Bolsa fecha em alta com IPCA abaixo do esperado, perspectiva de queda dos juros e otimismo com arcabouço fiscal

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São Paulo- A Bolsa fechou em forte alta de 4,28%, subiu mais de 4 mil pontos com os investidores animados após o Indice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), inflação oficial do País, desacelerar em março para 0,71% ante a alta de 0,84% em fevereiro e uma aposta de redução da taxa básica de juros (Selic). Atualmente a Selic está em 13,75% ao ano (aa) e gera muita crítica por parte do governo.

Os agentes financeiros também veem com otimismo o andamento da proposta do arcabouço fiscal.

O principal índice da B3 subiu 4,28%, aos 106.213,76 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril avançou 4,31%, aos 106.505 pontos. O giro financeiro foi de R$ 32,1 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistas.

Guilherme Lamonica, especialista em investimentos e sócio da Matriz capital, disse que o motivo principal para a alta da Bolsa “foi a surpresa positiva com o IPCA abaixo do esperado”.

Os destaques positivos ficaram para as ações sensíveis a juros, como as aéreas e varejistas. Magazine Luiza (MGLU3) subiu 12,83%; Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) avançaram 17,13% e 13,80%.

O setor de mineração e siderurgia tiveram forte valorização. Vale (VALE3) aumentou 5,27%. Usiminas (USIM5) subiu 6,76%.

Os papéis da Minerva (BEEF3) caíram 1,29% “por falta de fluxo atrativo para o papel”, disse Lamonica.

Nicolas Farto, sócio e head de renda variável da Vértiq Invest, disse que a Bolsa ainda reflete a fala do Lula de ontem sobre o arcabouço fiscal e segue capturando o movimento mais otimista com a inflação abaixo do esperado.

“O Lula elogiando o Haddad e acreditando que o arcabouço vai ser aprovado acabou soando bem, parece uma melhora no ambiente fiscal; a grande expectativa do mercado é de que a Selic deva cair em algum momento, com essa desaceleração do IPCA abre espaço para que o discurso do BC fique mais suave e melhora o ambiente de risco, por aqui, e permitindo que alguns ativos fiquem mais interessantes”.

Farto reforçou que “aqui o foco está no arcabouço fiscal e à medida que vemos a evolução nesse assunto, o texto sendo protocolado e aparentemente uma discussão para aprovar, isso tende a tirar a incerteza do ar e abrir espaço para a queda da Selic, que é o principal driver”.

Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha, disse que o cenário doméstico com a inflação abaixo das expectativas e as commodities com notícias da China puxam o índice. “Notícias de que a China vai continuar a fazer políticas incentivadoras principalmente no setor de construção civil favorecem as empresas de commodities e, internamente, o IPCA mostrando desaceleração animou nosso mercado e fez com que a curva de juros fechasse em todos os vértices, levando o setor de varejo performar bem”.

Caio Henrique Soares Rodrigues, especialista em investimentos, disse que o mercado reagiu bem à desaceleração da inflação em março, mas acha prematura dizer em uma redução da Selic nas próximas reuniões. “O mercado estava em busca de qualquer notícia positiva para reagir e de qualquer movimento deflacionário para agir dessa maneira nos ativos, a Bolsa vem depreciada por movimentos internos e externos; acho precipitado falar em queda da Selic porque tem muita coisa na mesa, sou cético nesse sentido, são movimentos cíclicos, ainda mais com o RCN se adequando com o novo governo, mas os DIs estão precificando, o mercado está dando preço nisso”.

Rodrigues disse que o setor de metalurgia e siderurgia estão subindo bem refletindo o relatório do FMI [Fundo Monetário Internacional]. “O documento fala de uma recuperação mais forte para a China; isso se dando, as conversas entre os dois países podem gerar mais exportações para o país asiático, o que nos favorece e o mercado está dando preço nisso”.

Mais cedo, segundo um gestor de investimentos de um grande banco, o resultado do IPCA “puxou o futuro e os juros futuros estão caindo, o que aumenta a chance de uma redução na taxa Selic em 0,25 ponto porcentual (pp) na próxima reunião do Copom [2 e 3 de maio] ou na seguinte”.

O dólar comercial fechou em queda de 1,16%, cotado a R$ 5,0070. Isso foi reflexo da animação do mercado com a desaceleração da inflação e o avanço do arcabouço fiscal.

Segundo o sócio fundador da Pronto! Invest Vanei Nagem, “o Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi muito bom, apesar da sazonalidade. Vai começar a pesar o pensamento de cortar os juros, não tem como”.

Para o economista da BlueLine Investimentos Flávio Serrano, “o noticiário de que algumas travas adicionais no texto do arcabouço fiscal que será enviado ao Congresso, como a limitação do excedente primário que vai virar investimento adicional, são positivas para o fiscal em curto e médio prazo. Acaba sendo um arcabouço bom”.

“Há o sentimento positivo da leitura do IPCA, de uma possibilidade de corte dos juros mais próxima. É um dia bom para o mercado brasileiro”, avalia Serrano.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) caíram durante todo o pregão de hoje por conta dos dados do Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março divulgados durante a manhã. O arcabouço fiscal avançando, com travas no texto que restringem os investimentos do Estado em R$ 25bi, também acalmaram os investidores.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,135% de13,215% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 11,775% de 11,975%, o DI para janeiro de 2026 ia a 11,600 %, de 11,840%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,740% de11,970% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo misto, com o Nasdaq tendo o pior desempenho, à medida que o setor de tecnologia perde força enquanto os investidores aguardam os dados de inflação e o início da temporada de balanços nesta semana.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,29%, 33.684,79 pontos
Nasdaq Composto: -0,43%, 12.032,0 pontos
S&P 500: -0,00%, 4.108,94 pontos

 

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA