Bolsa cai 3% puxada por exterior e ações da Vale

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Foto de Lorenzo / Pexels

São Paulo – A Bolsa teve um dia de forte aversão ao risco e caiu 3,04%, aos 110.123,85 pontos, acompanhando o mercado exterior com a preocupação dos investidores em relação à inflação global e o impacto no crescimento das economias mundiais. Somado a isso, a fala do presidente do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano), Jerome Powell, no Congresso, sobre o pleno emprego estar longe de ser alçando também azedou o humor dos investidores. A secretária do Tesouro do país, Janet Yellen, também discursou no Congresso defendendo o teto da dívida dos Estados Unidos.
Por aqui, a queda do minério de ferro na China e as restrições ao uso do carvão no país levaram as ações das commodities ligadas ao setor despencarem. Os papéis da Vale (VALE 3) caíram 5,01%. A notícia divulgada pela Petrobras (PETR3 e PETR4) de um aumento do óleo diesel em quase 9%, nas refinarias a partir de amanhã, também provocou forte queda das ações, mas fecharam com recuo de 0,85% e 0,66%, respectivamente.
Armstrong Hashimoto, sócio e operador da mesa de renda variável da Venice Investimentos, comentou que os investidores estão receosos com a inflação em todo o mundo. “Existe uma preocupação com uma desaceleração global por crise de desabastecimento na Europa, que leva a uma expectativa maior de inflação por lá e a queda das commodities ligadas ao minério de ferro atemorizam o mercado e as falas do Fed deixam o mercado cauteloso”.
O sócio e operador da mesa de renda variável da Venice Investimentos afirmou que “o dia é de fuga por ativos de risco e vemos a procura por investidores por maior segurança como ouro, dólar e os juros americanos”.
Hashimoto também citou que o aumento do diesel pela Petrobras também gerou atenção no mercado local. “O anúncio da Petrobras e Lira [Arthur Lira, presidente da Câmara] sinalizando que a empresa deveria buscar maneiras diferentes de aumentar o preço com maior frequência, traz preocupação dos investidores por maior ingerência do governo”.
Em relação ao orçamento norte-americano se não for aprovado até quinta-feira na Câmara, “o principal impacto é o abalo na confiança do crescimento previsto, que pode dificultar ainda mais a retomada da economia, impedindo o governo de fazer investimentos por um certo período”, afirmou Ricardo Leite, head de renda variável da Diagrama Investimentos.
Embora do discurso de Powell já tenha sido antecipado na véspera, a fala de hoje afirmando que “estamos longe de atingir a máxima geração de empregos” acabou “não caindo muito bem no mercado” e as bolsas aqui e lá fora despencaram.
O head de renda variável da Diagrama Investimentos ressaltou que essa fala do Powell “mostra que o Fed deve antecipar a alta de juros e impactou o mercado como um todo”. A previsão de elevação da taxa de juros seria para o final de 2022/2023.
Leite salientou que “estamos vivendo uma época tão estranha que quando o país volta a gerar empregos, o mercado tomba porque tira os estímulos e isso mostra como a economia mundial está tão dependente dos estímulos dos bancos centrais globais”.
Leite também comentou que existe uma preocupação de como o mercado se comportará após a remoção dos incentivos e “se o crescimento vai acontecer de forma orgânica”.
Se Estados Unidos tirarem os estímulos e a China apresentar um o crescimento aquém do esperado influenciando as nossas exportadoras. “Certamente o crescimento brasileiro ficará comprometido com esses dois mercados mostrando desaceleração”.
O dólar comercial fechou em R$ 5,4260, com alta de 0,87%. A moeda norte-americana ganhou força ao longo da sessão devido às incertezas fiscais – como os precatórios – e políticas que continuam rondando o cenário doméstico, assim como o avanço da inflação.
Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “enquanto a questão fiscal não for resolvida, vamos sentir mais os fatores externos”. A economista considera primordial a solução para o orçamento de 2022: “Caso isso não aconteça, não vamos conseguir aprovar as reformas estruturais”, pontua.
A disparada da inflação hoje teve mais um capítulo, com a Petrobras aumentando o diesel em 8,90%, com o litro passando a custar R 3,06. Abdelmalack acha “muito difícil” o Banco Central (BC) conseguir atingir a meta inflacionária para o próximo ano, apesar dos esforços da instituição.
Já no mercado externo, existe uma fuga de capital, com o aumento dos juros futuros nos países desenvolvidos, enquanto o tapering (remoção de estímulos) se aproxima: “Em novembro devemos ter um cronograma de como essa retirada gradual irá ocorrer”, projeta Abdelmalack.
Segundo o economista-chefe da Sulamérica Investimentos, Newton Rosa, “isso é uma sinalização que o mercado já começa a se ajustar à chegada do tapering nos próximos meses. Isso reflete no dólar”. Além disso, o economista pontua que com o aumento dos juros futuros nos países desenvolvidos, os emergentes ficam menos atrativos a investimentos, diminuindo a entrada de capital estrangeiro.
“O real está se desvalorizando também por conta dos ruídos políticos e fiscais. A incerteza fiscal e risco inflacionário contribuem com a alta do dólar, e isso deteriora ainda mais o ambiente”, analisa Rosa. O economista também vê o risco de isenções fiscais com cunho populista que podem degradar ainda mais o cenário doméstico.
De acordo com o boletim matinal da Commcor, “os leilões extras de swap cambial tradicional anunciados pelo Banco Central (BC), iniciados ontem com a venda de 14 mil contratos, não foram suficientes para conter as pressões altistas no dólar”.
“O foco de hoje vai para a ata da última reunião do Copom e como o mercado irá digeri-la”, avalia a Commcor. O boletim enfatizou que a instituição está atenta ao crescimento da inflação, porém não pretende mudar seu “plano de voo”, segundo o presidente do BC, Roberto Campos Neto.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) de longo prazo fecharam em alta depois que a Petrobras anunciou aumento de 9% no preço do diesel, após 85 dias de estabilidade. Na outra ponta, a publicação da ata mais recente da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) reforça que a taxa básica de juros (Selic) vai subir no ritmo atual, e não de forma mais acelerada, mas para níveis possivelmente mais altos do que se previa.
Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 7,180%, de 7,155% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetou taxa de 9,165%, de 9,040%; o DI para janeiro de 2025 fechou em 10,270%, de 10,160% antes; e o DI para janeiro de 2027 finalizou em 10,670%, de 10,560%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam em forte queda com o Nasdaq em seu pior dia desde março, à medida que os juros projetados do tesouro norte-americano afugentaram os investidores das Big Techs.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -1,63%, 34.299,99 pontos
Nasdaq Composto: -2,26%, 14.632,00 pontos
S&P 500: -2,03%, 4.352,63 pontos