivo.

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, disse que o cenário doméstico puxada a Bolsa para cima.

“As falas do Lira [Arthur Lira, presidente da Câmara] e do Pacheco [Rodrigo Pacheco] ontem vão na linha com a aprovação da reforma tributária hoje, além disso as falas do Campos Neto, mais cedo, sinalizando a queda de 0,50pp na Selic contribuíram para o bom humor”.

Stefany Oliveira, analista da Toro Investimentos, disse que o Ibovespa tem resistência na faixa dos 119,7 mil pontos a 120 mil pts.

“Se conseguir romper essa região, o próximo ponto de atenção é o patamar dos 122,5 mil pontos; se a queda do rendimento dos treasuries e do DIs continuar amanhã, é possível que o movimento comprador na Bolsa permaneça”.

Vinicius Steniski, analista de ações do TC, disse que “a queda dos juros futuros beneficia alguns setores da Bolsa, como as varejistas, com destaque para Magazine Luiza, e de construção civil; o setor de bancos também ajuda a impulsionar o índice; Vibra (VBBR3) reportou resultado acima do esperado e avança na sessão de hoje; o recuo das commodities acaba segurando o índice pelo peso que as ações têm na composição do Ibovespa”.

Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que o Ibovespa sobe impulsionado pela ata do Copom e tramitação da reforma tributária, o avanço não é maior por conta das commodities.

“A Vale e Petrobras impedem que a Bolsa tenha uma alta exponencial; o mercado gostou da ata do Copom, que veio em linha com as expectativas, sinalizando quedas de 0,50pp e o avanço da reforma tributária é positivo; é necessário passar as pautas para ajudar o governo e o Banco Central”.

Mota comentou que o resultado do Itaú sempre surpreende positivamente e impulsionou muitos ativos que estavam amassados, como o Bradesco. A expectativa que o banco volte a trazer bom desempenho como antigamente”.

O operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que mais cedo as falas do presidente Lula trouxeram um pouco de volatilidade, mas não faz preço.

“O presidente sinalizou sobre aumentar o Minha Casa, Minha Vida [programa habitacional], as construtoras estão perfomando bem, mas o mercado fica em alerta sobre projetos do governo, principalmente depois das declarações [do presidente] de não perseguir a meta de déficit zero, os ativos linkados à parte interna estão com bom desempenho”.

Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, disse que a ata do Copom, divulgada mais cedo, foi mais hawkish que o esperado.

“O BC deu ênfase às incertezas do cenário inflacionário externo e toda dinâmica da curva de juros americana e, no doméstico, citou aumento das incertezas a respeito da alteração da meta primária para o ano que vem; segue defendendo uma política contracionista e vejo pouco espaço para uma aceleração de 0,50pp”.

O dólar comercial fechou em queda de 0,28%, cotado a R$ 4,8730. A moeda refletiu, ao longo da sessão, a melhora do humor global, com a perspectiva de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) possa antecipar para o final de 2024 o início do corte nos juros, e o fiscal doméstico menos ruidoso.

Segundo o sócio da Pronto! Invest Vanei Nagem, a expectativa é boa, com o sentimento de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) não suba mais os juros: “Parece que a pior fase já passou e 2024 será um ano de recuperação”.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “existe certo descolamento com o dólar subindo perante outras moedas”.

Borsoi entende que o mercado reflete as falas com tom mais “suave” do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, que focou mais nas questões externas: “Mercado local não é um impeditivo para cortar os juros, o que é bem visto. Cenário doméstico parece bem redondo”, opinou Borsoi.

Segundo o economista André Perfeito, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na manhã de hoje, “reitera a visão cautelosa da Autoridade Monetária reforçando assim a perspectiva que o corte total da Selic (taxa básica de juros) não será tão grande quanto o mercado incialmente espera. Mantenho a projeção de Selic terminal em 10,75% em 2024”.

Da mesma forma que o dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda. Isso refletiu a melhora tanto do humor global quanto do local.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,008% de 12,012% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,805% de 10,865%, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,610%, de 10,620%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,760% de 10,910% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em alta, desencadeando a maior sequência de vitórias em quase dois anos neste rali de novembro impulsionados pela queda nos juros projetados dos Treasuries.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,17%, 34.152,60 pontos
Nasdaq 100: +0,90%, 13.639,9 pontos
S&P 500: +0,28%, 4.378,38 pontos

 

Com Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Agência CMA