Bolsa fecha em alta com manutenção da meta fiscal zero e chance de Fed mais brando; dólar sobe

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São Paulo- Em dia de apetite ao risco, a Bolsa fechou em alta e no maior patamar em dois anos, em meio a um ambiente mais favorável doméstico com a notícia de que o governo não vai alterar a meta fiscal de déficit zero para 2024, a queda dos treasuries beneficiando os DIs e, consequentemente, as ações da economia doméstica que estavam descontadas.

Em relação ao exterior, a aposta do mercado de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) não vai aumentar mais os juros, depois dados econômicos abaixo do esperado, e expectativa de queda das taxas o ano que vem também ajudaram em um pregão de um certo ajuste após o feriado aqui.

O relator do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Daniel Forte, (União Brasil-CE) disse que o governo não mudará na meta fiscal de déficit zero em 2024, como defendia o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou que o governo nunca teve essa iniciativa para alterar a meta.

As ações da economia doméstica subiram. Magazine Luiza (MGLU3) disparou 24,43% e o Grupo Casas Bahia (BHIA3) avançou 11,53%.

Os outros destaques ficaram para os papéis de siderurgia e mineração, como Usiminas (USMI5) e CSN (CSNA3), que subiram 7,21 % e 6,91%. “Não existe nenhuma notícia específica para as ações, quando a bolsa estava em queda devido à preocupação com juros lá fora e China, elas foram penalizadas. Com o minério em patamar elevado, elas se beneficiam e ser stop de quem estava vendido”, disse Bruna Sene, analista da Nova Futura Investimentos.

Na contramão, as petroleiras caíam seguindo a cotação do petróleo no mercado internacional. Petrorio (PRIO3) liderou as perdas em 3,53%. Petrobras (PETR 3 e PETR4) perdeu 2,01% e 1,74%.

O principal índice da B3 subiu 1,19%, aos 124.639,24 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro avançou 0,86%, aos 125.710 pontos. O giro financeiro foi de R$ 34,3 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistas.

A analista da Nova Futura Investimentos disse que um conjunto de fatores internos e externos ajudam o apetite ao risco.

“A percepção, por enquanto, é que o governo não deve alterar a meta e o mercado monitora a reunião do Haddad com algumas autoridades do governo [ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, e ministra de Gestão e Inovação em Serviços Públicos] , além disso os indicadores econômicos que estão saindo este mês, CPI e PPI abaixo do esperado, e dados do mercado de trabalho ajudam a sustentar a tese de que novas altas de juros nos EUA seriam mais difíceis; vale ressaltar que este mês tivemos três pregões em queda leve, o Ibovespa acabou segurando o suporte dos 112 mil pts, e de 11 de novembro pra cá vem em uma toada de recuperação, a entrada de fluxo de estrangeiro tem sido considerável. Com ambiente mais favorável, o mercado aproveita para fazer um rali”.

Larissa Quaresma, analista Empiricus Research, disse que a Bolsa está em um movimento de ajuste por conta do feriado aqui puxado pelo dado de inflação ao produtor dos Estados Unidos ontem.

“O mercado lá fora se animou ontem com o PPI e, hoje, de certa forma é um ajuste refletindo o indicador que veio pela primeira vez com deflação. Os DIs caem bastante, praticamente fechando em todos os vértices, o Indice Small Cap subindo. Esse movimento de risk on favorece as ações da economia interna; o mercado vende os papéis ligados ao dólar e velha economia e comprando relacionado ao cíclico doméstico”.

Larissa acrescentou que os indicadores norte-americanos têm dado sinal de que o Fed pode parar o ciclo de alta.

“O PPI abaixo do esperado, dado de varejo mostrou contração, payroll, CPI abaixo das projeções vão corroborando para a tese de que o Fed não precisaria mais subir os juros e o mercado vem antecipando quando o bc americano começará a cortar os juros; isso é muito bom para o Brasil porque facilitaria a vida do BC, é mais fácil continuar cortando a Selic ou até mesmo acelerar a redução da taxa se tiver um Fed e uma curva de juros lá fora mais calmos”.

De acordo com um analista de uma gestora, a Bolsa está “ajustando a alta de ontem no exterior e o fluxo estrangeiro voltou pra B3”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,16%, cotado a R$ 4,8697. A moeda mostrou volatilidade ao longo da sessão, após o feriado nacional de ontem. O ambiente global, contudo, é positivo, com o mercado precificando que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) não voltará a subir a taxa básica de juros.

Segundo o sócio da Top Gain Leonardo Santana, “o mercado está otimista, apostando que os cortes comecem em maio”.

Para o head de Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, o movimento está em linha com as Treasuries, o que estimula o carry trade e o fluxo estrangeiro.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda. Isso teve reflexo direto do alívio nas Treasuries, já que as apostas para que o início do corte nos juros norte-americanos comece já no primeiro semestre de 2024 ganham força.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 11,978% de 11,982% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,500% de 10,555%, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,210%, de 10,285%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,340% de 10,410% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão com poucas mudanças, com as fortes perdas no setor de energia pesando enquanto os investidores viram uma pausa no rali deste mês.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,13%, 34.945,47 pontos
Nasdaq 100: +0,07%, 14.113,7 pontos
S&P 500: +0,11%, 4.508,24 pontos

 

Com Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Agência CMA