Bolsa fecha em alta com bancos e Petrobras, de olho no Congresso e nos balanços domésticos

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Gráfico de ações // Créditos: Pexels/Tima Miroshnichenko

São Paulo – Mesmo diante da expectativa de manutenção de juros altos por mais tempo nos Estados Unidos e juros futuros em alta, acompanhando os juros lá fora, a Bolsa brasileira buscou uma recuperação na segunda parte da sessão e fechou em alta. O principal índice de B3 operou em queda boa parte da manhã, com o mercado digerindo novas falas ‘hawkish’ do presidente do Fed em entrevista concedida no final de semana e PMI acima da média nesta segunda-feira que, somados aos dados de emprego acima do esperado na última sexta-feira, resultaram em aumento dos prêmios na curva de juros no Brasil. A expectativa de notícias de Brasília, com a volta do recesso parlamentar, também deixava o mercado cauteloso.

O presidente do Federal Reserve (Fed) foi claro: o banco central dos Estados Unidos continuará sendo prudente ao tomar decisões de política monetária. A cautela será a nota dominante nas reuniões do Comitê de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) e nas discussões sobre possíveis cortes nas taxas de juros, disse Jerome Powell, alertando que é provável que a Fed realize cortes, mas em menor quantidade do que o mercado atualmente prevê. Ele expressou essas opiniões em uma entrevista à ‘CBS’, aproveitando para reforçar a ideia que já havia mencionado na semana passada, após a reunião do Fed: “Queremos apenas um pouco mais de confiança antes de dar esse passo tão importante de começar a reduzir as taxas de juros”, enfatizou.

O índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) sobre a atividade do setor de serviços dos Estados Unidos subiu para 52,5 pontos em janeiro, de 51,4 pontos em dezembro, de acordo com dados revisados do S&P Global. A previsão era de 52,9 pontos. Leituras acima de 50 pontos sugerem expansão da atividade, enquanto valores menores apontam contração. O PMI composto, que agrega dados sobre a atividade industrial, de serviços e de construção, subiu para 52 pontos em janeiro, de 50,9 em dezembro.

Mais cedo, o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues, confirmou pela manhã que os ministros das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e da Fazenda, Fernando Haddad, se reunirão nesta terça-feira (6) com os líderes do governo na Câmara e no Senado para tratar da MP da desoneração e outros pontos da pauta econômica. Os encontros ocorrerão às 15h com os representantes da Câmara e às 16h30, 17h com os senadores.

Na reabertura dos trabalhos no Congresso, o mercado avalia a relação mais tensa entre Executivo e Legislativo neste início de 2024. A mensagem do presidente Lula trouxe um tom mais ameno, destacando o trabalho em conjunto. O presidente da Câmara, Arthur Lira, no entanto, tocou em assuntos de atrito como o cumprimento de questões como a desoneração da folha de pagamentos. Já o senador Rodrigo Pacheco, líder do Congresso, lembrou do compromisso em discutir os gastos públicos.

Em seu discurso na sessão solene de abertura do ano legislativo, Lira disse que “errará grosseiramente qualquer um que aposte numa suposta inércia desta Câmara dos Deputados neste ano de 2024, seja por conta das eleições municipais e da eleição da presidência dessa casa, apenas em 2025. Não subestimem os membros do parlamento e dessa legislatura.”

Ele argumentou que o Congresso cumpriu os acordos firmados com o Governo federal, no ano passado, com a aprovação da reforma tributária, entre outros projetos, e exigiu “o cumprimento a conquistas como a desoneração e o Perse.”

O dia também foi marcado por resultados do quarto trimestre do setor financeiro, com BTG Pactual e BB Seguridade mostrando forte desempenho no quarto trimestre, que animou os investidores à espera dos números de Cielo e Bradesco, após o fechamento dos negócios desta segunda-feira.

O principal índice da B3 encerrou a sessão em alta de 0,32%, aos 127.593,49 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro avançou 0,18%, aos 127.815 pontos. O volume financeiro do mercado foi de aproximadamente R$14,8 bilhões. Em Nova Iorque, as bolsas fecharam em queda.

Entre as ações mais negociadas, Vale (VALE3) fechou em queda de 0,86%, seguindo a baixa do minério de ferro no exterior. Já os ativos da Petrobras fecharam estável (PETR3) e em alta de 0,43% (PETR4), com a alta dos preços dos contatos futuros do petróleo nesta segunda-feira, depois de os Estados Unidos terem lançado ataques retaliatórios no Iraque e na Síria contra as forças iranianas e os seus aliados durante o fim de semana, aumentando o risco de que o Oriente Médio esteja caminhando para um conflito mais amplo. Os traders também esperam que a companhia pague dividendos na apresentação do balanço do 4T23.

Os bancos subiram em bloco, favorecendo a alta do índice. O Itaú (ITUB4), que divulga seus resultados após o fechamento do pregão e tem forte peso no Ibovespa, fechou em alta de 1,89%. As ações do Bradesco (BBDC3; BBDC4) também subiram perto de 2% hoje com notícia de reestruturação de sua diretoria executiva.

A ação do BB Seguridade fechou em alta de 1,34%, após o balanço do quarto trimestre. Estimulado pela redução da sinistralidade na operação de seguros, crescimento das receitas de corretagem e aumento dos volumes arrecadados em previdência e capitalização, o lucro líquido da BB Seguridade cresceu R$ 1,8 bi em 2023, totalizando R$ 7,9 bilhões. Considerando apenas o período de outubro a dezembro (4T23), o lucro líquido alcançou R$ 2,1 bi, crescimento de 18,8% sobre o 4T22.

“Embora o resultado financeiro tenha apresentado um bom desempenho em 2023, representando 21,1% do lucro, favorecido pela deflação do IGP-M e pela marcação a mercado positiva nas posições em títulos de renda fixa, a maior contribuição para o crescimento do lucro veio do resultado operacional não decorrente de juros, que cresceu 17,6% e superou o intervalo de crescimento divulgado pela Companhia no Guidance 2023”, disse a empresa.

Rodrigo Caetano, analista da Toro Investimentos, em NY, os mercados reagiam às falas de Powell, que sinalizou que há grandes chances de não ter mais seis cortes de juros em 2024, conforme o mercado projetava e que o Fed deve agir em um ritmo mais lento que o esperado. Com isso, os títulos do tesouro americano de dez anos subiram mais de 4%. “O bom desempenho do Ibovespa é reflexo da alta dos bancos, especialmente o Bradesco, que sobe mais de 2%. Outros ativos com destaque no dia foram a JBS (JBSS3:+2%), que subiu com a boa perspectiva de resultados para o quarto trimestre de 2023, após a Tyson Foods, sua principal concorrente no segmento, reportar resultados acima das expectativas de mercado; e Arezzo e Grupo Soma, que confirmaram a fusão e devem formar uma gigante do mercado, com valor aproximado de R$ 13 bilhões”, comentou.

O mercado também reagiu positivamente ao BTG Pactual (BPAC11:+0,84%), que divulgou seu balanço antes da abertura e mostrou bom desempenho no 4T23. Entre setembro e dezembro do ano passado, o banco registrou lucro líquido ajustado de R$ 2,8 bilhões, alta de 61% na comparação com o mesmo período de 2022. Em comparação ao ano fiscal de 2022, o lucro líquido foi de R$ 10,4 bilhões, alta de 25%. O retorno sobre patrimônio médio (ROAE) ajustado cresceu 6,7 pontos percentuais na comparação com o mesmo período de 2022, fechando a 23,4%. No ano passado, o ROAE fechou em 22,7%.

Para Leandro Petrokas, sócio da casa de análise Quantzed, as quedas vistas nas ações de Locaweb (LWSA3), Cogna (COGN), Casas Bahia (BHIA3) e Azul (AZUL4) refletem a sensibilidade desses ativos às variações das taxas de juros (DIs), que subiram em bloco no dia de hoje, o que prejudica essas empresas. “A Azul cai pela alta nos juros, bem como, com receio do mercado em relação ao setor depois do pedido de recuperação judicial da sua principal concorrente, a Gol. Em relação à Casas Bahia, o mercado segue sem acreditar no case. A empresa está muito endividada e com margens apertadas. Já Cogna, em relatório divulgado pela XP na semana passada, é a única do setor educacional sem recomendação de compra.”

Outra queda é de Magazine Luiza (MGLU3) com o mercado ainda reticente se o aumento de capital por meio de subscrição privada será suficiente para salvar o caixa e as operações da empresa, que segue muito endividada e sofrendo com a concorrência, pontua.

Entre as altas, o analista destacou a das ações do Bradesco (BBDC3; BBDC4), que subiram perto de 2% hoje com notícia de reestruturação na gestão e da Weg (WEGE3:+2,05%), com recomendações positivas de casas de análise motivadas por potencial benefício do programa de estímulo para a indústria anunciada recentemente pelo governo e pelo investimento de R$ 16 bilhões anunciado até 2026 anunciado pela Volkswagen.

As ações de Arezzo e Grupo Soma operaram boa parte do pregão em forte alta, após a confirmação da fusão nesta segunda-feira, que cria uma nova companhia com um faturamento próximo de R$ 12 bilhões. No fim do pregão, no entanto, os ativos fecharam em forte queda (ARZZ3:-5,49% SOMA3:-6,74%) e ficaram entre as piores baixas do Ibovespa.

O dólar comercial fechou em alta de 0,27%, cotado a R$ 4,9811. A moeda refletiu, ao longo da sessão, o temor de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) demore mais do que o previsto pelo mercado para iniciar o corte da taxa básica de juros.

De acordo com o sócio da Top Gain Leonardo Santana, “esta semana gira muito em torno das falas do Fed boys. O payroll, na sexta, deu um banho de água fria no mercado”.

Santana, contudo, entende que o fortalecimento da divisa estadunidense é pontual: “Acredito no dólar a R$ 4,70 ainda neste semestre, no mais tarde ao final de 2024”, projeta.

Para o economista-chefe da chefe da Mirae Asset, Julio Hegedus Netto, o movimento de hoje ainda reverbera falas do (presidente do Fed, Jerome) Powell, ontem, e os resultados robutos do payroll, divulgado na última sexta: “A entrevista do Powell praticamente enterrou a possibilidade de iniciar os cortes dos juros em março, pressionando as Treasuries e gerando volatilidade pro aqui”, avalia.

“Ontem, Powell, em entrevista ao programa 60 Minutes, adotou discurso mais cauteloso, em linha com a coletiva pós decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês). Destaques para: trabalho de redução da inflação não está concluído, e o Fed tem de conduzir cuidadosamente sua política; reafirmou ser improvável redução de juros até mar/24; e não se espera qualquer mudança drástica nas projeções dos membros do Fomc, que mostravam FFR em 4,6% no final de 2024”, contextualiza a Ajax Asset.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em alta seguindo os Treasuries (títulos do Tesouro norte-americano). O movimento ainda é extensão do estresse gerado pelo payroll, na sexta. Ontem, ainda, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, deu uma entrevista para um programa de TV dos Estados Unidos falando sobre a necessidade de cautela com a redução dos juros no país. Por volta das 16h30 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 9,985% de 9,965% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 9,730% de 9,680%, o DI para janeiro de 2027 ia a 9,900%, de 9,750%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 10,160% de 10,105% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar comercial operava em alta, cotado a R$ 4.9847 para a venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão desta segunda-feira em queda, em meio a um aumento nos rendimentos do Tesouro, à medida que crescem temores em relação à postura futura do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) sobre as taxas de juros.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,71%, 38.380,12 pontos
Nasdaq 100: -0,20%, 15.598 pontos
S&P 500: -0,31%, 4.942,81 pontos

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Larissa Bernardes / Agência CMA

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