Bolsa despenca e dólar sobe com segunda onda da covid-19

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São Paulo – O Ibovespa voltou a acelerar perdas no fim do pregão e encerrou na mínima do dia, com perdas de 4,25%, aos 95.368,76 pontos, depois que a França se juntou à Alemanha e anunciou novas medidas de bloqueio nacional para conter a disseminação da segunda onda de coronavírus.

O receio de que as novas medidas de restrição impactem a recuperação da economia global derrubou Bolsas pelo mundo e fez o índice fechar em baixa pelo quarto pregão seguido, na maior queda percentual desde o dia 24 de abril (-5,45%) e no menor patamar de encerramento desde o dia 2 de outubro (94.015,68 pontos). O volume total negociado foi de R$ 32,2 bilhões.

“Hoje é um dia clássico de fuga de ativos de risco, com quedas generalizadas das Bolsas. A segunda onda de covid-19 está atingindo vários países europeus e estados norte-americanos e o grande ponto é se a economia não irá mais se recuperar em ‘v’, mas em ‘w'”, disse o responsável pela mesa de futuros da Genial Investimentos, Roberto Motta, em live.

O presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou há pouco um “lockdown” nacional, a partir de sexta-feira. A Alemanha também anunciou hoje que fechará bares e restaurantes em novembro, enquanto a Itália e a Espanha já haviam tomado medidas mais duras. A Bolsa de Frankfurt caiu mais de 4%, liderando as perdas das Bolsas europeias.

Os mercados acionários norte-americanos, por sua vez, fecharam com desvalorizações superiores a 3%. Além do receio da segunda onda do coronavírus, o presidente Donald Trump admitiu que não haverá pacote de estímulos fiscais antes das eleições presidenciais do dia 3 de novembro, que por si só já trazem incertezas e volatilidade.

Não bastasse o cenário complexo no exterior, os analistas destacaram ruídos trazidos pelas falas do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que afirmou ontem que a própria base do governo estaria criando resistências ao avanço da agenda de reformas e votações na Casa, embora já não se espere avanços em meio às eleições municipais.

“Estamos quase que em uma angústia, já que é muito difícil sair alguma coisa no Congresso esse ano. Mas era preciso pelo menos uma sinalização sobreo orçamento do ano que vem”, disse o fundador e CIO da Chess Capital, Vicente Matheus Zuffo.

Mesmo a temporada de balanços, que tem mostrado dados positivos, não ajudou o índice hoje, com todos os papéis que compõem o Ibovespa encerrando em baixa.  As maiores quedas do índice foram da Cielo (CIEL3 -11,39%), da Azul (AZUL4 -9,81%) e da CVC (CVCB3 -9,66%). Os papéis de turismo e aviação sentiram o impacto de novas restrições.

Amanhã, além de continuar monitorando o avanço da pandemia, investidores devem repercutir a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) e balanços que ainda serão divulgados hoje, como os da Vale, Petrobras e Bradesco. Além disso, há uma série de indicadores na zona do euro e a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE). Nos Estados Unidos, os destaques serão os pedidos de seguro-desemprego e a leitura preliminar do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre.

O dólar comercial fechou em forte alta de 1,44% no mercado à vista, cotado a R$ 5,7650 para venda, no maior valor de fechamento desde 15 de maio (quando encerrou a R$ 5,8410), em sessão de aversão ao risco no exterior reagindo ao endurecimento das medidas de isolamento social na Europa, como na Alemanha e na França, diante o avanço do novo coronavírus no continente, o que eleva as incertezas em relação à recuperação econômica da zona do euro e global.

“O pano de fundo é a covid-19, com países retrocedendo no processo de reabertura das economias [em meio à segunda onda de contaminação], impondo um ajuste dos ativos que esperavam recuperação econômica”, comenta a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.

Ela reforça que começa a surgir uma apreensão com o resultado da eleição presidencial nos Estados Unidos, na terça-feira. “A ansiedade pré-eleição norte-americana aumenta e pesa nos preços”, acrescenta o consultor de câmbio da corretora Advanced, Alessandro Faganello.

Daqui a pouco, sai a decisão de política monetária do Banco Central (BC), no qual a aposta do mercado é de manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 2,00% pela segunda reunião seguida. Para a profissional da Veedha, o foco dos investidores é no comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) com a avaliação do cenário econômico.

Já a equipe econômica do banco Fator ressalta que o Copom, provavelmente, vai alterar a prescrição futura de haver espaço para mais queda da Selic. “A análise da inflação corrente e da inflação esperada vai confirmar a manutenção da mesma na meta, sendo um pouco mais ‘dovish’ [suave] do que os analistas enxergam, principalmente, pela leitura apressada do IPCA-15”, avalia.

Na semana passada, o resultado da prévia da inflação oficial (medido pelo IPCA-15) de outubro disparou 0,94% ante setembro, na maior alta para o mês desde 1995.

Amanhã, com a agenda de indicadores pesada, tendo destaque a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) e a leitura preliminar do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano no terceiro trimestre, com expectativa de avanço de 32,0%, a expectativa é de valorização da moeda, às vésperas da eleição dos Estados Unidos e da formação de preço da taxa Ptax – média das cotações apuradas pelo BC – de fim de mês, destaca Faganello, da Advanced.

“Com todo esse cenário conturbado, é muito provável que o dólar siga se valorizando frente ao real. Não vamos ter uma reversão do quadro de covid-19 e do processo de reabertura das economias, não teremos uma reversão do cenário fiscal interno. Então, nada leva a crer que o dólar tenha um cenário mais otimista amanhã”, pondera a economista-chefe da Veedha.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em alta, porém longe das máximas da sessão, acompanhando o movimento do dólar, que passou a ser negociado abaixo de R$ 5,75 após o Banco Central realizar leilão à vista ainda pela manhã. Uma combinação de fatores negativos no Brasil e no exterior pesaram nos negócios, enquanto aguardam o desfecho da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), logo mais.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,51%, de 3,43% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 5,03%, de 4,88% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,70%, de 6,60%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,47%, de 7,43%, na mesma comparação.

A segunda onda de covid-19 varreu os mercados de ações ao redor mundo, fazendo com que os principais índices da bolsa de Nova York terminassem o dia em forte queda, pressionados pela preocupação com a recuperação da ainda frágil economia global. O Dow Jones recuou 900 pontos na pior performance desde 11 de junho.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -3,43%, 26.521,01 pontos

Nasdaq Composto: -3,73%, 11.004,86 pontos

S&P 500: -3,52%, 3.271,14 pontos